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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O El Dorado de águas profundas

Fui a Sines e não vi o mar.
Não tirei fotografias porque seria uma forma de simplificar a complexidade do cenário, a (ausência de?) alma da cidade que não se vê, mas sente-se!
Sines é a promessa de uma geração, um caldeirão mais ou menos aceso de experiências do género quase, quase, que resulta mais no preto e branco, nas reportagens sobre uma qualquer época pós revolução industrial, mas que se confundiria, nalguns pontos, nalguns ângulos de iluminação do Sol com uma ruralidade perdida, solitária de referências, raízes que sobrevoam os locais, pairando sobre o pó e o vento como arbustos reinventados por novos e sempre actuais filmes do (Sud)Oeste (Oeste = West (ern))
Por isso me atrevo a experimentar excluir fotos das mensagens...para dar um ar mais sério, mais ensaio do tipo sócio-cultural
Recordo as visitas de estudo no final da década de setenta à nossa (mais que tudo) ambição marítimo-industrial, na altura apenas adiada pela crise do petróleo...e não consigo ter saudades porque regressei ao mesmo ponto da história sinto a mesma sensação de eterna (?) "no man's land", o mesmo círculo de caravanas dos pioneiros, sem índios porventura, mas a mesma adolescência de espírito (e quiçá industrial também)
(e assim se justificava aquele aspecto de transição - rural, Alentejo e piscatório que já não é e cidade industrial que há-de ser - )
A visão estratégica do porto de Sines é assim um destino sem sentido único, sem destinatário preciso e sem cronograma temporal... diria que assim se arrisca a ser uma fatalidade ou um enorme e suculento (porque estas tragico-comédias têm um sabor e uma textura próprias) buraco negro (exactamente isso, porque ninguém sabe verdadeiramente o que é)
Passou de porta de saída para o mundo para porta de entrada para a Europa, aliás ambição nunca cumprida.
Vasco da Gama partiu de Sines...e o petróleo aqui chegou e tudo o resto esbarrou numa intrincada, confusa e equívoca rede (cheia de nós) ferroviária.
Também quem disse que tínhamos vocação de entreposto?
Nem Vasco da Gama se quis associar ou voltar a partir de Sines (Será?)
As torres eólicas que circundam a refinaria e provocam de vento a chama que se consome no cume da chaminé fazem-nos desconfiar que o há-de ser se tende a consumir no tempo.
Em Sto André, aquele Kiboutz periférico, cresce sem que ninguém perceba, falta-lhe a densidade de uma verdadeira cidade (será que há cidades verdadeiras?) mas há espaço, verde e o zeloso GNR prestava assistência a uma passadeira e aos restos inacabados de uma obra municipal, prestava preciosas informações demográficas aos turistas acidentais (ou seriam os representantes lusos dos investigadores chineses?).
A mesma sensação de promessa, os bairros desconstruídos por arquitectos que se inspiravam no descontínuo em vagas de industrialização intermitente, ruas principais sem vielas secundárias, porque os bairros são ilhas, ligadas em redes finas ao obelisco inexistente da praça da Concórdia - as ilhas já não uma benção arquitectónica - e o século XXI brota mas não se impõe.
Aspecto de transição , uma vez mais. Fui ao Sudoeste e não vi o mar. Foi estranho, mas assim percebe-se melhor.

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