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terça-feira, 22 de maio de 2012

A Tomada da fortaleza de Alqueidão, sem resistência nem heroísmo patriótico


A fortaleza está sempre aberta! – o à vontade do estalageiro da tasca da beira da estrada, monte acima deixou-me desconfiado
Voltei tão breve como prometi a mim próprio, porque me fascinou a forma como eles conseguiam comunicar por telégrafo ótico em seis minutos, entre o Tejo e o Atlântico!
A viagem ao campo de batalha é um deserto histórico, a anti promessa do Centro de Interpretação, uma muito vaga referência às muralhas das linhas de Torres
Não há portão, nem fosso nem pedras empilhadas que nos façam lembrar as barreiras inexpugnáveis e lá se foi aquela imagem preconcebida de fortaleza
Mistério. Como desapareceram mais de quarenta quilómetros de muralha de pedra em duzentos anos de História sem guerras substanciais?
É um elogio do lugar vazio, não há senão restos escavados de muralhas, paióis e um memorial de cimento, levemente modernista e pomposamente inaugurado pelo presidente Aníbal
Até 2010 seriam apenas montes verdes com uma vista avassaladora, do Tejo ao Atlântico
Arqueólogos desenterram passados recentes e encontram sinais do paiol. Os ingleses tinham aprendido a lição de Almeida e enterraram-no bem fundo nos montes de Torres. Aparentemente protegeram-nos das tropas de Napoleão e do sinal dos tempos
Pedras desmontadas por um povo que lhes encontrou outra utilidade?
Bela oportunidade perdida de rivalizar – à nossa dimensão – com a muralha de China!
O estudo topológico do lugar revela hoje como revelou antes um lugar mágico, uma vista que cola o infinito, ontem pejada de coloridos soldaditos de chumbo, pequenos napoleões desorientados pelos vales profundos e pelas fortalezas que os espiavam de um inesperado céu, a 435 metros de altitude, de manhã mais a norte, outros dias mais a sul, sem poderem ver nem o mar nem o tejo
Hoje pejada de energia eólica, as verdadeiras fortalezas são quase voadoras, feitas de hélices que assustam os pássaros e fornecem eletricidade
Serão as novas muralhas ou os soldados da moderna república de Napoleão?


segunda-feira, 21 de maio de 2012

A contemporânea fábrica da noite






Lx factory fervilha de onda alternativa
Cheiros, cor e experiencias alucinogénias na noite da fábrica, turno da noite.
Cheira a torradas, sumos de fruta e erva, petróleo dos comedores de fogo, vernizes e lacas, tintas sintéticas, seja cor dos cabelos ou street art, uma nova versão remasterizada e culturalmente aceite do marginal graffiti.
Quando transpomos os portões da fábrica, sentimos a calçada irregular a afundar-se nas poças de uma chuva que caiu tropical e traiu as mini saias e as pernas longas
Armazéns orgulhosamente decrépitos alinham-se nas margens de uma ribeira de pedras reluzentes, despejando desordem criativa em cada canto, reluzentes espaços e sombrios becos em sintonia com todos os seres que povoam a noite e experimentam criatividades exuberantes
Os putos vagueiam na movida, cerveja a preço de moeda comum nas mãos ao alto e o ambiente decrépito chic envolve a atmosfera energética que destrona a chuva e revela pontes entre a arte e o comércio, a música, a dança, tecnologia visual e a expressão dramática.
Entre a ordem e a desordem…
A sofisticação e a arte urbana sem códigos nem acabamentos…como eu gosto!
Não há portas e a entrada é sempre livre, beber ou experimentar o som que compete entre espaços, sem decoração, verdadeiras caves sem mobília e que sobrevivem de tecnologia e de ícones intemporais
A Betty Boop pisca os olhos à multidão, num ecrã levemente avermelhado!
Subimos as escadas a respirar os sons techno que escorrem pelos degraus e, lá em cima, na improvisada pista de dança um casal devora-se em palco, diria que encenavam um tango no seu isolamento sensual…
A noite respira diversidade, de pernas longas a rodas curtas, suave mistura entre a intelectualidade erudita e a beautiful people, gente alternativa e miúdas intelectualmente bem comportadas, sempre calçada acima…
O comedor de fogo entope a ruela e lança um bafo de fogo para a imagem de Betty, cruzando os ares sobre a calçada reluzente e descobrindo um ninho de fêmeas que se beijam sob as nuvens com orgulho e sem preconceito
E a malta não liga
18 de Maio na cidade, Open Night no LX Factory





