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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Jardim de Mariposas - Sensibilidade e sustentabilidade



É definitivamente uma manhã com aurora de sustentabilidade.
La Recoletta lava-se da noite, sem urgência que um Domingo quase madrugador não exige.
A carne já destila no assador do Lola, uma fogueira de paciência, um braseiro cercado de pele, pata e lombo!
O tempo não urge, e a carne não se queixa …
A Biela, qual mítico paradeiro de ilustres donos da metáfora e da dúvida existencial à sombra de uma borracheira centenária, ancora-se nos rituais do café argentino, não há lentidão, quem fala em ritual é porque não entende que é mesmo uma profissão: perscrutar os passantes, adivinhar-lhe as vidas e as personalidades, os sentimentos e a genealogia, pelo menos directa.
E a adivinhação exige o requinte do chocolate, um copo de água milimetricamente gelado, um sorriso…e tempo
E com Borges a espreitar da parede interior do café, acenando com aprovação por entre um exército de sincronizadas ventoinhas de tecto, nós perscrutamos.

Uma burguesia idosa que não lamenta a crise (a velhota por detrás do vidro, cheira e mostra uma minuciosa almofada de bebé, havia croché no seu olhar, uma avó no sentir, gesticular na sua juventude que brilhava nos olhos).
Havia harmonia no bairro…
No interior, a meia-idade grisalha parecia resumir a semana em três jornais e alguma desinteressada (havia desdém no olhar? Triunfalismo na expressão facial, ou apenas rugas peronistas?) discussão.
Presidente Cristina pressiona o Banco Central, cheira a emissão de moeda selvagem!
A casa rosada desperta autoritarismo…pintem a casa de branco!
Juraria que a meia-idade grisalha prestava vassalagem ao poder das ideias e procurava ser merecedor de Jorge…a sua foto parecia adquirir cor, expressão e novo aceno de aprovação!
As ventoinhas aceleravam a sincronização – por momentos o cenário era tropicalista, sim olhar para o tecto do Biela, o famoso café de La Recolletta, transportava-nos para outro lugar, não podia ser burguesia da elite europeia, porque será que me lembrei de Casablanca?
Estamos na zona Norte ou na zona Sul?
Elite ou descamisados?
Europa ou trópicos?
Jamais o iremos entender…absolutamente.


Nuestra Señora do Pilar a caminho da Plaza de Francia; uma missão católica, definitivamente sensações oriundas de América Central.Jardim de Mariposas, paciência e sensibilidade de cientistas que libertam centenas de borboletas de viveiro num espaço aberto, cercado de redes…e as recolhem…e as libertam, algumas morrem de velhice no processo de transladação!

Consciência Europeia no estado puro.
Eva descansa em paz do outro lado do muro…porque não reconhece os descamisados na multidão de fãs (curiosos, conquistadores de troféus?) que se acotovelam, nos corredores estreitos de campas mortais…alguns…Eva Duarte parece inesgotável, embalsamada e santificada, ninguém duvida que com 33 anos, encarna Jesus, força, revolução e espírito messiânico.


Latinidade em carne viva!
A feira de Domingo na Praça de França, centrifuga-nos as dúvidas, a latitude e o estado mental de um povo, porque o comércio e o consumo é o (único?) unificador (de diluição, confronto ou abraço?)
Tanta praça numa única referência cultural.
Segundo os guias do bom comportamento turístico, o bairro trendy da cidade.
Depois de tombar praça abaixo para Alvear – e as borracheiras continuam centenárias cruzamos a evidência do luxo das grandes avenidas. Miranda (Mira & Anda) Time. Convencidos?


Talvez!

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