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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Akbar



Conhecer os grandes Mughals é um imperativo histórico. Oriundos do Uzbequistão, no princípio do século dezasseis, estes persas são os responsáveis pela herança muçulmana da grande India.
Babur marchou sobre Delhi e foi coroado imperador do Indostão, e derrotou os Mewar a sul, numa guerra santa contra os infiéis hindus.
O seu filho Humayun suprimiu as rebeliões e consolidou o império, perdeu-o para os afegãos e recuperou-o por acaso.
O pai era obcecado por literatura e o filho por astrologia e astronomia
Akbar foi coroado com catorze anos após a morte do pai e não tinha qualquer educação formal, mas foi o maior dos reis Mughal que reinaram na India entre os séculos dezasseis e dezoito. Não se apelidava de rei porque o único era o Sultão, apesar de reinar um dos maiores impérios do mundo.
Construiu uma nova capital, chamou à cidade dignatários de todas as religiões, incluindo católicos e judeus, debatiam política e religião no seu palácio, ele o Sol, os outros os astros. Casou com uma Hindu, eliminou os impostos exclusivos para não muçulmanos e introduziu elementos da arquitetura local nos seus palácios.
Mas o consenso e a convivência pacífica entre religiões, morreu com Akbar, em 1605, apesar do império se ter mantido no auge por mais cem anos de traições fratricidas, de imponência arquitetónica e de alianças estratégicas.  
Aurangzeb, o último dos grandes imperadores reinou com uma fúria ortodoxa contra os outros povos e religiões e, tal como previu, depois dele só o caos, entregue numa bandeja aos novos senhores, os ingleses que, em meados do século dezanove eram os novos senhores da península.
Mas quando chegamos a Agra sentimos, tal como em Delhi, uma herança muçulmana tão forte que nem a neblina apaga.
São os sons do chamamento à oração, são os túmulos dos grandes imperadores, obras de uma imponência e de uma riqueza só possível numa terra de pedras preciosas e de imensas histórias de amor.
E apesar da história da grande península não ser um conto de fadas e a grande nação hindu que governa a India moderna não venerar os corpos após a morte, quando caminhamos ao longo destas magníficas obras do génio humano, respira-se o espírito de Akbar, rodeados de milhares de seres humanos que festejam os símbolos de grandiosidade do passado, sem crenças ferozes, com uma curiosidade perante o diferente e um espírito que lembra a brisa que vem do rio e desvanece o nevoeiro que acorda com a cidade.
Às dez horas na fortaleza vermelha e ao meio dia no Taj Mahal, não me recordo de ter visto hindus e muçulmanos, apenas grandes famílias que contemplavam as pedras brilhantes do túmulo da mulher amada com o mesmo deslumbramento com que nos rodeavam a nós, europeus, apertando as nossas mãos e fotografando-nos com o mesmo despudor que nós a eles.
Nos santuários da India muçulmana, vivem-se momentos fugazes de consenso e curiosidade cultural.

A herança de Akbar!





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