sábado, 19 de maio de 2012

Lisboa Porto Lisboa

O país e a paisagem desfilam diante a minha indolência, uma sucessão de imagens filtradas sem cheiro nem temperatura, sem detalhes nem contemplações desnecessárias
É basicamente um resumo um trailer, mas muito real, muito rasgado no país real daquele que ainda (ou já) cultiva os campos.
Muito confortável este papel de observador do mundo, discricionário e poderoso, um secreto deus menor e redentor em quem, afinal de contas, o mundo não reparou.
Fugaz intromissão na intimidade rural, afinal o país respira para além dos bunkers civilizacionais, a partida e o destino.
Os personagens fortuitos e involuntários não têm tempo de recompor o cabelo e olhar para o filme que é o comboio
São as pessoas como elas são, animais que pastam, os campos de árvores de frutos e um país que parece redescobrir a terra que tem um novo e libertador apelo.
E apesar do calor tórrido. o campo está verde da chuva abundante e recente!
E o campo verde transforma-nos num país verde longe do deserto castanho… e os milhares de poços que eu nunca tinha reparado, círculos desenhados na natureza bucólica e rural que ocupa a maior parte do nosso espaço vital e da nossa consciência coletiva.
Mas para quem viaja lisboa porto lisboa no inter cidades tem a tendência de se esquecer, porque não vivemos para além das ilhas que são os destinos e as partidas, cercados prisioneiros da urbana confusão que nos junta a todos em colmeias de seres e ruídos, convencidos de que somos o neurónio do país.
E o trator ao fundo descobre-se entre uma nuvem de poeira com a luz laranja intermitente como que avisando os poucos pássaros e a natureza imensa que estava apenas de passagem, incomodo mas efémero.
E de repente o filme pifou!
Sem nos apercebermos, recordamos a indolência que provoca o embalar compassado do velho inter cidades e, sem modernas tecnologias pendulares que me deixam enjoado, partimos e chegamos e a magia do silêncio induzido pelos ruídos mornos e sincopados dos carris desvanece-se.
Primeiro os armazéns, depois os automóveis, depois as pessoas apressadas, e finalmente o verdadeiro ruido
A cidade chegou e nós partimos!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Estado Social já não protege dinossauros


