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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Puente Vizcaya – Engenhoso século XIX


Á entrada do fervilhante porto de Bilbao, nasceu uma obra magnífica do pragmatismo na era industrial: uma ponte que não é ponte mas funciona como tal sem estorvar o movimento de entrada e saída de navios de grande porte no porto de Bilbao.
1893, uma aliança fértil entre a arquitetura e a engenharia, o primeiro sinal de que Bilbao viria a ser, entre outras coisas, vanguardista.
Esta ponte não foi única, mas foi a única que se ousou reconstruir depois da destruição da guerra, com uma perseverança obviamente digna de um monumento, hoje orgulhosamente Património da UNESCO.
E os habitantes de Portugalete e Gexto continuam a usar o monumento como um objecto utilitário, que liga as margens em um minuto, trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
Orgulhosamente anunciado.
“ Se funciona hoje? Claro, senão como poderia regressar a casa? " – o empregado do café de Gexto, um Portugalete absolutamente assumido, tirou todas as dúvidas de que a ponte afinal era ponte.



O ferry (Air?) suspenso ou basculante, atravessa com uma leveza de papagaio de papel, preso pelas costas como um acrobata previdente e todo o movimento pode certamente ser explicado pelos princípios da mecânica.
Nós, de certificado na mão, subimos aos cinquenta metros de uma vista deslumbrante e atravessámos por cima dos imaginários paquetes de luxo que já se sujeitaram à superioridade técnica da ponte, abanámos a nossa adrenalina, quando a roldana do pássaro fazia estremecer a passadeira e rendemo-nos ao vento norte que nos fustigava o rosto e o nosso equilíbrio, que sentíamos permanentemente ameaçado – obviamente apenas medo das alturas.
É uma sensação que supera definitivamente meia dúzia de pintxos (tapas) ao almoço, regadas de duas cañas.
Constam as crónicas que a (longínqua) família real deslumbrava-se como as crianças em voltas de carrossel de uma margem para a outra!
Tão surpreendente quanto a estrutura metálica – de um orgulho chamado ferro, a arte feita com os abundantes recursos da terra, certeza de que a arte é também um reflexo da indústria – são as margens, também elas com um atmosfera fim de século, que não pretendem disfarçar.
Constam as crónicas que emergiram como colónias balneares, e os espíritos dos elegantes veraneantes do século XIX, moldam as fachadas das moradias, do pequeno hotel ao lado da ponte, do varandim branco e dos candeeiros serenos plantados ao longo do passeio fluvial, rio quase mar.
Apesar dos miúdos de piercing no nariz que povoam este espaço, como seres completamente deslocados da atmosfera ainda persistente.
Transbordador, é como lhe chamam e, segundo Norman Foster, ilustre visitante, “é muito mais que as suas componentes funcionais e estéticas. Assim mesmo nos recorda com carinho toda a sociedade progressiva que suporta a cidade, determinada a criar, financiar e edificar uma estrutura tão memorável, para satisfazer as suas necessidades de transporte”.
Ele sabe, e nós acreditamos!



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