É pressuposto começarmos pelo princípio, um povoamento datado de dois séculos
antes de cristo, não é que que estes simbolismos de calendário interessassem muito a estes povos mesoamericanos que só conheceram o novo Deus barbudo muito
tempo depois (e tarde demais ao que parece) e que construíam pirâmides de
adoração ao Sol e à Lua e alamedas que
lembravam os mortos.
Muito antes daqueles povos que tiveram um lugar especial na História, primeiro os Maias, depois os Aztecas.
Mas em Teotihuacan, as pirâmides afinal não são pirâmides, são estruturas escalonadas porque não têm bicos, nenhuma delas é dedicada nem ao sol nem a lua, nem a alameda dos mortos era o cemitério da antiguidade, e tudo o que aqui vemos hoje resulta de uma interpretação azteca (portanto também pré-hispânica) do que eles descobriram, uma cidade cerimonial abandonada por uma civilização que tinha povoado aquele local mil e quatrocentos anos antes dos aztecas e que terá abandonado o local por exaustão de recursos naturais, ao que consta, por falta de água, esgotada pelo mito da criação da humanidade, “as montanhas que emergiram a partir da água”.
Abandonado por volta de 600 anos antes do aparecimento dos aztecas, enquanto grupo identitário próprio, por causas que nós, contemporâneos, temos dificuldades em conceber, porque ainda acreditamos que a tecnologia e o saber tornam os recursos naturais ilimitados.
A partir do lugar onde os deuses foram criados (assim se traduz Teotihuacan) do alto das escadas da pirâmide da Lua contemplamos a alameda doa sacrifícios ( eles juram que eram voluntários porque o sangue dos humanos fertilizava a terra e acalmava os deuses, mas nem do alto da pirâmide que não é pirâmide eu acredito, perdoa-me Rosa, a nossa contadora de historias local) e repetimos mentalmente as formas como esta civilização procurava resolver os mistérios da criação e justificar a necessidade das cerimonias e dos rituais.
Somos a quinta humanidade (aparentemente seremos sempre a quinta humanidade em todos os presentes) a última - depois de nós virá o diluvio e veio, séculos depois, encarnado num barbudo de capacete.
E Quincuce, o símbolo principal das culturas mesoamericana, representa os cinco pontos cardinais, incluindo o centro como ponto cardinal, porque eles achavam que a terra era plana, também os cinco elementos da natureza, incluindo a raça humana e as cinco humanidades, depois das quatro anteriores se terem extinguido por ordem de cada um dos Deus Sol.
Iras que só o Deus Sol conseguiria provocar. catástrofes naturais, como na terceira humanidade em que o vento empurrou a humanidade pelo mundo abaixo, como se o mundo fosse uma folha de papel a sobrevoar o vazio.
Pronto. Começámos, ainda que atabalhoados pelas diferenças de fuso horário, pelo princípio
Muito antes daqueles povos que tiveram um lugar especial na História, primeiro os Maias, depois os Aztecas.
Mas em Teotihuacan, as pirâmides afinal não são pirâmides, são estruturas escalonadas porque não têm bicos, nenhuma delas é dedicada nem ao sol nem a lua, nem a alameda dos mortos era o cemitério da antiguidade, e tudo o que aqui vemos hoje resulta de uma interpretação azteca (portanto também pré-hispânica) do que eles descobriram, uma cidade cerimonial abandonada por uma civilização que tinha povoado aquele local mil e quatrocentos anos antes dos aztecas e que terá abandonado o local por exaustão de recursos naturais, ao que consta, por falta de água, esgotada pelo mito da criação da humanidade, “as montanhas que emergiram a partir da água”.
Abandonado por volta de 600 anos antes do aparecimento dos aztecas, enquanto grupo identitário próprio, por causas que nós, contemporâneos, temos dificuldades em conceber, porque ainda acreditamos que a tecnologia e o saber tornam os recursos naturais ilimitados.
A partir do lugar onde os deuses foram criados (assim se traduz Teotihuacan) do alto das escadas da pirâmide da Lua contemplamos a alameda doa sacrifícios ( eles juram que eram voluntários porque o sangue dos humanos fertilizava a terra e acalmava os deuses, mas nem do alto da pirâmide que não é pirâmide eu acredito, perdoa-me Rosa, a nossa contadora de historias local) e repetimos mentalmente as formas como esta civilização procurava resolver os mistérios da criação e justificar a necessidade das cerimonias e dos rituais.
Somos a quinta humanidade (aparentemente seremos sempre a quinta humanidade em todos os presentes) a última - depois de nós virá o diluvio e veio, séculos depois, encarnado num barbudo de capacete.
E Quincuce, o símbolo principal das culturas mesoamericana, representa os cinco pontos cardinais, incluindo o centro como ponto cardinal, porque eles achavam que a terra era plana, também os cinco elementos da natureza, incluindo a raça humana e as cinco humanidades, depois das quatro anteriores se terem extinguido por ordem de cada um dos Deus Sol.
Iras que só o Deus Sol conseguiria provocar. catástrofes naturais, como na terceira humanidade em que o vento empurrou a humanidade pelo mundo abaixo, como se o mundo fosse uma folha de papel a sobrevoar o vazio.
