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sábado, 4 de março de 2017

Confluências


A mesquita de Córdoba é um lugar de confluências
(pressuposto)

E é o que transparece do silêncio filtrado pelas luzes ténues que se infiltram nos vitrais das capelas e da nave central convertida aos reis católicos, e que conferem aos arcos mouriscos uma tonalidade indefinida, entre o laranja exuberante e o rosa subtil



É uma ideia sedutora, porém um circuito de sinuosas traições e de alianças imprevistas.
Caminhando em círculos, perdemos a noção da cronologia dos factos porque o que prevalece é a perspetiva presente, diluída pelos retoques da História.
É um sinónimo de diálogo implícito, porém à espreita de um elo mais fraco que condene.

A nave central constitui uma intromissão de luz no orgulho do califado, como que uma vontade explicita de submeter conjunto original a uma nova ordem triunfal
(não é tanto assim, porque afinal de contas na sua génese esteve uma capela visigoda)



São moiras de cabelos soltos, e uma tez escura com sotaques de mestiçagem e, neste domínio não há submissão, apenas genética.

Os sons de flamengo que sobrevoam a atmosfera exterior confluem em uníssono para a praça central impregnando as ruelas da judiaria.
(Também eles, judeus, crentes do mesmo Deus)

Confluência e paixão pela proximidade, que representam o nascimento de uma nova espécie de Homem.
Apesar de a confluência ser, para já, um estado efémero.
(as sucessivas e massivas conversões forçadas constituem todos os epílogos da História, uma significância estatística)
E a única certeza é a de que, enquanto houver história, estaremos sempre em suspenso quanto ao final.
Haverá sempre Sultões que se apaixonam por princesas cristãs em cativeiro e seres que se recusam a demolir o belo, por amor à arte
(sorrisos)

E, quando pela primeira vez hoje de manhã me apodero da palavra certeza, porque na direção do meu olhar está indiscutivelmente Meca (é histórico, porque está referenciado, é geográfico porque está comprovado), este miradouro da cidade santa do Islão é invadido por dezenas de japoneses que a fotografam sem pudor e registam que, no confronto das culturas, há sempre uma terceira via: a da tecnologia em bruto e do sorriso infantil e deslumbrado pelo registo de imagens.


Ou na esperança de, um dia, se descobrir um Homem novo.


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