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sábado, 25 de março de 2017

Há lamas no Ribatejo



(No roteiro dos lugares esquecidos ou à descoberta dos grandes espaços do interior)



Há lugares assim.
Esquecidos dos roteiros da memória coletiva.
Lugares indissociáveis de qualquer referência histórica ou acontecimento relevante.
Lugares sem pronúncia.
Tão esquecidos que não conhecem o sabor da pastelaria em horas mortas (e também nas outras) e onde só o sabor do café nos mantém ligados ao território dos vivos.
Tão alienados que baixam os olhos (desconfiança ou temor) e, soturnos, não ousam enfrentar as expressões curiosas dos forasteiros ou os passos furtivos dos salteadores fugazes.
Nos confortes da aldeia, ainda pairam as memórias de amores discretos de uma nobreza já defunta, odores de fumo espesso e aromático, sons de festas distantes que se impregnavam de vaidade e poder nos veludos e nas carpetes dos espaços de uma vivência quase feudal.



Nos castelos à beira da barragem, nas pontes de madeira desmembradas pelo peso de um tempo passado, sente-se a intromissão do espaço público pelos domínios privados, relembrada pela ermida do monte, que insiste em acender as velas pelos defuntos da aldeia.
Hoje, sente-se o silêncio da orfandade perante a partida dos senhores da aldeia, apenas fugazmente perturbado pelo apetite dos caçadores de tesouros que, por ali assomam, quando as árvores dão a pele, o corpo e, amiúde, a alma.
No acenar de olhos do casal idoso que enfrenta a estrada num pequeno trator, no abanar agitado de cabeça “do ganzado da terra”.
Em nenhures, onde o Alentejo e o Ribatejo vivem de costas voltadas.



P.S Sim, é verdade que há lamas no Ribatejo



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