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segunda-feira, 26 de março de 2012

Travessia


É um passatempo ver para além das silhuetas e dos rostos destes seres errantes que atravessam o rio para a península, deserto, margem sul, da cosmopolita cidade para o areal infinito que, depois de lá chegarmos, se revela insolitamente vazio, qual parque de diversões antes da abertura das portas.

A multidão ausente só se agrupa no cais e logo desaparece no branco do areal, no branco dos blocos de apartamentos e agora, versão estilizada, por detrás do enorme espelho (hotel, casino, design e conceitos) que reflete a marina, o canal, o céu, o rio e o mar, tudo em azul indistinto quase impossível de fotografar com contraste sem truques de pós produção.

Para onde vão? Porque vão?

Troia é o fim ao contrário porque devia ser o fim da península mas é o princípio…e o fim, apenas como uma ponte inexistente com a outra margem.

A Península existe pela ligação umbilical à outra margem, ao continente, à cidade, mas sem ponte ficou sempre a meio do rio, costas viradas para a sede do concelho (Grândola, vila morena), para a província que a adotou (Além Tejo e Sado).

Mas respirado o ar de Primavera inundada de Sol, mas com rasgos de ríspidos ventos do Norte – afinal existem ventos do Norte nos prelúdios do Sul – entendemos que Troia não se liga por ponte, de propósito, revelando um ADN ilhéu, entre o rio, o mar e a areia.

Tem tudo para ser uma ilha magnética!

As areias movediças parecem sugar a pressa, os rostos fechados de gente que parece vir trabalhar – para onde? – e outros que afinal procuram atravessar o rio em busca das terras do Sul – mas afinal quem é quem?

Não há verdadeiramente autóctones na ilha peninsular!

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