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domingo, 16 de junho de 2013

Chove na cidade festa



Chove na cidade anoitecida que arrefece a fúria espanhola, o burburinho da final da tarde de Sábado nas Portas do Sol, onde todos os madrilenos se pareciam conhecer nos pés do urso, um ponto de encontro natural das legiões de cidadãos que cerram fileiras e entopem os bares de tapas e cañas, entre as nove e meia e as dez da noite, que é o quilômetro zero das estradas de Espanha.
Pontualidade espanhola, um povo que se recusa a ficar em casa.
Mas a intempérie de temperatura calda (o verão asfixiante dos 37 graus, tem regresso prometido para a próxima semana) também parece acalmar a fúria dos homens estátua que povoam (como persistentes empecilhos de personalidade mutante) as praças da urbe turística, em busca de fama ou de uns euros que distraiam a crise e o desemprego.
Piratas e monstros, ícones do cinema e da animação americana numa dobragem sem legendas e em três dimensões.
Ou a fúria do homem sem braços que agita com a boca o balde das esmolas…
Ou o homem que grita na composição de metro o acidente da mulher grávida e assegura ameaçadoramente que não está a roubar ninguém mas que devem comprar uns lenços de papel por um euro, e os passageiros que baixam as cabeças e os olhos para não o ouvir, ou não acentuar a sua ira!
Ou a turma gótica que povoa o Templo Debod, de vista sobre a cidade e a casa de campo, com as luzes e as sombras que mancham o horizonte urbano em final de tarde
Piercings em cobertura de negro ao por do sol!
Apenas Cervantes e sus muchachos, Quixote e Pança, permanecem impávidos e serenos, no alto da sua estátua na tão nacionalista Praça de Espanha, ainda que na sombra da fachada imponente e cooperativa do maior arranha-céus da Europa após guerra.
E o Homem Árvore na Praça do Oriente.


Para eles, não há fúria nem chuva que os demova da sua missão que é a de abençoar todas as espécies que povoam os moinhos de La Mancha
Nem para a polícia sempre presente que lida, com distância e sem fervor, com o seu povo afirmativo e impaciente em relação aos tempos difíceis e à crescente multiculturalidade que os rodeia.
Tudo o que seja preciso para garantir que se mantém o excitante glamour da cidade fiesta.

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