Pesquisar neste blogue

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

La China Poblana

 

Há um potencial milagre ou um fenómeno paranormal em cada esquina de Puebla, para quem vagueia por lá numa manhã de Sol, adelante e bienvenido nas arcadas do Zocalo, espreitando para dentro do café que ocupa hoje o edifício Jenkins, o primeiro armazém ao estilo francês que foi inaugurado na cidade, desgraçadamente para o sr. Jenkins o ano de 1910 não foi muito favorável ao empreendedorismo comercial, e a sua ideia foi triturada pela revolução mexicana, mas o edifício ficou e, durante os últimos cento e vinte anos, nunca deixou de exercer atividades comerciais.
La dentro, do outro lado do vidro, um velhinho sublinha furiosamente o jornal no interior do café jenkins, certamente procurando assegurar-se de que nenhuma data relevante é obliterada pelas ingratidões da história. 
Mas os primeiros milagres moram no templo de São Francisco, uma localização um tanto periférica para um fenómeno tão sublime, mas com uma vista única sobre um dos vulcões ativos que rodeia a cidade.
As instruções, junto ao altar do templo são claras: se pretende pedir um milagre para a saúde de  alguma pessoa por intervenção do beato Sebastião de Aparício, providencia toda a informação médica antes do milagre e reúne também a documentação médica de que o paciente já está curado, que a cura não está explicada e o seu efeito dure para sempre, tem na tua posse os testemunhos do milagre porque desta forma poderemos obter a canonização do beato Sebastião de Aparício.




Lá fora, para lá do horizonte, o vulcão continua a cachimbar.
Do outro lado da rua dois velhinhos beijam-se prolongadamente, talvez porque tenham saído do pincel ou do spray de um artista de rua inspirado pelos milagres do beato.
Na casa de alfanique não ocorreram, segundo consta, milagres, apenas amor e lenda, uma casa que ficou com um aspeto exterior de doce de alfanique - seja lá como ele se parece - porque a noiva exigiu ao proprietário, como prova de amor que ele construísse para ela uma casa doce e ele assim fez.
Uma cidade de histórias que se contam nas ombreiras das portas, nas esquinas das ruas ou nos interiores das casas palácio dos novos donos da nova Espanha, e que a republica decidiu transformar em espaços de memória.
E a história das China Poblana é quase um milagre como algumas mulheres de classe baixa e de origem pouco conhecida tenham criado uma moda de vestir com roupas vistosas, de corte e cores inspiradas no artesanato indígena, que ninguém  tinha visto antes nem mesmo entre os  indígenas, e se tornaram um símbolo de independência das mulheres que as usavam.
Notável, especialmente por ter sido no século dezanove.
E, sem que a nossa retina se consiga concentrar numa só ideia, as imagens começam a sobrepor-se na linha do tempo, à medida que nos puxam para fora da cidade, para a descoberta do velho sul;
Os distribuidores de bilhas de gás que anunciam o seu serviço, rua fora, em carrinhas de caixa aberta com uma música de fundo que, em mesmo tudo, nos recordam os dias de tourada e cruzam-se em contramão com o afiador de facas na sua bicicleta tão ferrugenta quanto a gaita que sopra;
Um outro velhinho, diferente do outro do dia anterior, estava sentado noutra rua, com outro chapéu estendido dando música à rua inteira com outra coluna de som, esta com luzes de néon azul;
E as aparições celestiais na narração de san miguel;
E os altares das oferendas na casa de cultura;
E os blindados do exército mexicano que se passeiam na cidade histórica com soldados armados de pé nas traseiras de uma caixa aberta;
E a fumarola do vulcão que se mostra ao fundo outra vez;
Para nós e para ti, cidade nomeada quatro vezes heroína, segundo rezam as evocações narradas nas esquinas da cidade, porque a história do México é feita de batalhas e invasões algumas vezes derrotas outras conquistas sem ordem precisa porque, no México, mais importante do que as vitórias são os atos heroicos e os heróis improváveis, mesmo que afundados em copiosas humilhações e derrotas
Quiçá, uma prova de confiança no milagre deles!



Sem comentários:

Enviar um comentário