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domingo, 25 de fevereiro de 2024

WAY TO INDOCHINA #13 - Ouvindo o arroz crescer

 

Atravessar fronteiras a pé é sempre a mesma emoção infantil.
Hoje a fronteira do Laos estava tão deserta que o sinal de stop era inútil e a cancela uma provocação ao bom senso.
Os guardas de fronteira olharam nos de sobrolho encardido, algum fastio de termos interrompido o seu fastio e voltaram aos guichets, as carimbos, as câmaras os scanners, as impressões digitais tudo como é esperado que uma fronteira funcione, primeiro na saída do Camboja onde o raio X das malas garantia que não levávamos materiais perigosos para a terra de ninguém e, depois no Laos, onde não havia nenhum raio X, este incapaz, pela ausência, de identificar as verdadeiras motivações dos indómitos viajantes
A mesma emoção épica quando avistamos o Mekong, um definitivo marco para todos os colecionadores de preciosidades. 
Em Don Det, uma das quatro mil ilhas do Rio Mekong, o ritmo de vida perdeu urgência e o fim de tarde empurra as correntes do Rio e deixa-se levar pela brisa da estação temperada.
A noite cobriu o deck e ficamos a espera que o rio nos embalasse ao som de uma Playlist de sons ocidentais 
Reconheço que ao décimo segundo dia de imersão no ritmo do sudoeste asiático, arroz frito, sabores de coco e caril, caldos de legumes e sopa de noodles, dias que se prolongam de noite até à noite, senti-me tentado por um bife de três pimentas, cerveja a copo sem hora limite de adormecer sentado, e o mosquiteiro que cercava a minha cama do bungalow e me fazia imaginar a Indochina pelos olhos dos franceses. 
O bife era de frango, a cerveja era de lata mas tudo o resto enquadrava naquela perspetiva orientalista que os ocidentais têm só oriente: fútil e superficial 
Nessa noite perdoei-me pela insensibilidade e pelo desconhecimento da realidade local e continuei a beber cerveja até o rio desaparecer na noite, e depois adormeci debaixo do mosquiteiro, embalado com os sons de música lounge que sobrevoavam o deck 
No Vietname cultiva se arroz, no Camboja vê se o arroz a crescer enquanto no Laos ouvimos o arroz a crescer. 
Ontem à noite, nada me pareceu mais certo. 



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