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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A última fronteira



No Torre Poente – o mais próximo do mar da fuga e/ou da descoberta – reside uma exposição que destila História e (quiçá) desbrava novo prelúdio da verdadeira vocação lusitana:

A última fronteira, o porto de refúgio, o fim do mundo segundo a lógica geográfica (e cartográfica) chinesa!

Aos Indignados que acreditam na nossa vocação atlântica, esta exposição lembra que o Atlântico não deixa de ser vocação quando de fuga se trata.
Aliás não terão sido as Descobertas (como todas as aventuras no desconhecido, afinal) uma fuga (para a frente, é verdade) da estreiteza de uma Nação pequena?
Importante afinal, é estarmos debruçados sobre o mar, entre o fim de um Continente e o princípio do resto do mundo Ocidental, e esta Exposição lembra-nos que as desgraças dos outros são a nossa Luz.

“Chegamos à Praça do Rossio, o centro de Lisboa. Magnífico! Só quem vem de um país numa escuridão total, onde à noite é preciso andas pelas ruas a tatear o caminho, pode apreciar o que viemos encontrar, quando às duas da madrugada sentimos jorrar sobre nós aquela iluminação mágica das luzes na praça” - Karl O. Paetel

A chegada.
A cidade
A preparação para a Guerra
Os correios
A espera
As luzes na cidade
A informação e propaganda
O paraíso dos espiões
À procura de um visto
A partida

São doze salas de uma crónica de brandos costumes, enquanto o mundo se partia em cacos, à nossa volta.
Perdoem-me a insistência, mas hoje, as nossas receitas turísticas aumentam com o despertar da loucura dos homens na bacia do Mediterrâneo.
Não fossemos um país pacífico, pobre e pequeno (a teoria dos três P da diplomacia internacional) e poderíamos, hoje, ser acusados de foco de destabilização regional
Mas afinal de contas a nossa única arma e razão de existência é a surpresa para os povos atormentados do mundo.
Tão nobre quanto desbravar novos mares desconhecidos, com uma obstinada vocação do Ocidente.

 “ A Lisboa afluía tudo o que pôde fugir dos alemães, na Europa. Toda esta gente parou aqui, onde começam as ondas do mar” – Milos Tsrnhanski

Meu caro, chega de querer reinventar a História até porque, em 1940, todos fugiam de alguém e a última imagem de Alfred Doblin da nossa cidade era celeste e imperial:

“O navio levantou âncora na escuridão da noite, Lentamente foi virado e rebocado Tejo abaixo. A exposição do Centenário resplandecia como num conto de fadas, à nossa passagem. A sua mágica luminosidade foi a última imagem que tivemos da Europa envolta em luto.”

Sangue frio e Portugal no seu melhor!
Além disso, perdoem-ma a insolência e desculpem-me o humor negro, mas hoje Lisboa não é de todo um bom sítio para quem lhes pretende fugir! (*)

Torreão Poente, Terreiro do Paço, 2013


(*) Se algum dia tiver um cargo público e algum repórter tendencioso da vida pública, usar esta frase contra o meu nome, argumentando xenofobia e falta de sentido de solidariedade europeia, argumentarei sempre que se trata de poesia e o “lhes” tem um sentido poético lato, metafórico e sem destinatário preciso.


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