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domingo, 27 de dezembro de 2015

Sete bicas



Nas vésperas de Natal na curva das sete bicas havia uma fonte de luz rosa que insistia em atrasar a consoada, solitária fonte de arraial fora do seu tempo que procurava chamar a atenção para o facto do Natal ser quando o Homem quiser.
Não havia transeuntes nem pipocas, apenas uma luz desconcertante na curva das sete bicas.
Imaginei vultos apressados que passavam sem parar, mas a única imagem que prevaleceu era de uma casa de bonecas que tinha caído do trenó do Santa, uma curva apertada, ali para os lados da fonte das sete bicas.
E ela ali ficou, provavelmente toda a noite a anunciar a chegada de uma noite de magia.
Nas vésperas de Natal apeteceu-me uma fartura, mas não parei.
Provavelmente porque tinha pressa, ou porque duvidei da visão de uma casa de bonecas colorida e luminosa, tão surpreendente que só podia ser uma miragem, uma reminiscência tardia de conto de fadas.
Mas nessa noite sonhei com a churraria Nanda, com as pequenas luzes a brilhar e o fumo que saía pelas janelas e juro que até senti o cheiro, tão real que não podia deixar de ser verdade.
E até ouvi canções de Natal!
E quando acordei, lembrei-me dos tempos em que acreditei no Santa.
E depois da noite do Santa, voltei à fonte das sete bicas e a casa das bonecas estava lá, onde eu a tinha deixado.
A luz estava apagada, não havia fumo a sair da janela nem cheiro a farturas, mas a casa rosa era a prova de que o pai natal tinha por ali passado, apressado e descuidado, e por ali tinha deixado a prova da sua existência.
Por detrás da roulotte rosa, nascia uma árvore que, na noite de consoada, bem poderia ter sido a árvore de natal das sete bicas!

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