Pesquisar neste blogue

domingo, 11 de maio de 2025

Os mágicos do iluminismo

 


A milha real é a história da Escócia esculpida na pedra vulcânica, tão solene e séria que, em momento algum, nos permite duvidar que as bruxas, os mágicos e os feiticeiros também são personagens da história das terras altas, uma excentricidade que nenhum outro pedaço de mundo pode reivindicar. 
Também não deixa de ser apenas uma rua que se acomoda no comprido planalto que liga o castelo medieval ao futurista parlamento da nação, 
Mas não é apenas uma rua, é um elogio de basalto e orgulho aos símbolos do iluminismo escocês, o século de todas as excentricidades e dos grandes pensadores como Hume e Smith, enquanto a nova monarquia constitucional destruía os Jacobitas, os últimos vestígios das famílias feudais das terras altas, os heróis romanceados de herança dos povos da Escócia. Afinal de contas, uma raça de dinossauros que precisavam de ser extintos, em prol do triunfo das reformas.
Mas sempre que as corujas (ou seriam os mochos?) se atrevem a voar, descendo a Victoria Street, sobre as suas fachadas berrantes e nas costas dos transeuntes que acreditam que a magia é um estado de crença maior e que, basta respirar o ar de quem imaginou esta terra despojada de tempo, para esquecermos os episódios sangrentos da história da Escócia   e atravessarmos um portal colorido de recordações felizes a bordo do expresso de Hogwarts.
As encostas da milha real são assim, em contraponto da solenidade hiper-realista do planalto, uma terra despojada do tempo, um presente de todas as escolas de magia que se alojam na nossa mente e, nem mesmo o cemitério de Greyfriar, que deveria ser solene por definição, se consegue libertar dos apelidos dos mortais que a autora retirou da linha do tempo e as letras de relevo desenhadas nas lápides que já não se realçam do verde da relva fresca, (certamente por culpa do encardido do tempo) esfumam-se a cada referência involuntária que fazemos ao olho-tonto moody ou à professora das transfigurações e jamais por aquele que não ser nomeado.
Nas encostas da milha real os casais fazem juras de amor eterno e trocam anéis de noivado em troca de memórias de uma magia comum, e das promessas de feitiços que a vida comum lhes trará, indiferentes aos milhares de artefactos expostas nas montras, que todos garantiam serem os genuínos e certificados pela saga, porque no mundo do fantástico não há interpretações definitivas sobre a veracidade dos factos.
Entre o mocho de olhos esbugalhados que voava sobre o Castelo (afinal era mesmo um mocho!), os belicosos Jacobinos desterrados para os castelos em ruinas das terras altas, e a posse petrificada de Adam Smith a guardar as memórias da milha dourada, escolhi a mão invisível e as vantagens do comércio internacional, uma verdade, afinal, que já tem três séculos e moldou a maior parte da nossa vida e das nossas escolhas.
Podia ter escolhido o Valdemor ou o Highlander, mas eu sempre preferi os finais felizes.





Sem comentários:

Enviar um comentário