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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Your new (other) Homeland



Juan, ou qualquer outro apelido, fala depressa e soa familiar nas traseiras de Notting Hill, não divaga perante os temas do lixo, um assunto tão sério quanto o verde da sua farda, ou o cuidado do bordado que a recorta, com uma caligrafia arredondada, muito própria de um súbdito de uma monarquia que trata cada jardim como se os pássaros que o povoam fizessem parte do património real, que aliás insistem em assobiar ao ritmo do nascer do Sol, todas as nobres manhãs.
Percebe-se que viver no prédio do espanhol é prova de estatuto, porque também ele (como os pássaros) assobia com admiração e prontifica-se a ajudar no que for preciso.
O lixo é um assunto muito sério e, afinal de contas, não valia a pena continuar a largar os sacos do lixo debaixo do taipal das obras do quarteirão do lado
Basta no quintal, que o espanhol trata!


Oito e quinze da manhã, ou uma outra hora qualquer e o espelho não é uma miragem, é a certeza de que ninguém se deve atrever a curvar em duas rodas, não vá a escada nos cair em cima ou um degrau ser atropelado pela pressa da cidade
Mind the Gap, e o barbudo que se cuide!


Breves minutos depois de uma hora qualquer, o mundo rola em direção contrária, à procura do conforto da estação terminal, lá para sul, para a terra do ferreiro.
Ali começa o território da revolução industrial que a cidade só agora começa a devorar.


A mulher procura esgueirar-se entre a plataforma e a gare, mas fica presa na faixa de sol. Afinal já é meio-dia e, porque hoje mudou o turno, esta já não é mais uma estação de partida.
Para lá de Ladbroke Grove só há trabalho e cidade esplendor.
O verdadeiro centro da cidade


Afinal não são oito e um quarto, nem meio-dia, já passam quinze minutos do novo tempo, as horas vão ser sempre diferentes, e a rotina terá sempre tonalidades e intensidades de luz diferentes


Nos subterrâneos do museu de cera, ou do banco do Mo, ou do café do Costa é sempre noite, qualquer que seja o dia ou a hora, mas mantém-se a distinta postura real das letras impressas e dos locais de uma nobreza inquestionável.
Sempre vinte minutos antes da hora e, porque já mudou o turno outra vez, são hoje vinte para as nove e a mulher presa na faixa do sol apressa-se para apanhar o trabalho!



Doze pences de pontos vale um café e um bolo de chocolate
À chegada à superfície, os guindastes não deixam mentir: mesmo no centro da nobreza, a cidade continua a reinventar-se



O W é uma verdadeira prova de dedicação e empenho
Repenicado 
Desenhado
Amor Monárquico em dia de concerto no Royal Albert Hall!


...marco, ponto de referência, solidez de uma construção que tem fundações e que se reveste de materiais duradouros.
Cá fora, a urbe atropela-se com estilo.


O bairro sobreviveu às estrelas, reergue-se todas as semanas depois do mercado de sábado, sacode a poeira e o incómodo das ruas e das janelas e desperta para a sua vida própria.
Sempre de regresso a casa, um espelho de cores e portadas berrantes, não fosse- segundo eles - um bairro de mente latina!


É sempre dia de mercado na rua do porto belo e, numa manhã de sol, a sonolência roça a lascívia e estende-se pela colina acima, e o meu arco-íris de tijolo antecipa que também haverá nuvens no céu.
Mas o arco invertido, parece um baloiço protector dos seres que habitam para lá das janelas de guilhotina, impedindo-os de deixar rolar as suas cabeças nos dias em que não houver céu.
Mas hoje faz sol e é mesmo dia de mercado e ninguém entende porque me ajoelhei perante o reflexo das vidraças



As esquinas deste bairro de mente latina - dizem eles - parecem de papelão e, se não fosse o contrário, diria que eram inspiradas nos estúdios de cinema.
Por isso é que é impossível não aproveitar o sol de primavera sentado numa esquina, à espera que nada aconteça, sabendo que o cabeludo de chapéu coçado está a chegar com o seu violão, tão roufenho e enxovalhado que só pode ter sido resgatado, no passado sábado, da feira vintage que por aqui passou. 



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