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sábado, 12 de novembro de 2016

A rapariga da casa esperança


Esperança é um imenso prédio assombrado por uma serpente de ruas que não a deixa descobrir-se.
Uma entrada larga, um corredor despojado e uma luz fria e ventosa que se atravessa no caminho, como uma espada mágica de um ser extraterrestre de olhos grandes e expressão simpática, despejando na diagonal o pó das claraboias do pátio central.
Esperança é o nome próprio da casa Esperança e a primeira imagem é de um cenário ficcional pós apocalipse, um espaço encardido, a quem faltam peças mas que mantém alguns sinais de dignidade com tempo de verbo passado.


As janelas não batiam com o vento porque, num amanhã do dia seguinte não é esperado vento, apenas poeiras e calor.
A vida da Esperança está nas histórias que ela conta.
O apelo que os espaços em bruto exercem sobre os contadores de histórias, artistas e curadores é irresistível e dispõe-se a múltiplas interpretações; minimalismo que afasta as distrações sobre o não essencial, que realça os projetos ou antes uma forma de dramatização prévia para condicionar as mensagens e nos transportar para uma pós realidade?
E poderá a Esperança viver de despojos, ou a Esperança transforma-os num novo começo?
Definitivamente que os tempos de hoje são ambíguos porque todos os factos têm necessariamente, e pelo menos, duas explicações tão coerentes em si quanto opostas entre elas.


E enquanto olhamos para a Esperança, a casa Esperança, de diversas perspetivas não fazemos ideia, sequer, se a História se repete ou continua (evolui, diverge ou outra trajetória não circular)
São as histórias da casa Esperança que a habitam e a transformam num lugar de beleza estética e de coerência narrativa.
E a rapariga da casa, de uma alegria contagiosa, de uma curiosidade sem pudor e de uma vontade de responder a tudo o que nem sequer te lembraste de perguntar.
Levitava entre os cantos do pátio interior, divagava com sentimento entre as estantes repletas de livros, histórias, autores e portefólios e lembrava-nos que, nesta coisa da cultura, o GPS é um instrumento inútil e fora de época.
Afinal de contas há esperança entre os despojos de guerra, serpentes que nos enrolam, e mais de uma dezena de histórias invulgares.
Começo a convencer-me que os lugares despojados não pretendem condicionar o nosso futuro, mas antes tornar mais lúcidas, as mensagens essenciais do nosso presente.
A rapariga da Esperança sorri e acena com a cabeça em sinal de aprovação e responde-me que vale sempre a pena voltar, mesmo hoje, que é o último dia.
Dos encontros da imagem, em Braga.






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