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segunda-feira, 24 de abril de 2017

A capital adiada da Europa




Regressar ao centro da Europa é sempre um regresso (muitas vezes involuntário) à história do século vinte, convulsivo, violento, disruptivo e avassalador.
O século que desfez em cinzas as grandes dinastias europeias e construiu, sobre cinzas e ruínas, uma qualquer nova ordem, uma sociedade de cidadãos.
Pensamos hoje que este seria o preço a pagar por uma nova ordem.
Explicam-me os livros que o século vinte também foi o fim da linha para a opulência da dinastia dos Habsburgos.
Setecentos anos de um paternalismo que se confundiu com uma nação, um império de homens comuns.
Não resistiu a Bismarck, ao suicídio do filho primogénito, à desastrada aventura mexicana do irmão Maximiniano, ao assassinato do arquiduque, sobrinho e sucessor ao trono, em Sarajevo
As grandes obras do regime macrocéfalo do último século não foram suficientes para convencer as fronteiras do império que este não era uma ambição legítima de um poder que se esvaia para lá das fronteiras de Viena.
A grande obra da exposição mundial de 1876, a grande rotunda que era maior que todas as estruturas de ferro que os franceses jamais tinham visto, já se desfazia sobre os terrenos alagados, ainda a exposição não tinha terminado, não resistindo ao passar do século.
Francisco José morre em 1916, encerrado no seu próprio palácio, porque se recusou a assistir ao fim do império que, com o tratado de 1920 se transformou num estado inviável, refém da sua própria capital.
Mas sobretudo porque a vida passou a acontecer muito para lá das paredes dos palácios dos Habsburgos.
E quando no século vinte e um, a Viena republicana mantém o esplendor imperial e se voltou a revelar a capital de um estado viável, quando revela nas suas entranhas uma herança romana, quando foi a última fronteira das ambições turcas na defesa dos impérios cristãos e convive na história e no presente com o leste e a península balcânica, é um espelho de centralidade da nova europa a vinte e seis, fala alemão mas não é alemã e até se exprime em outras línguas com uma indisfarçável felicidade…
A Europa poderia perguntar porque Viena não é a sua nova capital.
Sem certezas, eu diria que, existe um insustentável sentimento de orfandade que transparece no olhar dos seus vizinhos, agora aliados e, no passado, partes integrantes do império.
E provavelmente uma certa inabilidade em escolher os seus aliados, nos séculos que nos precederam.
Não deixo todavia de pensar que Viena é uma capital subestimada



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