Pronto. Começámos, ainda que atabalhoados pelas diferenças de fuso horário, pelo princípio
Mas regressar aos confins da história do planalto, exige uns cinquenta
quilómetros de regresso abrupto ao presente, uma intrusão insolente de realidade, de ruídos de uma vida
sofrida, favelas com os teleféricos como o novo instrumento de inclusão, que
transporta o povo pelas encostas abaixo para participar na construção do dia
mexicano, os muros brancos das bermas das autoestradas que são uma cacofonia de
animais ferozes, de manifestos políticos, de publicidade a produtos de consumo
ou de serviços de aconselhamento.
O autocarro regressa cheio à metrópole, e regressa também a intensidade dos cheiros, a azafama das pessoas, dos vendedores ambulantes com as suas trouxas, dos engraxadores de sapatos, das taquerias de rua, umas nos passeios, outras nos cruzamentos sobre o asfalto, quer os semáforos estejam verdes ou vermelhos, ou apenas transeuntes que se agitam nas bermas da estradas e das ruas, nas escadarias do metro, sempre sem tropeçar no comércio que alimenta milhões e dá de comer a muitas centenas de milhares.
Assombroso, impossível de parar de tão intenso, tão esmagador, que te empurra na frente deles e te transforma em poucas horas em mais um chilango entre milhões, mais um entre iguais, porque é assim que eles sempre nos olharam, talvez por termos aprendido rápido a sair a correr das carruagens do metro sem ficar entalados nas suas portas que não esperam por ti, europeu habituado a um longo normativo de conformidade que te protege em todos os cenários de aperto.
Aqui, na vertigem do tempo e do espaço que escasseia, não há tempo.
Mas no mercado de San Juan, o tempo pausava, o mel sabia a café e o ceviche que vinha do mar, cheirava a maresia, apesar de tão longe do mar, apesar de tão longe do campo, tudo era genuíno nas mãos e nos olhos do Victor, antes o Victor de Acapulco, agora o Victor o Sereio, sim, o Victor como o masculino de Sereia.
Como o Miguel, quando nos encheu as mãos de gomas e de bolas de chocolate e a boca de provas de doces, sem saber se nos venderia algo, e nos pedia desculpa de não poder fazer mais desconto.
Ou como os cantores informais que tinham a voz, como instrumento único, e que pediam emprestado o som a uma coluna de potência indeterminada, mas não poupavam a voz e o coração que dela saia.
Na cidade todos, mesmo os cantores, parecem cantar mais alto e ao desafio, é uma alegria desenfreada para quem quer sobreviver. E quando voltamos à rua, para visitar a biblioteca Vasconcelos, percebemos que a cidade é esmagadora, até no silêncio e nas linhas arrojadas de sua arquitetura contemporânea, um silêncio sepulcral, um espaço publico onde os livros se encavalitam nas prateleiras metálicas que forram o espaço que as pessoas consultam sem a presença de bibliotecários, apenas com uma simples revista na porta de saída.
Mas alguns refugiam-se na biblioteca Vasconcelos apenas para descansar uns breves minutos da vertigem que é a urbe.
Sim, o povo canta alto para não chorar
Como os mariachis da praça Garibaldi.
O autocarro regressa cheio à metrópole, e regressa também a intensidade dos cheiros, a azafama das pessoas, dos vendedores ambulantes com as suas trouxas, dos engraxadores de sapatos, das taquerias de rua, umas nos passeios, outras nos cruzamentos sobre o asfalto, quer os semáforos estejam verdes ou vermelhos, ou apenas transeuntes que se agitam nas bermas da estradas e das ruas, nas escadarias do metro, sempre sem tropeçar no comércio que alimenta milhões e dá de comer a muitas centenas de milhares.
Assombroso, impossível de parar de tão intenso, tão esmagador, que te empurra na frente deles e te transforma em poucas horas em mais um chilango entre milhões, mais um entre iguais, porque é assim que eles sempre nos olharam, talvez por termos aprendido rápido a sair a correr das carruagens do metro sem ficar entalados nas suas portas que não esperam por ti, europeu habituado a um longo normativo de conformidade que te protege em todos os cenários de aperto.
Aqui, na vertigem do tempo e do espaço que escasseia, não há tempo.
Mas no mercado de San Juan, o tempo pausava, o mel sabia a café e o ceviche que vinha do mar, cheirava a maresia, apesar de tão longe do mar, apesar de tão longe do campo, tudo era genuíno nas mãos e nos olhos do Victor, antes o Victor de Acapulco, agora o Victor o Sereio, sim, o Victor como o masculino de Sereia.
Como o Miguel, quando nos encheu as mãos de gomas e de bolas de chocolate e a boca de provas de doces, sem saber se nos venderia algo, e nos pedia desculpa de não poder fazer mais desconto.
Ou como os cantores informais que tinham a voz, como instrumento único, e que pediam emprestado o som a uma coluna de potência indeterminada, mas não poupavam a voz e o coração que dela saia.
Na cidade todos, mesmo os cantores, parecem cantar mais alto e ao desafio, é uma alegria desenfreada para quem quer sobreviver. E quando voltamos à rua, para visitar a biblioteca Vasconcelos, percebemos que a cidade é esmagadora, até no silêncio e nas linhas arrojadas de sua arquitetura contemporânea, um silêncio sepulcral, um espaço publico onde os livros se encavalitam nas prateleiras metálicas que forram o espaço que as pessoas consultam sem a presença de bibliotecários, apenas com uma simples revista na porta de saída.
Mas alguns refugiam-se na biblioteca Vasconcelos apenas para descansar uns breves minutos da vertigem que é a urbe.
Sim, o povo canta alto para não chorar
Como os mariachis da praça Garibaldi.



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