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quarta-feira, 14 de março de 2012

Angra, exótica decadência


Angra ontem de manhã luminosa dava-se ares de cidade do Império chamado mundo, com salpicos de Paraty ou Ceilão, vestígios e pequenos espelhos dos exóticos destinos, origens das preciosas e longínquas mercadorias.
Angra la preciosa, um porto de passagem que recebia pequenas gotas de seiva cosmopolita e de globalização (a primeira globalização portuguesa) que pingavam como gratificações num porto de abrigo imerso na cidade moderna e esculpida pelo Renascimento
Uma lógica de vivência "não somos aventureiros mas partilhamos as suas fronteiras"



Vista do alto da memória, a encosta e o vale compuseram-se em igrejas e conventos, convenientes repositórios de relíquias e tesouros descobertos no além-mar, pequena recompensa pela alma confortada, na ida ou no regresso, na derradeira fronteira entre o mar conhecido e o mundo!
A densa e exótica vegetação, a pedra escura e o mar azul profundo reforça a sensação de feitiço, uma conexão quase sobrenatural com a vontade de descoberta e uma necessidade de viver a centralidade, de absorver os cheiros, as cores, os sabores e os costumes dos confins do universo em permanente descoberta.
Passado, glorioso passado!


Mas na descida aos vales da Angra moderna, o feitiço de Vénus e Júpiter (também na Terceira o céu alinha Vénus e Júpiter, ali e em todo o lado numa combinação rara), tende a desvanecer-se no difícil balanço entre uma ruralidade predominante e uma juventude inquieta que reinventa a modernidade - e os seus clichés - numa reacção insular e portanto potencialmente exacerbada, um protesto latente porque cercado de água e (apenas) fisicamente (equi) distante dos modelos civilizacionais ainda na moda
Nesta manhã solarenga de Verão surpreendente (até nos Açores há Sol e seca nos tempos que correm) os figurantes da baixa da cidade parecem não se aperceber que eles, as ilhas e o Atlântico, unem hoje as pontas da civilização Ocidental
E é esta basicamente a nova utilidade funcional do Atlântico e dos seus habitantes!
Presente, entorpecido presente!
Bem-vindos ao novo entreposto entre a periferia económica e o centro cultural do mundo.
Seis séculos depois.


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