A Livraria Cosecha é um recanto de revolução, no sentido puro do tema porque apela ao estudo, à reflexão abrangente da realidade que nos rodeia e à ação comprometida através da palavra escrita e da partilha da diversidade.
Sem destino preciso folheei "Sobre o duelo" de Chimamanda Ngisu Adichie, uma história de separação entre pai e filha, o pai que morre na pandemia, longe, na Nigéria
É um espaço apertado, cuidadosamente organizado por temas, produtos gráficos e literários e autores improváveis, temas de investigação. todas as feridas que matam o México e o mundo, a emigração, o narco, as endémicas guerras do mundo, um altar do dia dos mortos dedicado a uma criança morta na Palestina, a coleção de postais dos zapatistas, do comandante Marcos, cartazes com mensagens fortes ou cores expressivas com personalidade de tradição indígena, prémios Camões, Pepetela e Lídia Jorge, e imagens da mesticidade, edições de investigação e revistas universitárias.
Num país em que a palavra Revolução se proclama tão alto e se repete tantas vezes como se perde com frequência em discursos de retórica e deixa de lado os mais excluídos, aqueles que não tem sequer acesso à palavra, a livraria Cosecha em San Cristobal de las Casas é um lugar que respira inclusão e diversidade, numa voz firme, mas contida, deixando as interpretações ou as opiniões para as quem quiser aprofundar.
Revolucionário, portanto
No cemitério de San Cristobal neste domingo, dois de novembro, vive-se a festa católica do dia dos mortos, rituais diferentes dos maias, um cemitério católico com campas e jazigos mas a mesma festa que no dia anterior, apenas de uma forma um "pouquito mais católico" porque as famílias vêm para os jazigos, comer e beber, jogar jogos de família e partilhar recordações e bebidas, como a mistela chamada Nancy.
Beber com amor porque estão felizes por receber os seus mortos
Porque basta não os esquecer.
Como referia uma transcrição de Pedro Lemebel, a quem o New Yorker apelida de uma voz radical para tempos calamitosos, colocada ao lado da porta de entrada da livraria Cosecha "Olho de louca não se equivoca"
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