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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Coimbra – Serenata de imaculada irreverência


Segundo distinto orador, a cidade é a grande mãe da língua portuguesa, o berço de uma cultura única (una), a universidade que formou a primeira elite governante do Brasil após independência e, por isso mesmo, responsável por um país uno da dimensão de um continente.
Unidos por uma conceção comum do mundo, unidade de pensamento e de valores, cumplicidade académica inseparável.
Que impediram a disseminação do país irmão!
Uma universidade, um país, um provável feliz acaso que os vizinhos ibéricos não previram e, em múltiplas universidades, retalharam o restante continente em múltiplas, e belicosas, nações de língua espanhola.
Tudo isto, segundo distinto e catedrático orador.
E nós acreditámos, porque gostamos de acreditar que, no agora inevitável e permanente recurso à História, já tivemos algo a ver com o umbigo do mundo, agora que nos começamos a incomodar com a visão estreita que povoou a nossa pequenez a que nos reduzimos nas últimas quatro décadas
Em que, segundo outros, nos limitámos a retalhar a nós próprios, ao nosso pequeno território, saciados com as nossas pequenas conquistas de um consumismo alienado e hipotecado.
 
 
 
2020, é agora a nova data mágica para todos os eventos de um novo mundo em mudança
Tal como 1984, o orwelliano fim da liberdade individual ou 2001, odisseia no espaço ou 2012, o fim do calendário Maia (ou uma apocalíptica previsão de fim do mundo no solstício – inverno ou verão, dependendo da latitude)
Que o 2012 possa permitir que a nova meta civilizacional – apenas marketing de comunicação? – seja atingida.
Na Coimbra, cidade velha, os vestígios do tempo e de uma irreverência que sobrevive ao tempo (três décadas é o que a minha memória de Coimbra, abrange), espalham-se pelas ruelas que circundam a Sé Velha…
Não sabemos se é um bom sinal de resistência da juventude (seja ela geracional ou não), e portanto uma premonição de que a nossa História nos vai inspirar no futuro, ou apenas um testemunho de abandono (repúblicas de vidraças partidas) de uma geração que prefere refugiar-se numa boémia antiga, gasta e folclórica e não desce às avenidas largas das margens do rio, com medo da luz intensa do sol e da água.
 
 
Numa manhã de Coimbra viva, estavam lá todos: os boémios zombies e vidrados de uma geração indeterminada, os distintos e honorários membros do orfeão da cidade, os velhos tocadores de harmónica, os mendigos, os idosos, os miúdos da capa e batina negra de corte moderno e de ousada sobranceria e até os turistas da saudade.
Cá fora (lá fora) uma imensa nuvem cinzenta trazia vento e chuva de Sul, mas ninguém parecia querer interpretar o cinzento como a nossa cor do futuro, ou a perda da visão holística do mundo.
Afinal de contas, o Inverno está a chegar!

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