O discurso ardiloso do dinossauro Mário ecoou da caverna da política pré-histórica, prec ativo de sobrevivência do clube da retorica (politica, ideológica?), pretensão visionária.
Amigo Mário, descobriste tu e os teus amigos franceses, uma nova ideologia capaz de fazer renascer o ideal social-democrata na europa.
Um novo farol sem conteúdo ideológico, mas visto como um golpe de magia política que deixa inebriada a confraria dos compadres, apenas eles em busca da salvação de uma classe que ainda não sabe que está perdida.  
 A ideologia do crescimento, no mesmo tom e comprimento de onda que o direito adquirido do ocidental e civilizado estado social...que parecia irresistível e triunfante sobre o muro de Berlim.
Sim, esse que se revelou demasiado ganancioso para ser apenas social e se auto elegeu durante décadas de obra feita e privilégios reais, dando-nos uma (falsa) sensação de segurança sustentada em horários de trabalho reduzidos, reforma antes dos sessenta, tudo em troca do poder para a vida, para os nossos esclarecidos guardiões do templo
Ainda os cacos não se estilhaçaram todos, nos passeios da nossa (restante) vida…
Sim, trato-te por tu, porque fomos companheiros de luta no verão de 75 tu, na varanda da sede do teu partido, com o peito às balas (se viessem), cercado na praça da república por revolucionários raivosos e eu miúdo, no meio da multidão, de mão dada ao meu pai a começar a nascer para a democracia, a antecâmara do estado social de 86, a europa unida da abundância.
Como queres crescer, Mário?
O estado social justificava per si a sobrevivência, geração após geração, dos políticos profissionais, baluartes da civilização ocidental.
Falido o estado, ferida a auto estima, chegou a altura de se tornar razoável e vender as pérolas e os privilégios e embalsar os dinossauros. 
Sim, qual superioridade civilizacional que está à venda no oriente (fábrica do mundo), a maior antítese geográfica e cultural do orgulhoso e altivo Ocidente.
Darwin afirmava que não eram os mais inteligentes e os mais fortes que sobreviviam, mas os que melhor se conseguissem adaptar.
Por isso cuidado que eles podem mesmo sobreviver, para além mesmo dos princípios que em tempos defenderam (os elegeram)
Há muito que já me convenci que as cegonhas não vêm de França e mesmo a ideologia tem limites, na ombreira da porta da demagogia.

domingo, 6 de maio de 2012

A parábola das Linhas de Torres

Há muitos séculos que não somos donos da nossa própria História.
Não estamos hoje, portanto, perante um facto novo!
Ontem voltei, entre montes e aerogeradores, ao início do século XIX na ondulação do relevo atlântico, a persiana norte à capital de um império que já não inspira nostalgia, sequer!
São agora cinco concelhos, cinquenta quilómetros de fortaleza de pedra e areias, armadilha de Junot e companhia, montada pela engenharia inglesa, pelo trabalho manual, em alguns registos escravizante, submisso à aliança secular.
As linhas de Torres acabaram com aquela desconfortável cisão entre a nobreza e a nobreza, pobre povo abandonado pela fuga precipitada e Real, quando nos tornámos seguidores, por falta de dimensão.
Quanto mais não seja, esta virtude repousa aos ombros da engenharia militar.
A história do mundo não conhece muitas fortalezas com final feliz e hoje dividimo-nos entre o monte dos vendavais ou fortaleza natural inexpugnável.
Tenhamos a noção que fomos apenas um campo de batalha entre titãs, as novas potências do século XIX…e nós sem fôlego, sem vontade nem convicção, exceto pela superficialidade faustosa das cortes – especialmente a napoleónica, confesso!
Aprende-se tudo isto no Centro de Interpretação das Linhas de Torres em Sobral de Monte Agraço
A História faz-se de desequilíbrios, momentos em que a sorte dos dados muda.
Hoje e na História
Voltarei em breve para ver as muralhas, porque me fascinou a forma como eles conseguiam comunicar por telégrafo ótico em seis minutos, entre o Tejo e o Atlântico!

sábado, 5 de maio de 2012

Música de fusão no pateo da galé

Rodrigo Leão, o artista que sublima o instrumental e soletra cada minuto de espera com sons de violino e acordeão, profundos os cheiros e os sabores exóticos
É uma festa de boas vindas ao Verão, apelo promocional ao gozo indiscriminado e torrencial de férias ao  Sol.
Mas na cobertura metálica, a chuva fustiga os nossos sonhos de uma noite de verão, mas junta-se à orquestra de instrumentos no palco,
lntensifica as pausas e confunde os aprendizes de musica erudita, palmas antes do tempo...
O artista sorri trocista e prossegue, desafiando o publico, a chuva e as férias de Verão
O bom gosto tem uma textura vanilla, candelabros  que impressionariam o fantasma da ópera, velas compridas e acesas que exalavam incenso e prolongavam as sombras dos espactadores arcadas acima.
Fantasmagorico em estado puro de arte.