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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Churraria Nuno


A cidade virou carrocel.
Longe e perto da nova atmosfera cosmopolita e internacional que valoriza o espaço e dilui as tradições, irrompem os locais improvisados da cultura popular, as cores desconcertantes da aldeia que construiu a cidade.
Despertam os velhos mágicos do entretenimento popular.
Os saltimbancos nómadas que trilham os longos invernos pelas estradas do interior, e que, escondidos da civilização e dos costumes urbanos, esperam o ano todo pelo Verão para poderem assentar arraiais e descobrir as suas efémeras raízes sedentárias.
Lançam as estacas que suportam a sua endurecida forma de vida e constroem o arraial dos outros.
Veem não se sabe bem de onde, desaparecem depois para voltar a despontar noutros locais tão óbvios quanto estes.














Encontram nas ruas e nas praças os seus únicos momentos a que podem chamar de casa e a cidade confronta-se com as suas origens rufias e tolera-os, pelos carrocéis, pelos sacos de pipocas, pelas luzes de néon e pelas barracas de tiro aos coelhos (ou a outra coisa qualquer).
Por breves momentos, até parece que a cidade readquire as suas origens e os seus cheiros.
Mas esta é a cidade dos carrocéis e a nova urbe sabe (sempre soube) que não os vai adotar.
Eles são apenas o sabor da festa anual e quando as multidões decidem que a festa acabou, desaparecem da praça, dos jardins e da beira-rio lembrando-lhes que terminou o seu tempo e varrem-nos do espaço porque é necessário recuperar os espaços verdes para as crianças da cidade (as mesmas que uivam nas diversões dos santos) e as ciclovias para o bem-estar de uma população tão ativa quão sedentária.

E a churraria Nuno parte para o próximo arraial até que o fim da estação os disperse para mais um Inverno de cores escondidas e envergonhadas origens.



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