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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

WAY TO INDOCHINA #16 - Paragem técnica


Em Thakhek, debruçamo-nos sobre a Tailândia, no fim da estrada ficam os restos da cidade colonial e das memórias dos tempos de guerra em que a cidade acolhia todas as almas atormentadas e penadas pela violência extrema e pelos pecados lançados sobre o Vietname. 
Desertores, mercenários, traficantes, soldados comuns e aventureiros numa mistura que apenas o Mekong harmonizava, nos dias da estação das chuvas. 
A Havana da Indochina tinha um casino ambulante, uma fronteira fluida com a Tailândia, bares repletos de fumo, música violenta e mulheres que acalmavam as angústias dos guerreiros do Apocalipse.
Hoje Thakhek é o lugar do fim da linha, uma paragem técnica e Kop Chai Po é o restaurante que capta a essência da memória nas madeiras pesadas e ressequidas que forram o soalho e diluem os ruídos das inquietações dos espíritos que aqui ficaram presos a este passado. 
Cinquenta anos é muito tempo e uma geração inteira de funcionários, de ideologia e de novas formas de fazer a guerra canalha, tiraram toda a adrenalina e Thakhek transformou-se em paragem técnica do roteiro mochileiro oriental. 
E enquanto derretíamos mais um fim de tarde de nostalgia de fronteira em baldes de bier Lao, uma dose temperada de mosquitos e uma grande bola de fogo a sobrevoar um horizonte chamado Tailândia, repetia para comigo que a cidade se deve ter referido ao seu futuro em nome próprio, e isso é garantia de mau karma 
Nos arredores de Thakhek nas grutas do buda, enquanto o sol se põe, uma nova família entra na gruta para render uma outra família na vigília ininterrupta que os aldeões insistem em   fazer aos duzentos budas descobertos por um camponês quando caçava morcegos, ao que se consta, para comer. 
Os patriarcas e as matriarcas, a prole de filhos, incenso e velinhas, cestas de oferendas e pulseiras da sorte e um olhar vigilante sobre os visitantes. 
Sente-se bom karma no local, porque tal quantidade de budas é sinónimo de que os monges por ali passaram muitos séculos atrás. 
Aqui ninguém falou do futuro em nome próprio, limitaram-se a aceitar o que o passado lhes deu.
 


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