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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Lima - A cidade das brumas



Lima é a cidade dos Viracochas e, quem sabe, uma afirmação de modernidade de um país. Deuses que viriam do mar…e vieram
Lima é a cidade dos reis brancos, barbudos e malcheirosos que desconfiavam da mística Cuzco, demasiado grandiosa e sobrenatural
Portanto, incontrolável
No credo en brujas, pero que los hay, los hay
Nove milhões de almas que se acotovelam nos bairros populares em gigantescos mercados grossistas
Cidade das brumas, fenómenos meteorológicos que lançam capacete sobre a cidade, que devia ser tropical, mas não é, pelo menos mais de seis meses por ano!
É bizarro, o equador tão perto e os caprichos das correntes marítimas, e o pacífico oceano que se empurra de encontro aos Andes transformam, esta amálgama de metrópoles tão latinas e tão sul americanas numa distinta urbe, tão britânica quanto a neblina permite, qual chapéus de coco que estranhamente povoam as ruas poeirentas dos mercados de rua e que se equilibram, quais trapezistas entre o infernal burburinho desta cidade, sem caírem sequer!
A vingança nativa (incas e os seus incógnitos ascendentes) serviu-se retardada e definitiva.
Oitenta por cento do povo é mestiço!
Sol e Lua, oposto e complemento em três estágios de vida: ave, puma e serpente
Cidade das crenças que, em dia de procissão da Nossa Senhora das Dores, se revela de uma profunda religiosidade que leva multidões às ruas, magotes que se deslocam a pé dos bairros pobres, distantes e inacabados para um centro que, se encolhe porque estranha, no seu abandono e despovoamento crescentes, o movimento e a alegria dos crentes, pobres mas crentes!
Não estamos habituados a ver tanta fé em povos que (foram, de forma musculada convencidos a mudar de..)mudaram de Deuses há menos de quinhentos anos, de tez inca, mestiça ou índia.
É uma nota disfuncional na paisagem, mas que é perfeitamente coerente com todas as notas invulgares que povoam a cidade.
Nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma!
Símbolos religiosos, impregnados nos mantos cristãos, através da mãe natureza
Não há barbudos e malcheirosos espanhóis a atravessar as húmidas brumas de uma manhã tão cinzenta, mas tão colorida porque a cor é aqui, e em todo o país, o Perú intenso!
Mas a Praça de Armas é uma afirmação do poder espanhol que resiste teimosamente à desertificação do centro da cidade, uma auréola de edifícios coloniais gastos pelo tempo, pelas revoluções e pela ascensão do poder revolucionário subversivo e clandestino
Em seu redor, expande-se uma cidade caótica, cuja inexistência de infraestruturas empurra milhares de carros, motos e combies (pequenos autocarros independentes) para uma dança de desfecho sempre incerto, em que a prioridade é concedida a quem for o último a parar. Sem ofensas, como se as buzinas apenas prestassem honras ao mais destemido dos guerreiros do trânsito.

Saindo da Praça de Armas em direção ao mar e a sul, percebe-se que coexistem nesta larga extensão de casas quase térreas, vários destinos de um mesmo povo.
As grandes migrações dos anos noventa, a pobreza extrema dos sem raízes, aqueles que já foram integrados dentro dos limites da cidade e os que se espraiam pela pan-americana à espera de entrar;
Os bairros de classe média, com quintais vedados, e um espaço de garagem ao ar livre onde param os automóveis de família, gastos mas dignos;
A frente Pacífico com bairros a tocar o glamour e com uma gastronomia de fama e eleição, espraiam-se os soprados pela riqueza e pelo crescimento económico de seis por cento ao ano, abençoados pelo poder e pela pátria
Mas não se chegam ao mar: as arribas de Miraflores espreitam o mar mas deixam a marginal, lá em baixo, para os surfistas e para quem quiser, numa espécie de zona livre porque afinal o mar (porque não há sol) quando nasce é para todos.

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