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sábado, 28 de abril de 2018

Lita Cabellut

"Não conheceu o seu pai, e a sua mãe trabalhava como prostituta e abandonou-a aos três anos, deixando-a com a sua avó em Barcelona. Foi à escola mas sofria de dislexia e passava o dia a mendigar pelas ruas. Aos dez anos, a sua avó morreu e foi internada num orfanato, onde foi adotada aos treze."

O seu futuro foi exuberante, uma explosão de técnicas mistas, cores inesperadas, uma perfeição alucinante e grandes formatos.

Há coincidências assim.

No Centro Cultural de Cascais





domingo, 15 de abril de 2018

De Kreuzberg a Prenzlauer Berg





Saímos do U-Bahn em Kottbusser Tor e o contraste não podia ser maior.
Apenas a quinze minutos da Ku’damm regressámos à superfície numa longitude distante, daquelas que merecem os inevitáveis comentários de que não há cidade em que não nos tragas para sítios assim.
Sim, Kottbusser Tor é um lugar diferente, o núcleo do enclave da emigração turca, mesmo quando Kreuzberg era o bairro de fronteira, quando as primeiras vagas dos novos estrangeiros partilhavam esta zona de ninguém com artistas, músicos e todos os movimentos alternativos das últimas cinco décadas.
E quando regressámos à superfície, deixámos de entender onde se revia Berlim, apenas sentimos uma maior densidade no ar.
Talvez nalguma tensão entre culturas.
Talvez nas avenidas largas traçadas na diagonal a partir da praça, ou nos homens de barba escura e olhar penetrante que se sentavam nos bancos da praça, como se estivessem a contar peças de caça, ou nas fachadas das lojas encerradas cobertas de graffitis (afinal de contas era sexta feira santa, mas isso não tem muita relevância, mesmo em território muçulmano) ou provavelmente nos cheiros a especiarias, a couves cozidas e a guisados, borrego suponho.
E o choque terá porventura sido maior porque não houve pré-aviso e porque poucos acreditam que, apenas numa viagem de quinze minutos para leste, num comboio cheio de turistas e arianos, se possa alcançar uma versão tão diferente e boémia de Istambul.
Apenas na plataforma todos perceberam que a cidade é, desde há muito, um fenómeno de multiculturalidade.
Mas, ao descer a Kottbusser Strasse logo se entende que Kreuzberg não é um bairro comum.
Ao longo do Paul-Lincke- Ufer, desfilam todos os sinais de diversidade que a cidade despeja numa tarde de feriado, aproveitando as promessas de Verão que a próxima semana vai, segundo a meteorologia, trazer para ficar.
E, ao longo do canal, aumenta o leque de sabores, de maneiras de vestir, de sotaques e de línguas nativas, há um raio de sol que anima os locais e acentua a tolerância cultural.
Também há álcool, muito álcool, que descansa nas margens que se transporta em garrafas de litro mas, e as surpresas sucedem-se, não há barreiras etárias na forma de celebrar a folia e as garagens de som e imagem convivem com os apartamentos reconvertidos de uma nova juventude burguesa, mas com antecedentes e antepassados alternativos.
Talvez, porque em tempos, os arredores de SkalitzerStrasse se encontravam cercados por fronteiras a Norte, a Sul e a Leste, vive-se ainda uma sequência de cenas de terra de todos, muitas famílias que se banham nas piscinas interiores de Gorlitzer Park, os últimos moicanos do álcool e do charro se estendem pelos bancos de jardim, sem espaço para mais manifestações de arte urbana, muitos apelos à arte contemporânea alternativa, miúdos que jogam com bola por detrás de redes semi destruídas, jardins infantis de um mundo qualquer, armazéns de uma industria que vivia na periferia e a magnifica linha de metro que atravessa o bairro nas alturas até desembocar na Oberbaumbr., a ponte de todos os espiões e a atual linha de fronteira entre a cidade história e os subúrbios alternativos, as praias fluviais, os delírios tropicais e os parques temáticos e referenciais.
Não posso deixar de me impressionar com o magnífico exemplo de arquitetura construtivista que é o monumento aos soldados soviéticos, em Treptower Park, a sul, para lá da última fronteira de Kreuzberg.
Mas é para Leste que a fúria de construção da nova cidade residencial parece não ter fim.


