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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Bairro das Artes



Vinte e três de Setembro de dois mil e dezasseis.
Por lapso, ia recuando aos anos mil e novecentos.
Afinal de contas, todos temos as nossas dificuldades em absorver as modernidades.
As minhas recordações do Bairro Alto transportam-me para décadas em que a boémia era muito nossa, porventura pouco vanguardista, esporadicamente internacional, vivida de toalhas de quadrados vermelhos e brancos, pequenos copos de pé, pipas de vinho tinto não certificado e charros fortuitos nas esquinas sujas de um bairro popular.
Por lapso, não.
Porque na noite do bairro das artes as referências são ambíguas
Talvez porque, neste dia, a voz é dos artistas e eles contam as suas histórias em tons baços, como se a intemporalidade cobrisse a sétima colina de um manto de nevoeiro bom, daquele que realça apenas os protagonistas e simplifica os cenários.
O Tiago que se confunde com os paradoxos de quem visita e habita na cidade, perguntando-se em voz alta na sala do lado, até que ponto a autenticidade de um lugar que se habita pode sobreviver aos milhares de visitantes que a procuram (a ela autenticidade) inspirar em cada calçada, em cada praça, em cada pregão?   
O Frederico que se perde na natureza (da margem) para iniciar uma viagem coletiva ao mundo selvagem da sexualidade afirmativa
A Inês
A Isabel
A Sofia
E em todos os lugares de exposição há um quase revivalismo resistente, nos palácios pombalinos do bairro de sétima colina, edifícios gastos pelo tempo, mas altivos de um orgulho decadente, aquele cheiro a boémia pobre e desleixada que percorre os corredores e que nos ilumina o passado em que ninguém duvidava da autenticidade, e não havia hotéis de charme.

Carpe Diem, sétima colina, e não te esqueças de respirar!  

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