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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Display of Power




Demonstração de Poder – Prestígio e Símbolos

O poder seduz, em qualquer lugar, em todo o mundo.
Os líderes mundiais, mas também as pessoas comuns, seduzem outros, procurando convencê-los que o poder lhes pertence, por direito.
Em todas as culturas, fantásticos símbolos de estatuto, muitos deles sagrados, representam um papel preponderante na demonstração de poder.
E se o poder é ameaçado, estes símbolos de estatuto são os primeiros a ser destruídos, violados e pilhados.

1.       O rei Leão e o Suíço voador – cerca de 1900, Hans Christoffel, comandante da armada holandesa na Indonésia

Os Holandeses tentavam controlar Sumatra desde o século 17, de forma a garantir a segurança dos navios mercantes, que navegavam nas proximidades do Estreito de Malaca.
O Sultanato de Aceh, durante séculos um Estado mercantilista independente, lutou de forma violenta contra a ocupação holandesa e as conversões forçadas ao cristianismo.
Em 1873, os holandeses puseram em prática uma nova estratégia, recrutando soldados indígenas e, em 1900, Christoffel foi encarregue de comandar esta unidade.
Ele conduziu uma caça ao aliado do chefe Aceh, Sisingamangaraja XII, conhecido pelos holandeses como o 12º Grande Rei Leão, e esta ousada ação valeu-lhe o título de suíço voador.
Na época, era bastante vulgar os soldados colecionarem armas como troféus. Mas Christoffel guardou-os também por interesse científico.

2.       Meios de poder

O poder político vive de mãos dadas com o controlo das redes de comércio e com a exploração dos recursos naturais. Os líderes têm frequentemente acesso exclusivo a produtos raros, exóticos e luxuosos e utilizam-nos como demonstração, reforço e justificação do seu poder. Arquitetura, estátuas, retratos, arte, decoração do corpo, podem (e são) usados para realçar visualmente o poder (ostentação).
Não é apenas o seu valor ou esplendor que transforma um objeto num instrumento de poder. O seu significado pode ser ainda mais importante. Poder está ligado a História, tradições, poderes secretos e rituais. Tudo isto é refletido em objetos, por vezes protegidos ou mostrados de uma forma particular, ou ostensivamente escondidos da vista da maioria. Ocultar um objeto não significa sempre que se pretende protege-lo contra roubo ou o contato. Por vezes tem como objetivo proteger as pessoas do poder do objeto.

3.       Antuérpia sob domínio Espanhol

No século XVI os Países Baixos foram governados pela coroa Espanhola dos Habsburgo e as alterações políticas e religiosas abanaram a sociedade nas suas fundações.
A sua localização estratégica e a rede de comércio internacional proporcionou a Antuérpia um papel crucial neste período turbulento, A cidade foi alternadamente um bastião da monarquia católica e dos protestantes rebeldes que se opunham à autoridade central.
A imagem de ambos os grupos no poder dependia do clima político e social do momento. A exposição mostra como estes se auto retratavam em Antuérpia, nos períodos de autoridade católica- romana e durante a república calvinista. (1577-1585)
 Tendo como enquadramento o seu tumultuoso passado, o edifício da camara municipal transformou-se num ícone das liberdades locais e da posição determinante que Antuérpia ocupou no comércio internacional até 1585.

4.       O poder na cultura japonesa

De acordo com a tradição, o primeiro imperador japonês descende da deusa do sol Amaterasu – uma ancestralidade que legitimou o poder imperial durante séculos.
Apesar disso, o poder administrativo este nas mãos do samurai, durante longo período de tempo. Inicialmente estes eram os guardiões da ordem e da segurança, mas gradualmente, e com a aprovação dos imperadores, a sua autoridade política foi crescendo.
Para justificar o seu poder também perante o povo, os samurais rescreveram partes da História. Espadas, armaduras e outras armas ricamente trabalhadas mantiveram-se como uma demonstração de séculos de poder.
Em 1868, the Meiji Restoration, reestabeleceu o poder imperial e até ao final da segunda guerra mundial, o Japão desenvolveu uma extensa política de colonização. Apenas depois da guerra, o imperador foi forçado a renunciar ao seu estatuto divino.
Hierarquia é um tema constante da história do Japão – na cultura medieval, durante os períodos de poder militar e, atualmente, nas grandes companhias. Daí o forte enfase nas relações entre “alto” e “baixo” na educação das crianças.

