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domingo, 3 de junho de 2018

Felizmente está tudo feito


"A arte não é estética, pelo menos na sua visão clássica, não se aprecia pela beleza, mas pelo gozo intelectual que proporciona a sua interpretação..."
...Ou apenas a constatação de uma espécie de deslumbramento, presente nas novas descobertas.
Antes, a arte representava o que as pessoas viam, a nossa visão contemporânea também representa a realidade, mas não como as pessoas a vêm, antes como a sentem porque a nova visão da estética prende-se com as energias que as obras libertam.
O entusiasmo da curadora é convincente e eu cresço de entusiasmo pela ideia de que a arte não serve para nada e, mais do que isso, para ser arte não pode servir para nada porque é esta inutilidade que lhe confere a intemporalidade.
Enquanto contemplo desinteressadamente (porque, mais do que explicar, o importante é constatar a sua existência) o ícone da exposição "No place like home", afinal de contas é apenas um urinol, ponho em prática os conhecimentos induzidos pela curadora e trato de simplificar, não me ponho a contar histórias e assumo que um quadrado é um quadrado, uma bola é uma bola e um urinol é um urinol.
Com as suas singularidades e ironias.
Tal como a pintura é forma e cor e a politização da arte torna-a efémera porque a condiciona à efemeridade dos movimentos políticos e sociais.
E o "ready made", é a sublimação da vida sem fazer nada, como o próprio Duchamp o reconhecia.
Despudoradamente.
Apenas acrescenta, continua ou aumenta peças já existentes, procurando (apenas por vezes) novos efeitos, novas impressões, singularidades e ironias.
Sem pretender resolver quaisquer problemas práticos ou sociais, apenas pelo gozo intelectual de descobrir os efeitos que elas podem fazer no conjunto.
Basicamente, sem ter de fazer (ou mostrar) obra.
Muito reconfortante para um retiro espiritual de final de tarde de Sábado.





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