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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Copernicus



















Krakow lembra mais Copérnico que João Paulo II. 

Vibrante e irreverente – cidade universitária com centenas de anos de tradição e vontade – mas de aspecto austero (luterano?), com uma história de inusitada tolerância entre ciência e religião e (algumas vezes) entre religiões. 
O tema judeu é o mais complexo: dos mais de sessenta mil que o bem conservado bairro de Kazimierz chegou a albergar, só vivem hoje cerca de duzentos – pouco mais de trinta por sinagoga. 
A solução foi mesmo final para os judeus de Krakow, como a exposição permanente (na conservada fábrica de panelas de Schindler) brilhantemente documenta. 
Apesar dos mais de cinco séculos de coexistência pouco pacífica… três anos bastaram para extinguir um povo…e adiar quase um século o desenvolvimento de uma das mais promissoras cidades da Europa Central, no período entre guerras. 
Hoje Krakow apenas vive das memórias na justa medida em que seja importante para melhorar o futuro ou alimentara (nalguns casos mórbida?) curiosidade de quem paga viagens a Auchwitz, à fábrica de Schindler – quase tão famoso como Spielberg que globalizou este alemão que encontrou um sentido para a vida, no meio de um fenómeno de histeria colectiva - aos locais do comunismo (?!), às artísticas minas de sal, ao castelo Wawel. 
Ao longo das margens do Vístula, numa tarde solarenga de Domingo ou no fim de tarde quente e intimista no jardim dos professores, rodeado de estátuas ilustres e simuladores de experiências científicas, recordo-me quão as ideias de Copérnico foram bem aceites na Krakow católica (mas também académica e curiosa) da época, anos antes de Galileu ter sido engolido pela ignorância e pelas trevas, noutras latitudes, noutros lugares. 
O vento quente desta noite de Verão tardio, debaixo da sombra protectora da igreja de Santa Maria, e os sons e cores da praça central transportam-nos para o que se assemelha como mais um intervalo na inquieta e frenética História da Europa Central e Leste. 
Esperamos uma mais pacífica segunda parte.

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