Para lá da ponte, para norte ao longo de mil e trezentos metros de muro entregue aos artistas de todo o mundo que festejam o século vinte e um, ainda para além da OstBanhof, desaparecem os sons e os sabores exóticos e alternativos e resistem as grandes avenidas inspiradas nas linhas quadradas soviéticas, ao longo da tão moscovita Karl Marx Allee que termina em triunfo na não praça de Alexander.
Para quem ainda não se tinha acostumado à instabilidade cultural de Kreuzberg, esta subida aos gelos da grande pátria russa não pode deixar de criar vertigens, mesmo que hoje se procure encher os espaços vazios com uma nova arquitetura futurista dos súbditos do vidro.
A pedra soviética e o vidro da nova Berlim.
Apenas em alguns quilómetros a cidade irregular, irrequieta, marginal e quase exótica, readquiria a frieza eslava, mas perdia os sentidos perante a geometria obsessiva da massificação urbana.
Prometi à família, conceder-lhes um fim de tarde de conforto visual e de partilha de um espaço de famílias, o bairro das mulheres grávidas e da mais perfeita reconstrução de Berlim antes da guerra: Prenzlauer Berg.
Mas a família não achou piada imensa, porque não havia nada para ver.
Apenas alemães felizes e um fim de tarde introspeção (para os estrangeiros) e de encontros (para os locais).
Ainda hoje penso que elas não perceberam que tínhamos feito, naquela tarde, uma volta ao mundo em menos de dez quilómetros.



terça-feira, 10 de abril de 2018

Berlin Gems Tomo IV/IV


Original (Mind) Soundtrack
Silent for all memories




Reichtag by Norman Foster




Reichtag by Norman Foster





Reichtag by Norman Foster




AugustStrasse




AugustStrasse




BernauerStrasse




BernauerStrasse




BernauerStrasse




BernauerStrasse

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Berlin Gems III/IV


Original (Mind) Soundtrack
Cavalgada das Valquírias
Richard Wagner




S- Bahn Jannowitzbrucke 




KollWitzPlatz 




Husemannstrasse 




Monbijou-park 




Spree 




Gendarmenmarkt




Gendarmenmarkt




 Friedrichstrasse - from East




Friedrichstrasse - from West




Zimmer Strasse




Zimmer Strasse

Os supremos desvaneios da República





Faltam apenas 285 dias.

Berlin StadtSchloss deverá renascer em 2019 e nada ficará igual na ilha dos museus, porque será reposta uma peça importante da História de Berlim e porque certamente, como em todas as obras do novo regime, nada ficará absolutamente igual ao original porque para um Homem de Berlim, não chega recuperar o passado, exige sempre acrescentar presente.
Nem na Unter den Linden, a grande avenida dos imperadores.
1442, 1702, 1871 e 1945 foram datas importantes para o castelo da cidade.
Mas o que a guerra não conseguiu totalmente, fê-lo, em 1950, o III Congresso do Partido da União Socialista da Alemanha.
Deitou as ruínas ao chão, em prol das multidões e dos espaços abertos para o culto de Marx e Engels.
E em 1973 construiu, em competição modernista com o ocidente um palácio da república compactado de vidro e repleto de amianto, uma contaminação à qual apenas o socialismo era impune.
Destruído em 1990, logo o novo campo aberto pareceu vazio ao novo regime, agora que os milhares de pioneiros haviam queimado as fardas e abdicado dos desfiles ideológicos.
Iniciada a construção em 2013, é hoje bastante mais do que o sonho que viveu, nos últimos oito anos, dentro da caixa de Humboldt.
Para o arrepio dos federalistas alemães que, há bastante tempo, reclamam que os desvaneios da capital se constroem à custa do suor e dos impostos dos BundesLander.
A recuperação obsessiva da História é um direito de uma cidade destruída e perdida, durante décadas, em equívocos geoestratégicos.
Mas a ânsia de reconstrução e de ocupação de espaços vazios na enorme cidade aberta, é mais ambiciosa que o crescimento que a cidade permite e, sobretudo, do que a imaginação e a criatividade para encher os espaços com as realizações do presente.
Sobretudo porque já não há impérios capazes de repatriar, das origens da História, os despojos que engradecem os museus da Europa.
(Verdade seja reconhecida, e os preservam dos climas de guerra permanente – e aleatória – que povoam o resto do mundo. Triste que as maiores peças construídas da Babilónia estejam hoje, provavelmente, em Berlim)

A nova inquietação dos berlinenses não é o estaleiro permanente em que vivem, nem a dificuldade em encontrar mecenas que financiem projetos arrojados.
É antes encontrar um significado interior para os espaços reconstruídos da História e ainda acrescentar um presente grandioso à grande planície da Europa Central.

