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domingo, 5 de abril de 2015

Walking Distance III - Movimentos

Sempre senti um fascínio canino pelas rodas das bicicletas, enfim, por todas as rodas.
Cidade é movimento, e não há melhor forma de definir uma urbe que não seja através dos seus meios de transporte: cidade verde, cidade industrial, cidade jovem, cidade enérgica, cidade mãe, cidade rio, cidade frenética, cidade negócios, cidade história, cidade moda, cidade pressa, cidade frenética, cidade monumental ...
E quase sempre, fico em terra!



Lugares do morto


O Museu / Fundação EDP é um (meu) espaço de veneração, não fosse ele/a o abrigo do World Press Photo, dos sete mil milhões de seres, dos momentos de paz interior nos espaços silenciosos da outrora ruidosa central eléctrica, rodeado de arte de vanguarda (ou apenas contemporânea) e até me esqueço do preço que pago pela electricidade (entre outros inaceitáveis privilégios).
E a saída do museu é um ritual: sempre pela saída do rio (e a entrada sempre pela entrada terra), respiro o rio, seja de dia, ao anoitecer ou de noite, volto-me para a imensidão de tijolo vermelho que nos enfrenta e sinto-me uma espécie de revolucionário industrial, cercado de máquinas do passado e da ponte sobre o Tejo.
Naquela tarde de Maio, encolhi-me no corredor dos peões e agarrei-me ao único pedestre que circulava na via certa.

( Maio 2014 - Lisboa ribeirinha)



Voando sobre o mar da palha


E em Junho voltei ao teleférico da Expo, porque de toda a família só ela, a mais graúda e mãe de família nunca tinha sobrevoado o mar da palha. Dezasseis anos depois da Expo, a máquina ainda funciona e a vista do carrossel continua surpreendente...como se fosse a primeira vez, no dia 18 de Agosto de 1998, quando levei o miúdo à Expo de barco, e a mãe não veio porque a irmã tinha nascido.
O mesmo rio mar da palha, naquele castanho pardacento, o mesmo passadiço de madeira moderna, só as sombras horizontais de um fim de tarde de Verão nos diferenciam da primeira vez.
Não resisti às seis sombras da direita, debruçadas sobre o (agora) cinzento rio, à sombra da bicicleta e à minha própria sombra, enforcada no poste, como um outro quadrado qualquer!

( Junho 2014 - Lisboa Expo)


Tripé


As filas de bicicletas municipais em descanso, a última das inovações dos presidentes modernos e populistas, é uma das tentações do Cristo feito fotógrafo..A estátua no topo da Gran Via, alinhada com a fila de bicicletas em V dava ao enquadramento o aspecto solene e depois,  e, quatro fotos depois, foi só esperar que a pequena se deixasse cortar a cabeça, salvando-me dos direitos de imagem.
Só o velhote dos braços cruzados pareceu não gostar que eu tivesse enrolado o parceiro em volta do quadro.
Menos óbvio foi o reflexo do anjo do alto da cúpula, na terra; a pequena que emerge no último V da imagem, uma sombra artificial de um qualquer elemento santificado pela cidade monumental

(Março 2015 - Madrid Gran Via / Cibelles)


Mind Games


Na City, tudo é mais arrumado, e não há selins de alturas diferentes, as bicicletas têm uma marca única e de respeitada solenidade...e porque os ingleses são mais distantes, deixei-os ao longe, vestidos de casual friday, transmitindo a errada imagem - no presente, um absoluto mito urbano - de que a cidade é limpa, geométrica, arrumada e verde.
Mind Games

( Setembro 2014 - Londres "City")


Close - Up


Esperam eles pelo eléctrico ou pela jovem que empurra um carrinho de criança?
Ou talvez a palmeira espere a jovem e os outros o eléctrico.
Movimento que, vindo do lado direito da fotografia, empurra os elementos estáticos, que se percebe serem oriundos da cidade histórica.
O close up possível da melhor vista da cidade!

(Dezembro 2014 - Porto Clérigos)


O ouro dos barbudos


Agachado entre mais ou menos um século de História - Terá durado mais o saque americano? - até acho que a torre do ouro não é tão impressionante como o sangue derramado ( ou o esplendor das conquistas, conforme a perspectiva).
Faltava-lhe contraste, apesar do amarelo falso com que a pintei. 
Ao fim da quinta fotografia, descobri uma utilidade dinâmica para a torre, contrastante que baste, seja qual for a ambição: escuro e claro, formas redondas e quadradas, vertical e horizontal, lazer (bicicletas) e trabalho (ouro, ou talvez guerra)

(Outubro 2014 - Sevilha)


Passadeira vermelha


Rodeado de símbolos da prosperidade da era do comboio a vapor, pareceu-me que a reconversão numa cidade de moda e lazer só estaria completa se estendêssemos a passadeira vermelha à elegância, ao espaço pedonal e à ciclovia inexistente, porque também há peões com duas rodas!

( Abril 2014 - Antuérpia)

Poster


Os fotógrafos machos da excursão, competiam pelo melhor poster. Eu acho que ganhei, porque a minha era mais graciosa que a deles!

(Abril 2014 - Antuérpia)


O revisor


Pelo meio do dia de um Sábado de Abril, aproximamos-nos convictamente do século XIV, mas ao contrário do que se poderia esperar de uma região que também foi proeminente por causa da sua capilaridade fluvial, viajamos de cavalo de ferro, a grande invenção europeia do século dezanove.
Porque somos muito modernos!
E o revisor era o único ser de carne e osso ao alcance da objectiva.

(Abril 2014 - Gent)


Aparição


Enquanto disparava furiosamente contra o ruidoso eléctrico do pós-guerra, surgiu-me uma aparição, solene, equilibrada e distante da trepidação frenética da cidade mercantil!
Puro acaso!

(Abril 2014 - Antuérpia)

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