5.       Prestígio e liderança africana – Antuérpia nos finais do século 19 como entreposto de arte centro-africana

No final do século 19, o porto de Antuérpia era um entreposto comercial de receção de marfim e borracha, oriundas da colónia belga. Gradualmente, com o desenvolvimento deste tipo de comércio, a arte e os utensílios também começaram a ser enviados para Antuérpia, que incluíam algumas das obras de arte aqui expostas.
A maior parte desta herança africana foi produzida na segunda metade do século 19 e princípios do século 20. Neste período, muitas armas, símbolos de hierarquia e figuras de poder foram trazidas para a Europa. Estas eram compradas ou trocadas por comerciantes, confiscadas durante campanhas militares e adquiridas por missões religiosas.
Estas obras de arte eram originalmente concebidas em honra e glória dos chefes locais. Como símbolos de poder, eles legitimavam a liderança. Frequentemente também exerciam uma função protetora.
Algumas destas obras nunca tiveram o objetivo de ser mostradas em público, como são atualmente. Instrumentos de rituais, estas destinavam-se apenas a olhos de iniciados.
6.       Relíquias Polinésias – Antepassados e poder na Polinésia

George Tamihana Nuku é um artista Maori das tribos Ngati Kahungunu e Ngati Tuwharetoa. Ele também é descendente de escoceses e alemães. Trabalha e vive na Europa e Nova Zelândia. Nuku faz esculturas na tradição Maori, mas faz uso de materiais modernos. Esta instalação é baseada numa casa de encontros Maori, local que estabelece a ligação entre o povo e os seus antepassados.
Os laços culturais entre polinésios são baseados nos antepassados comuns. As ilhas do oceano Pacifico foram estabelecidas após uma série de processos migratórios oriundos da Ásia.
Acreditavam que o poder era fundado na descendência divina e, depois da sua morte, transformavam-se em venerados antepassados. Especialistas em rituais – mediadores entre os deuses e a comunidade – descendem dos mesmos clãs nobres, como chefes e líderes. Eles guardavam objetos ancestrais e santuários, procurando proteção e bem-estar, através de oferendas e rituais.
Mana é poder divino. Como guerreiros e líderes, os artistas também possuem mana, que se manifesta através das suas criações. Este poder divino é tabu, e pode ser perigoso se não for mantido dentro de fronteiras específicas, como por exemplo, santuários.

Os objetos incrementam mana ao longo do tempo, através de tradições e da sua generalização. Estes são os portadores do conhecimento ancestral e da sabedoria dos anteriores donos. 



terça-feira, 20 de maio de 2014

MAS – Museum Aan de Stroom





(Um edifício impressionante com um museu, entre outras coisas)

Retrata a longa História do comércio e do intercâmbio cultural entre a cidade e o mundo, parecendo esquecer que a interação se faz de épocas - e quinhentos anos é muito tempo - são muitas histórias, que apenas respeitam um tema, entendido de forma muito lata / muito larga.
MAS conta novas histórias baseadas na evidência dessas trocas mútuas.
História sobre a cidade, o rio e o porto.
Sobre a diversidade do mundo, em objetos que aqui vieram parar
Sobre os signos das diversas idades do Ouro de Antuérpia (com o mundo)
É de facto Antuérpia, é certamente global e enriquece a perspetiva com que ficamos da cidade atual: mercantil e experimental.
É passado, é presente, perto e longe com referências inequívocas aos sonhos e pesadelos da cultura Ocidental.
MAS é um edifício da nova vanguarda flamenga no sentido lato (o arquiteto é holandês), que conta histórias nunca contadas sob uma perspetiva mercantilista do mundo, com a qual interagimos por força da gestão criativa do caos.
E os trinta e três quilômetros de porto, que se avistam do terraço merecem este monumento, exatamente na primeira doca conhecida deste gigante dos mares.
Construída (imaginem por quem) por necessidades práticas, bélicas e mercantis.
Napoleão, claro!
Ah, é verdade, os temas (e andares) da Exposição:
1.       Display of Power
2.       Metrópolis
3.       World Port
4.       Life and Death of Men and Gods



