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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

WAY TO INDOCHINA #2 - Bún Chà Hu´o`ng Liên para a paz

 


“O progresso não é linear e, em cada momento, haverá sempre locais onde as coisas estarão terríveis, mas sim, acredito que as coisas vão correr bem no futuro”
No centro da cidade moderna, não muito longe do bairro francês, a experiência gastronómica no Bún Chà Hu´o`ng Liên, não foi especialmente inesquecível, o Bún Chà, um caldo de peixe onde carne de porco grelhada jaz afundada entre noodles, vegetais e outros sabores intensos e uma persistente gordura não se deixam vencer pela cerveja de Hanói.
Mas partilhar o restaurante com a vontade de Obama, de cerveja na garrafa e de paus na mão que pescavam os noodles do caldo, de fazer as pazes com os seus inimigos, marcou a nossa memória futura, muito mais a lembrança das fotografias do presidente, a única referência humana nas enormes paredes de azulejo branco de cantina, um espelho da frugalidade socialista ou do verdadeiramente essencial, a comida, até a visita de Obama.
Para além da promoção gratuita do maior influenciador possível (um influencer que não dança no TikTok em vestes reduzidas ou outras histórias) para a família proprietária desta cadeia de restaurantes de Hanói, especializada em caldo de carne de porco assada - para simplificar - almoçar na mesa do Obama ( ou no mesmo andar de Obama, porque o restaurante é composto por seis salas em seis andares diferentes), provavelmente o último dos estadistas, numa das suas últimas viagens de estado em que reconhece sem pudores que provavelmente nenhuma divergência ideológica profunda justifica uma guerra, napalm, milhares de mortos um país destruído e uma geração de traumas e, sem subterfúgios. que não assistia qualquer razão a eles para considerar os vietnamitas seus inimigos.
Longe dos palácios oficiais do mesmo regime que combateu, o príncipe americano encontrou a melhor forma de pedir desculpa pelos excessos de imperialismo, diretamente ao povo, sem os intermediários do partido.
Na esquina oposta ao Bún Chà de Obama, Ho Chi Min desenhado na parede do prédio afaga a cabeça de uma criança e aprova condescendente a manifestação de afeto do novo amigo americano, a sua origem afro americana também ajuda à compreensão do grande líder, que desde sessenta e nove paira no imaginário ressuscitado do povo vietnamita. O primeiro grande herói americano da Indochina, é preciso não esquecer que ambos tinham um inimigo comum assumido, os japoneses, e outro menos assumido pelos americanos, os franceses.
No Bún Chà Hu´o`ng Liên, e olhando para as memórias de parede, entendi que o tempo é o maior elixir da paz.
Senti a falta de um amigo americano como este, internacional, defensor de um passaporte para cada americano para que eles percebam que o ser humano anseia basicamente pelas mesmas coisas, em todo o mundo.
E no fim do almoço, pagámos na caixa, à porta da rua, sem talão nem necessidade de tradução.


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