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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Margem Sul



(Porque sou filho da margem sul)
(Porque, parece agora, que sempre vivi na outra margem)
Os regressos fortuitos despertam ambiguidades;
Primeiro, uma completa desorientação espacial
(os lugares conhecidos desaparecem da nossa planta visual)
e juramos que os lugares comuns da nossa memória se desvaneceram,
um túnel, um viaduto, que procuram camuflar a dependência da cidade pela ferrovia, a mesma linha férrea que sempre se intrometeu entre a cidade e o rio, agora despromovida a linha regional pelo comboio da ponte, um fórum comercial que entope a linha de fronteira entre a urbe e o complexo industrial que a fez crescer,entre as nuvens de enxofre,
(e nós que achámos que as pequenas mais giras do distrito, eram fruto do enxofre)
O lavradio, agora disputado entre os espaços comerciais e de lazer, as novas industrias de poluição controlada, os espaços de serviços de trabalho partilhado e uma ambição museológica que pretende abrir as vistas do rio, numa marginal devolvida a uma população.
Mas quando me aproximava do rio, das novas esplanadas das cidades históricas (aqui a industria foi a história) lembrei-me dos finos tubos que atravessam a apertada entre dois edifícios de um castanho entranhado, que só poderia ser no Barreiro.
Eram os mesmos tubos de um liquido qualquer, hoje transformados em estendal de todos os pássaros, mas que ali ficaram, para finalmente me situarem no espaço.
Eu conheço este lugar.
Sim, mais arejado pelos edifícios destruídos e pelo fumo, 
(sim lembro-me bem do fumo espesso de cheiro intenso)
Por debaixo das novas teias que a aranha (e a evolução dos povos) tece, estão os sinais de que a planta da cidade não foi rasurada.
E depois, fluíram todas as outras lembranças: o pavilhão da CUF, igual àquelas manhãs de Domingo em que competíamos de equipamentos amarelos à distância de duas tabelas de basquetebol, a paragem de autocarro junto à Câmara Municipal de onde saltávamos para a escurecida e decadente medicina desportiva, o estádio onde ainda me lembro de ver o Eusébio jogar, agora sem ter a certeza que é o mesmo, quase esventrado pelo final da via rápida, o cais dos barcos quando, a horas tardias esta era a única ponte para a outra margem.
E as lembranças não pararam de me relembrar as minhas origens...talvez por isso mesmo não me sinta estranho quando, de máquina fotográfica em punho, atravesso confiante a ombreira das portas das tabernas dos seres locais de copo de três e olhar oblíquo, na ostensiva esperança de me excluir de medo.
Mas eu sorrio para eles. 
Afinal sou da casa e já bebia imperial aos quinze.




quarta-feira, 13 de abril de 2016

"A Maravilha"

"Maravilha" - Leonel Moura

A LX Factory é um dos nossos locais de culto de experimentação
Voltar ao local da génese é redentor.
Mesmo apenas por momentos.
É também um milagre que o Cristo Rei encontre a sua simetria, a sua outra metade no local mais irreverente da cidade
Na outra margem, à distância de uma ponte.
À mercê de todas as interpretações, longe, perto, inacessível.
Enfrentando-o, no alto dos seus três metros e meio e das suas quinhentas peças de impressão 3D.
Desafiando a estrutura de betão do alto do corpo esbelto e colorido, representação de modernidade e vanguarda.
Transpondo mais de uma geração e abanando o dogma do Cristo só.
(Apenas uma simbologia fotográfica, apanhada por um ângulo feliz)
Trazendo o feminino para a foz do rio.
E saber que, de uma forma e de outra, também ajudámos a construir o sonho do artista.

" A Maravilha" abraça a outra margem

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Soap's Hour - Wild familly around the globe

Tudo começou depois de jantar...muito ao jeito de uma qualquer família Adams ou Simpson...




Um regresso chuvoso à cinzenta cidade do tijolo vermelho....
Como está a ser o dia? Shadow in the rain!


enquanto outros partiam, sol aberto, à procura das estrelas....
Já chegaste?
A 70 kms
Final da tarde. Ótimo tempo
Cuidado com o vento,pai!



Mano, és tu?
Está mais parecido contigo!
O hotel é bom mas tem portas transparentes...
Vou investigar
Palácio Real, 6:30 da manhã
Um bom dia, família diretamente da Plaza Mayor, 7:35 da manhã
Eu sei, fui eu que te enviei o programa!
Trocamos de fim de semana? 
Let's celebrate!




Vim tomar um café para não ficar o dia em casa...tempo mais ou menos
E como correu o vosso fim-de-semana?
Boring, meus filhos, sem vocês e a velha afanada....
Boring...
Está melhor mummy?



Só tenho de me assoar de vez em quanto!
Um feliz dia para vocês!
Bora Benfica
Ufa!
O quê? Outra vez sanita?
Hum
A mana chegou!
Soap's Hour!


A trama intensifica-se!
Perdi foi o sinal nos túneis de metro
E o Pessoa continua impávido no seu canto
O barão do crime e sua mummy...estás a ver que elas enganam, filho!
Mas a imagem meio decrépita do embrulho do chocolate rasgado a desafiar o café meio bebido, é boa.
O café não é meio bebido...é tão mau que só encho meio copo
Ups
Visão periférica 2...temos mais uma TV na sala
Reflexos...entendo eu!



Regresso para fim de semana...desvio marginal por causa de um derrame na A5...aqui um derrame de cor.
É a minha prenda especial de fim de tarde para vocês


Um dia de Sábado feliz para vocês



domingo, 10 de abril de 2016

Border Line



Olhado de fora, o bairro parece ignorar-te.
Como se fosses um drone, despojado de intensidade emocional e incapaz de interpretar uma imagem ou descodificar qualquer elemento dissonante que comprometa a sua intimidade.
Incapaz, pois, de produzir provas circunstanciais.
Olhado através da linha limítrofe, Alcântara parece uma cidade cercada, vigiada por um observador internacional, através dos postos de observação fronteiriços.
Ou Alcântara vista da Marginal
Do lado de dentro, as traseiras dos vestígios do bairro industrial, os sinais de reconstrução da nova centralidade cultural, e a vida das pessoas escondidas atrás das grossas portadas de madeira ou dos lençóis de cama de casal, pendurados nas varandas de ferro forjado e estreitas reentrâncias.
Cá fora apenas o movimento frenético e impessoal de automobilistas sem expressão que obedecem à lógica luminosa do trânsito, com apenas dois sentidos.
E um bando de mulheres alcoolizadas que se intrometem entre o trânsito das vias externas, as linhas de comboio sem uso prático, os manifestos de arte de rua e a indiferença dos transeuntes escondidos por detrás dos volantes e das portas de fecho automático.
E alguns pares de turistas que insistem em ultrapassar os limites dos guias turísticos de bolso.
E um velho, de passos perdidos, a queimar tempo, longe dos olhares intrometidos dos vizinhos.
E uma jovem de olhos inquietos que espreita, apressada, o momento em que pode regressar ao seu espaço de conforto, para lá do trânsito, das pinturas murais, da linha abandonada, do parque de estacionamento e da nova frente urbana do bairro, tão moderna quanto desprovida de alma.
Cá fora procuramos, como no deserto, as minúsculas partículas dos subterrâneos seres vivos que emergem quando se pressente a noite fria e arrefecem as areias escaldantes.
Um polícia fardado olha-me com desconfiança.
Entro no bairro sem hesitações, mas fecho os olhos por precaução

A vida do bairro pode ser uma experiência muito intensa