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domingo, 26 de março de 2017

MAAT 9.0


Como todas as nossas grandes obras, foi-nos prometida muito antes de haver, sequer, um plano para a terminar.
Há sempre um argumento prático que nos empurra para uma qualquer explicação plausível, como seja, por exemplo, se estivermos à espera de ter tudo acabado, então nunca mais teremos nada pronto.

(E aguardamos ainda o prometido viaduto pedonal e a cafeteria panorâmica)

Tudo isto pode ser verdade, mas a ideia de que o dinheiro (ou a sua falta) é o nosso único pecado desmorona-se na certeza de que somos muito melhores a fazer promessas, do que a cumprir um plano.
Mas o MAAT 9.0 abriu mesmo no esplendor das suas membranas metálicas que refletem o rio e o céu e nas formas harmoniosas de uma onda que se construiu em terra.


(porque uma entrada custa 9 euros, 9.0 é uma alegoria – será metáfora? – sobre o preço que é necessário pagar por uma visão vanguardista do mundo, será cartel, será vanguarda ou será utopia de quem assegura, conseguir ver muito para além do tempo, é certamente uma dúvida  mesquinha para quem ainda e apenas imagina uma vanguarda (web) 4.0 – e preferiria pagar apenas 4 euros – ou se atreve a duvidar que o nosso futuro estará apenas no vento)

E, num único espaço, o MAAT expõe seis exposições que encarnam o espírito do manifesto, uma rebeldia quase insolente para um país que se antecipa (não disse assume) periférico.
Sem vergonha, aliás.
Comecemos pelo edifício. Bom são e continuarão a ser dois edifícios, facto que deixa a malta – pouca versada nestas questões de arte e arquitetura contemporânea – um pouco confusa, sobre por onde começar e o que escolher.
Primeiro, porque existem dois espaços que não se ligam – e sinceramente a única possibilidade de se ligarem seria por um acesso subterrâneo, portanto é melhor não arriscar estes terrenos pantanosos da tecnologia de construção –
Depois o edifício Central não é o central mas sim a central e o central é o MAAT.
Ainda depois, na central que não é central, o espaço expositivo é provavelmente maior e (de certeza) tem mais exposições do que no MAAT.
Finalmente há duas bilheteiras, uma em cada espaço, que vendem bilhetes para os dois espaços e na bilheteira do MAAT (o tal edifício central deste novo espaço de contemporaneidade) a fila (mediana) atravessa a entrada, serpenteia a porta da loja que, virada para o rio, mas escondida da saída, dificilmente exercerá de forma competente a sua função comercial.
Mas o que é fascinante na arte contemporânea (afinal de contas na arte) é a capacidade de ultrapassar os limites do explicável e do bom senso e surpreender-nos com visões abstratas que nos obrigam a procurar explicações e compreensões alternativas da realidade e, de preferência, raramente coincidentes entre si.



A arte não tem de ser auto explicativa, não tem de mostrar tudo, não tem de ser conclusiva e muito menos resumir-se a conclusões informativas e os autores – e sobretudo os curadores – não devem procurar explicar todas as peças, instalações, imagens e ilustrações
Retiram a subjetividade, a margem para opiniões alternativas e o debate interior de cada um.




E é isto que diferencia – para além da modernidade, do arrojo e da universalidade do espaço – a disruptiva e arrojada (antiga) Central do (novo) previsível, paternalista e manipulador MAAT em que todas as conclusões nos conduzem (quando expomos “as utopias e distopias” ou a “ordem e o progresso”) a uma trilogia simplista e mediática “ refugiados, extremismo e populismos e globalização”, encenada no princípio de que a forma (e os efeitos especiais) deve predominar sobre os conteúdos, e especialmente sobre os conceitos
Na velhinha e sempre central respira-se democracia em estado mais puro, porque gosto da ideia da arquitetura ter dimensões variáveis, de podermos livremente penetrar nas inconsistências do eu artístico, sem complexos de culpa, e dos deixarem a liberdade para refletirmos sobre o destino das pessoas, através das imagens de uma camara fixa e de uma breve introdução descritiva.
Ou mesmo, embrenharmo-nos na central elétrica e procurar decifrar, entre sombras e luzes coloridas, provavelmente sem sucesso, as origens e os significados pretendidos da pele liquida (liquid skin)




O (s) espaços (s) são soberbos.
Mas há aqui uma tendência (uma linha, diria) ténue que separa o passado (futurista e contemporâneo) de um futuro moldado pela forma e pelo mediatismo Manga.


Espero que não seja esta a interpretação de Manifesto.


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