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mercantil





Há cidades que não se podem dar ao luxo de viver do passado.
Apesar de o terem tido, a História delapidou-lhes o património, os vestígios.
Sucessivamente, século após século
Antuérpia é um exemplo que demonstra que o sucesso pode ser destrutivo.
Ou que a centralidade e a importância estratégica, nos momentos mais conturbados da História, apaga os símbolos do poder passado.
E derrotado!
E a cronologia histórica é construída através da destruição dos modelos passados.
Destruição criativa que possibilitou a ascensão da renascença à custa do modo de vida medieval.
Mas a História de Antuérpia não acaba no seu início.
Depois da ocupação espanhola, vem a anexação ao império austríaco, os franceses outra vez, que nunca desistiram da Flandres, até que os Holandeses os conduziram até à criação da Nação Belga.
Foi necessário chegarmos ao século XX para que chegassem os vizinhos, os descendentes do Sacro Império Romano-Germânico. E as muito destrutivas guerras do século vinte que fustigaram a cidade da forma mais cruel: à bomba, sem que nada dali pudesse nascer.
Ameaças concretizadas pelos poderosos e sacrossantos vizinhos
E os vestígios das reconstruções apressadas, misturam-se na arquitetura e nas silhuetas dos transeuntes.
Antuérpia, o porto assolado pelo vento do mar do norte.
Tão perto, tão longe.
Antuérpia, a comerciante entre avenidas rasgadas pelo período pós guerra e as montras de visual ocidental.
Promessa de cidade da moda e do design.
E experimental!
Laivos de Rubens entre praças e catedrais!
Antuérpia Sul, a burguesa réplica de Paris dos cafés, dos palácios e das galerias.
Antuérpia, o bairro de judeus ortodoxos que se passeiam junto às montras brilhantes pintadas de diamantes, dentro de bunkers de cimento e construção moderna.
Sem graça.
Antuérpia, a Arte Nova, revelada em toda a sua extensão na Gare que afirma a centralidade belga nas rotas do presente.
Fronteira do século e afirmação da difícil independência belga
Ainda hoje!
Fronteira entre os comerciantes judeus ortodoxos e as novas geografias.
Chinatown!
É na praça da estação que todos se encontram, entre elétricos que circulam em carrossel antes de fugirem em destinos opostos.
Povos que não se conhecem, de tão diferentes que são as suas fisionomias, roupas e formas de andar, de saltar para os elétricos, de rondar pelas esquinas e de espiar os arcos que flanqueiam a entrada nos ghettos dos outros
Antuérpia esforça-se por construir o seu presente com base na sua universalidade histórica, renascida das cinzas.
Não é portanto uma cidade museu, é uma comunidade de experiências.
Portanto alimenta-se de incoerência, vive num permanente estaleiro e procura a harmonia através do caos.
E as cidades experiência visitam-se de forma diferente
Pensava exatamente nisso, enquanto sorria para a adorável empregada de bar e espreitava para rua, protegido pelas vidraças do bar do hotel, espiando os transeuntes e vazando baldes de cerveja belga!



