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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Não passa nada!




Visitar os grandes planaltos é um exercício de absorção da substância, uma massa de imensidão que avança na nossa direção e nos reduz a soberba à dimensão da vulnerabilidade humana.
É adormecer sob um manto de estrelas cadentes depois de um carrocel de sombras cavadas nos vales profundos do Tejo Internacional e acordar com os cheiros da terra, descer para a raia, conduzido por fileiras de árvores que nos indicam o caminho e nos impelem a prosseguir, mesmo sabendo que avançamos em direção à nossa insignificância perante os elementos.
A Nordeste de Castelo Branco, abre-se uma nova perspetiva de espaços sobrevoados por bandos de aves que encenam formações ordenadas em direção ao sul, sombras desenhadas no azul que contrasta com a terra castanha e os cumes nevados da Estrela a Ocidente e da Serra das Gatas a Oriente, Extremadura adentro.
Não há, pois, fronteiras nem autoestradas incompletas que quebrem a indolência do ar que se respira, um sopro de vento frio que corre mais devagar a lembrar-nos que o tempo é uma invenção recente e, muitas vezes, redundante.
Indiferentes à nossa passagem, pastam os animais sem vontade de correr nem receio dos ventos gelados de Norte que empurram o frio porque, a Nordeste de Castelo Branco é a terra quem manda, por persistência dos locais ou pelo esquecimento dos conquistadores que, há muitos séculos, daqui debandaram à procura de emoções fortes e de desnecessárias demandas.
Permanece a certeza de que as cidades são apenas meras concessões da natureza ou do mundo rural, confinadas entre os montes que pontuam os recortes do horizonte, como se a imensidão da terra lhe permitisse algumas concessões à espécie humana.
As amplas visões não reduzem as distâncias do espaço físico, mas aproximam os seres que gastam a sua liberdade e a sua ausência de compromissos picando entre dois copos, conversando entre muitos amigos.
- Se queres almoçar, é na Mirabel, muito espaço e sem pressa, o António é o proprietário e o meu nome é Francisco - e despede-se com um aperto de mão cristão e barbudo
É desta forma que a cordialidade humana se despede dos hóspedes do mundo atual.

Afinal de contas não passa nada!


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