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domingo, 25 de fevereiro de 2024

WAY TO INDOCHINA #14 - Liberdades de Culto

 


No Laos regressamos ao Oriente em que a estrada é de todos, também dos búfalos, das cabras e dos cães, das vacas, das motas, dos transportes agrícolas, dos miúdos, dos altares de oferendas e, esporadicamente, dos carros e das estradas sempre novas em cada estação seca e, subitamente, desaparecem em cada monção e o sorriso discreto, mas entendido, entendido, mas trocista de quem sabe que as desgraças não são inevitáveis e que também há bom asfalto no Laos. 
No Laos voltamos ao convívio com a foice e o martelo, os slogans motivacionais nos portões das escolas e hospitais e os controlos de estrada mas aqui não parece haver símbolo ou ritual que discipline qualquer beira de estrada ou os milhares de cães vadios todos da mesma raça amarela e aqueles olhos de amor eterno sempre de língua estendida e cauda no ar. 
Afinal de contas, quase todas as inúmeras etnias do Laos professam o budismo, a religião da compaixão que concede amplos graus de liberdade para o exercício do culto.
E, junto às margens do rio Mekong, o mítico Mekong para os caçadores de marcos, todos os outros cultos são bem recebidos como o último refúgio dos bons selvagens ocidentais de rostos encardidos, tatuagens ressequidas, barbas em forma de v mais gastas pelas diversas formas de tabaco do que pela idade.
Levitam de rede em rede, e parecem ter descoberto no Laos o último dos trinta e sete degraus que os conduzirá, eventualmente, ao céu.
Do lado oposto do rio, uma família do Laos cultivava a sua horta nas areias do rio, certamente um uso capião, devidamente vedado pela persistência da família e pela remota localização, as crianças banhando-se no Rio, a mãe protegendo-se do sol numa palhota rústica e, de repente, um som que invadiu as margens do rio, fez tremer as redes de pesca, fez voar os peixes contra a corrente e afundou o Mekong na sua própria água. Da palhota mais desarticulada e entre duas parabólicas enterradas entre as couves e as beterrabas descobrimos que afinal, por aqui, os habitantes do Laos têm a sua Playlist própria, uma visão mais realista da realidade local baseada nos sons próprios em busca da internacionalização. 
Alguns letrados asseguram que os sons Techno made in Laos são o principal instrumento do confronto de gerações, entre o tradicional e o moderno, neste país ainda predominantemente rural.
Enquanto nos banhávamos no rio sagrado.




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