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sábado, 27 de dezembro de 2025

O lugar das grandes águas

 

No dia 15, entramos na vertigem do final, a mesma vertigem com que começamos a descer das serras do interior central para as planícies do yucatan e para o mar.
E, contra as piores expetativas possíveis, não nos cruzámos com a revolução zapatista que consta ter o hábito de descer dos montes e montar umas portagens informais no meio das estradas
Anda tudo tão calmo com a revolução - segundo informações pouco fidedignas - aparentemente em reflexão silenciosa, agora que, passados trinta anos, desapareceu o efeito surpresa, e que o mundo e a perceção popular do que uma revolução pode ser, mudou.
E, em Palenque, o lugar das grandes águas, provavelmente devido as cascatas de água que existem no local, situa-se o sítio arqueológico, o charme maia entre a planície e a serra, no meio da imensidão da selva.
Toda a envolvente desperta o melhor que há nos nossos sentidos, mistério, natureza e antiguidade de esplendor maia, como se o mergulho da tarde nas cascatas da água azul, nos tivesse purificado a alma e preparado o corpo para os rituais maias do dia seguinte.
No hotel MayaBell, os ruídos da selva confundem-se com a chuva e com os sons dos clássicos que se ouvem no arejado bar do hotel.
O Templo das Inscrições, o Palácio e o que se julga ser a sua Torre de Observação Astronómica, o Tempo da Cruz e o Templo do Sol são estruturas notáveis que realçam da selva, mas também do silencio que ainda reinava naquela manhã precoce, no lugar, onde os ainda poucos visitantes entendiam o privilégio e olhavam, com respeito, para as realizações dos nossos antepassados que viveram, mais de sete séculos, nas fronteiras do mundo maia, mas também nas fronteiras entre os reinos da planície e das montanhas.
Voltámos a estrada, e à musica dos clássicos, e em Catazajal em frente ao lago, comemos ceviche e peixe de rio assado ao vapor, enquanto observamos as crianças que regressam da escola para casa de barco e fazemos figas que ave predadora que sobrevoa o local não ataque as famílias de patos e de aves de pequeno porte que posam na vegetação anfíbia que se ondula, em frente aos nossos olhos, como se de uma miragem se tratasse.
Atravessamos terras de ganadeiros e voltamos a ver pequenos mexicanos de grandes chapéus de volta de estábulos que forravam a paisagem.
O condutor - o gordito já chegou, teria atirado o nosso intermediário, no inicio da viagem - mantem-se firme no compromisso de chegar a horas e não se desfazer nos buracos de uma estrada de bom traçado, mas a precisar de reparação desesperada e trás, no banco da frente, a mulher e a filha de quatro anos, como se precisasse de nos inspirar confiança.
Os camiões são grandes, muitas vezes com longos reboques, tao grandes como o México consegue ser, mas o gordito também é imenso e nunca nos desilude, naquele soberbo sorriso de um otimismo tal que nos deixa, invariavelmente. comovidos.
Ao anoitecer chegamos ao mar do Caribe, às noites quentes e húmidas, aos sons tropicais, aos homens temperamentais, os descendentes dos piratas que assolaram a costa e as muralhas e mudam outra vez os cheiros e as cores.
Ao anoitecer chegamos a Campeche.
Mas o gordito e a sua família voltaram para casa naquela mesma noite. Sem tempo de descanso.
Por isso. o otimismo deles é tão extraordinário.



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