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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O primeiro sinal do muro em dia de temporal – back 85 again?









A chuva começa-nos a fustigar em Oronaniensrasse, nos limites do bairro turco e boémio, nos contornos da antiga fronteira (alguém já se lembrará disso?)
Eu lembro-me porque a solidão estimula a lembrança e o deambular solitário pelos baldios de Kreuzberg ficou gravado na minha memória individual – como provavelmente se encontrava adormecido na memória colectiva dos habitantes locais – essa é na minha maior recordação: indiferença e desleixo intencional
Na topologia dos terrores a História de Berlim emerge na actualidade dos subterrâneos do quartel das polícias secretas de Hitler, ao longo de um pedaço propositadamente mal conservado do principal muro de lamentações do século XX.
A largura dos espaços, a disposição experimentalista dos novos edifícios minimalistas – como se não quisessem distrair do essencial, a História – ajuda-nos a respirar, e faz respirar a cidade.
É sempre assim por toda a não fronteira: abrir os espaços, vedações inacabadas que se deixam interromper pelo verde dos jardins, destroços e memoriais que permanecem aqui e ali, aparentemente sem ordem definida ou determinada.
Lembrar os espaços fechados e a teimosia absurda dos Homens, mas deixando claro que se tratam de memórias e assumindo que todos os espaços são transitórios, enquanto ocupação do lugar, sobretudo em Berlim que a história o diga, sempre que somos centrais e a fúria dos acontecimentos insiste em por lá passar.
É esta a substância: transitoriedade, e um cuidado meticuloso em abrir os corredores da morte a espaços experimentais de lembrança serena.
De facto a única semelhança com o passado é a chuva intemporal que nos atormenta, fustigada a um vento de Leste, que hoje sopra como uma inusitada corrente de ar, reflexo moderno dos espaços abertos.

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