sábado, 10 de maio de 2014

O relicário de Jerusalém




Vestígios da cidade sagrada de Jerusalém
É o ponto comum!
São exemplos mágicos e presentes do espírito de Idade Média
Tal como o imaginamos nas folhas usadas dos compêndios escolares
Época das Trevas e das crenças absolutas em mitos, revelações e vontades divinas.
Avassaladora afirmação do destino bíblico que impõe aos Homens a vontade de submissão ao Além.
Tão diferente do espírito do resto da cidade, burguesa, empreendedora, orgulhosa e exibicionista.
Conventual, porventura de vistas curtas porque as janelas são pequenas, de um românico virado para dentro, que provoca sombras profundas no seu interior.
Mas mágico, porque finalmente parece termos regressado ao mundo tosco, grosseiro e quase grotesco dos domínios senhoriais do clero e da nobreza que pululavam fora dos castelos e dos templos
A imagem do Nome da Rosa prevalece nítida nos refúgios de Jeruzalemkerk e da Heilig Bloed Basiliek.
Afinal ainda existe espírito da Idade Média na cidade dos mercadores
O templo cristão de Jeruzalemkerk pertence aos descendentes de Adornes, uma família de abastados mercadores genoveses.
Em 1470, ao regressarem de uma peregrinação a Jerusalém, dois membros da família solicitaram e adquiriram uma autorização papal para construir uma réplica da Igreja de Santo Sepulcro em Jerusalém
Daí a sensação de entrarmos numa relíquia, desconcertante o altar esculpido com caveiras e demónios e um túnel com um modelo de Cristo deitado, em tamanho natural.

Heilig Bloed Basiliek.
Aqui, decorações de cores vivas rodeiam um pináculo de prata de 1611 que abriga um pequeno frasco de vidro que se diz conter gotas de sangue e água retiradas de Cristo por José de Atimateias.
Foi trazido de Jerusalém em 1150 por um cruzado flamengo, Diederik da Alsácia.
Olhamos sem crença mas com um mui juvenil embevecimento lúdico para o suposto pedaço de tecido banhado de sangue de cristo, e para o altar construído para o efeito, e para a velhinha que segura na ampola com um ar cerimonioso e quase pateta.
Um euro e meio e tocámos com o olhar no sangue de cristo
Relembrando Jerusalém e as três cruzes na réplica da Igreja de Santo Sepulcro, levanta-se uma dúvida juvenil e irrequieta: “ E se o sangue provém de uma cruz trocada?”
Na velha capela românica, voltam as sombras e a interioridade reforçada palas pequenas janelas e os longos espaços de escuridão.
Convenci-me com estas duas relíquias, que me encontrava em pleno processo de regressão (recordei-me de histórias das minhas vidas passadas)



terça-feira, 6 de maio de 2014

Na rota da Portuguesa






Isabel, filha de João I e Filipa de Lencastre, irmã de Duarte, Fernando e Henrique.
Filha do rei de Portugal e senhor de Ceuta.
Casou aos trinta e dois anos com Filipe Borgonha e chegou a Bruges em 8 de Janeiro de 1430
Estes são os factos.
Na praça central de Bruges…era ali, sob os arcos que se vendiam os tecidos flamengos, o ouro que Isabel encontrou a cobrir as ruas, quando entrou na cidade e a cidade celebrava o terceiro casamento do Duque de Borgonha com a princesa portuguesa
A torre significava o poder dos cidadãos e os sinos marcavam a vida dos habitantes, da varanda faziam-se os anúncios públicos e era na Belfry que se guardavam os tesouros e os documentos mais importantes.
São 55 degraus até à Tesouraria.
No Prinsenhof viveram Isabel, Philippe e Carlos e aqui dormiu D.Fernando, o Infante Santo.
O duque investiu na decoração do paço, trazendo tapeçarias, quadros e móveis do palácio de Dijon.
Chegámos ao Burgo, onde a duquesa assistiu a tantas missas e onde o edifício da câmara municipal afirma que Isabel ali viveu.
Foi aqui, na Béguinage, que concebemos o encontro entre Isabel e o seu colaço – irmão de leite – Lopo de Carvalho.
Foi aqui, na paz desta espécie de convento de religiosas, em que mulheres solteiras e viúvas decidiam dedicar a sua vida a uma fé e a servir os pobres que Lopo lhe conta os detalhes da morte de D.Pedro, assassinado pelos soldados do meio-irmão, Afonso de Bragança.
É na Igreja de Nossa Senhora que jaz, Carlos, o Temerário e filho de Isabel e da sua neta Maria, rodeados pelos brasões com armas portuguesas
Só Isabel se encontra em Dijon, mas a sua presença, a da mãe Filipa e do pai João marcam esta catedral que aponta para o céu, terminada bem depois da morte da princesa, num esforço que durou duzentos anos.

Havia uma perspetiva de longo prazo neste reino de burgueses precoces.