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segunda-feira, 26 de março de 2012

Azul


Atravessar o Sado num dia de Sol, numa manhã de semana sem pressas e de multidões ausentes é uma experiência azul, salpicada de rostos que se destacam da paisagem.

Este encadeamento de azul é um prelúdio das terras do Sul, uma luz que apenas o Sul tem!

E os tempos, os muitos anos não mudaram este lugar, esta mesma sensação dominante. Os barcos mudaram, a paisagem urbana das duas margens mudou e evoluiu (ou se construiu, equívoco após equívoco), mas o essencial permanece intacto desde que me lembro, com um bando de colegiais a estrear a época balnear no último dia de aulas, quando miúdos olhávamos o barco pneumático, símbolo da modernidade, que voava alucinante por cima das águas do Sado, e nós nos verdes jardins da margem, abençoados pela Santa que nos observava na redoma de vidro, par a par com a simplória arquitetura do Estado Novo.

Família, Pátria e Autoridade

A absolutamente idêntica sensação, décadas de criança, adolescente e adulto.

Na adolescência experimental de campismo quase selvagem, devorados por nuvens de mosquitos que enevoavam o azul em fins de tarde épicos e sem surpresas nas dunas que eram a fronteira das fronteiras, um pasto de esfomeados e microscópicos animais, hoje ilha entre condomínios privados.

Como adulto nostálgico, refugiava-me sempre que podia, mesmo de fato e gravata, pelos caminhos de Santiago do Cacém, mais próximo mas mais longo, numa pressa profissional que se desvanecia nas lombas da estrada, nas raízes dos pinheiros que se infiltravam no alcatrão da estrada

A serenidade peninsular – a verdadeira razão da mesma sensação, década após década – aumenta o brilho das cores, e assopra suavemente a neblina ondulante da manhã tardia.

E sempre que olho para a fronteira do mar, lembro-me…e a sensação sempre igual.

Vertigem azul!

Skipper, o meu golfinho imaginário do rio Sado que tantas vezes se riu para mim, sem me gozar, apesar de eu não saber saltar como ele, eu debruçado sobre a amurada do ferry, ele perto e longe, sempre mais rápido que o meu olhar, sim o Skipper hoje não apareceu.

Também o Skipper não se deixa domesticar, tal como a península sem pontes para o continente!


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