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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

David e Golias




Uma mancha de verde salpicada de pequenas cores ( tão pequenas que conseguem esborratar o fundo de cinzento) instala-se na selva de betão, e a desfoca como refúgio.
Tão pequenas que permitem a aproximação e derrotam a visão do grotesco (pela diferença de tamanho).
Tão pequenas que conseguem realçar a paisagem, num quase invisível combate entre a natureza e a civilização.
Este parque nasceu depois de anos de hesitação entre a ideia de afundar o rio e o receio do betão sucumbir à corrente de uma pobre e canalizada ribeira, que um dia se poderia rebelar.
Mas nasceu, e hoje é uma afronta à onda de prédios que foi descendo a encosta, ano após ano.
Ou como uma trincheira do grande parque de Monsanto.
O que uma pobre e canalizada ribeira pode causar. Pobre, mas honesta e heroica.
Ou talvez apenas uma técnica justificação para que se assegurassem vistas largas e ar puro ao futuro aposentado senhor presidente que por aqui sempre habitou?
Que sorte viver em Miraflores!

Mire (um dia) as flores, senhor presidente, enquanto as flores nascem no jardim!


Qual a utilidade de um Parque de Escritórios ao Domingo?






A utilidade é um conceito central da teoria económica e, segundo esta, a principal motivação da nossa atuação como agentes racionais.
Consumimos os bens que nos proporcionam maior utilidade e, em momentos difíceis, esperamos que os recursos sejam todos eles reconvertíveis, portanto úteis todos os dias.
Imaginei, naquele Domingo de manhã, que talvez os belos jardins estivessem cheios de festas de crianças e o parque de escritórios transformado em parque temático.
Mas até o McDonalds estava fechado, vazio e sem utilidade.
Um Zombie Corporativo em repouso absoluto.
Visitar um centro de escritórios ao Domingo revela-se contudo um quase atentado à segurança nacional.
Não há pessoas, só camaras, seguranças e sei lá mais o quê
“Você está a ser filmado! Os proprietários podem não gostar…Ui, a fotografar escadas de incêndio de um edifício (igual a outros cinquenta) que alberga dezenas de insignificantes e obscuras empresas”
Só se for por causa do vazio de utilidade, assim exposto de forma tão despida
Entranhas ou nudez despudorada?
“Então, o que posso fotografar?”
“Você é que sabe!”
“Quer que apague alguma fotografia?” – E mostro-as todas com diligência
“Ah, não sei!”
Mas afinal de contas se não sabes, porque é que chateias? Provavelmente o tédio do zombie corporativo, soltou-se no Domingo e tu precisas de companhia mais humana
Afinal de contas, passear no vazio e no silêncio absoluto de prédios inteiros sem vivalma, pode ser encarado como um ato vil de espionagem corporativa.
Passeando por entre um vazio de gente, o eco dos passos sobrepôs-se à paz do silêncio e tenho quase a certeza de ter tido a companhia dos fantasmas de fato escuro.
No silêncio e na ausência absoluta de seres, somos mais tentados a questionar o porquê de tanto vidro e cimento na era da informação global.
Como diria o pragmático J. para quê correr todos os dias atrás do trânsito, da poluição e do gasto de combustível, para nos fecharmos todo o dia num escritório?
Baah! Lá estão estes nórdicos com modernices!

A única certeza, é que os centros de escritórios ao Domingo, não servem mesmo para nada!


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Tríptico – Movida Chiado / Jorge Molder surreal / Bairro Alto antes da festa

Movida Chiado




Passos em passeio, mas determinados, descem a Garrett numa azáfama de quem sabe que este Sábado à tarde é o último antes da chegada da tempestade Stephanie, amanhã Domingo!
E sobem a Rua do Carmo, detém-se no maior dos ícones de Cascais, o Santini sem saudades da praia, fazem dos cruzamentos pontos de encontro e invadem as ruas que não são pedonais.
Encostamo-nos nas bermas da rua, receosos de uma agitação persecutória dos personagens vivas para quem se remete à ausência de papel, sem pressas nem objetivos.
E sobram os nossos olhares fortuitos, para o chão que corta os corpos e para as fachadas que cruzam os céus, sem imagens frontais ou grandes angulares.

E a movida Chiado nem sequer repara na timidez do voyeur, não lhe reconhece papel nem importância a um narrador que não encara de frente os protagonistas da tarde de Sábado, no bairro que até parece um cenário das nossas viagens pela Europa.