A ideia de continuarem a possuir dois aeroportos, e nenhum deles ser uma referência, nem sequer europeia, deixa-os inquietos, mas falta-lhes ambição e certezas de que alguma vez seriam capazes de ocupar os novos espaços como têm sido incapazes de preencher o mítico Templehof, hoje um espaço gigante e inerte que apenas ganha vida quando residência temporária de refugiados.
Muitos deles, vindos da Babilónia.

Última paragem em Bernauer Strasse e a matemática joga a favor dos berlinenses: 29 anos depois, já podemos afirmar que a separação de 28 é história, e o todo que se reconstrói em milhões de peças continua a ser, mesmo depois da subtração da História, bastante mais do a soma das partes.



domingo, 8 de abril de 2018

Berlin Gems Tomo II/IV


Original (Mind) Soundtrack
Latin Rithms mixed with Turkish pop sounds
running from kited junky cars
in Kottbusser Tor and rather hard neighbourhoods around old borders




Skalitzer Strasse




Oberbaumabrucke




Oberbaumabrucke




Oberbaumabrucke




East Side Gallery




East Side Gallery




East Side Gallery




East Side Gallery




East Side Gallery




Ostbanhof

O Homem que nasceu em Moscovo





- Pretendem um táxi?
O rececionista do 38, ainda simulou um trejeito, esticou o indicador prensado entre duas talas para o ar e para o mapa dos transportes “Podem tomar um transporte público, é muito prático e, mesmo não havendo metro até Tegel, existem autocarros e não há forma de enganar”.
Já tinha insistido, de forma educada, em fazer a conta “porque amanhã toda a gente vai querer pagar”, já tinha pedido autorização que pagássemos os extras em dinheiro, afinal de contas são apenas pequenos montantes ou apenas especialização de negócios ou talvez remuneração variável.
Educado, mas insistente, o rececionista do 38, tinha vontade de combater o tédio das horas mortas com trabalho útil e o gelo da noite com companhia, mesmo que apenas conversa de ocasião.
“Quando cheguei a Berlim, logo me avisaram que nesta cidade havia verão e não verão. Hoje, zero graus, para a semana dezoito, como vê não há primaveras em Berlim”.
Sorri, esta é uma temperatura de início de primavera, mas imaginei que os climas mediterrânicos não fossem a especialidade do rececionista do 38.
Mas enganei-me. Identificou-me pelo nome (e principalmente pelo apelido) de check-out, sem hesitações, “de Portugal” e desfez-se em sentimentos de pertença sobre um povo que sabia receber, irradiava simpatia e vivia num país lindo chamado Algarve.
“Nenhuma semelhança com os espanhóis, também conheço o sul de Espanha e eles não gostam de turistas”
Com o nome de Irina ainda na mente desde a hora do pequeno almoço, imaginei que o porteiro da noite fosse russo, afinal de contas o homem falava que cá tinha chegado, de algum lado, pressuponho.
Pareceu surpreendido por eu perguntar de onde era, “Sou berlinense, como o meu pai, o meu avô e o meu bisavô. Só eu é que nasci em Moscovo, mas apenas por acaso, ou talvez não, o meu pai tinha ido estudar para Moscovo”.
Ao homem com cerca de cinquenta, também lhe disse que me fascinava Berlim, era a quarta vez que vinha, “A primeira em 1985”
“West Berlin?”
Tão evidente a pergunta quanto a resposta, com cinquenta anos ainda não restam dúvidas da origem da história e de que tinha havido duas centralidades e eu concluí que o pai de homem da noite tinha, definitivamente, pertencido à outra centralidade.
Hoje as diferenças são mais subtis, por vezes até propositadamente escondidas, por isso o rosto simpático que era berlinense, mas tinha nascido na União Soviética, eventualmente um filho do regime da iniciativa coletiva, emendou a sugestão, perante a sua suspeita de que não me teria agradado a sua ideia de viagem nos transportes públicos
“Realmente são apenas mais dez ou quinze euros”, numa tradução prosaica de “os tempos mudaram”
O triunfo do capitalismo não tocou da mesma forma ambas as centralidades, e não terá sido um desfecho óbvio para muita gente.
É curioso como o tempo torna a história menos óbvia que o presente, e tende a fazer realçar as subtilezas de entre as verdades absolutas.
Mitte, Orianienburger Strasse, no coração do Leste.



sábado, 7 de abril de 2018

Berlin Gems, Tomo I/IV

Original (mind) Soundtrack : 
Berlin, Berlin Marlene Dietrich



Dircksen Strasse (Hackescher Markt)




Alexanderplatz




Marx - Engels Forum




Unter Der Linden




Friedrishstrasse




Hamburguer Banhof




Hamburger Banhof




Invaliden Strasse





Paul-Lincke-Ufer




Ohlauer Strasse