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domingo, 25 de novembro de 2018

Diálogos do século




A vida intelectual da Rússia de Nicolau I era condicionada na sua expressão pública por uma censura estatal dura, ainda que flexível.

Um conceito tão russo quão presente, reflexo das suas vocações orientalistas, uma forma estranha de lidar com a ambiguidade, pelo menos para os visitantes estrangeiros que descreviam a Rússia de Nicolau como um período noturno de repressão
Para a grande nação continental, esta foi uma época dourada nas letras russas em que a alta cultura russa se libertou da anterior imitação das artes ocidentais e produziram obras que alteraram os contornos da cultura mundial.
Nos romances e poemas de Puchkine apareceu o “homem supérfluo” o herói transformado em anti-herói, nas obras de Gogol ressaltaram as sátiras mordazes sobre as deficiências humanas do seu próprio tempo, personagens fantásticas e reviravoltas de enredos que anteciparam os escritos pós-modernos da nossa época, escritores que apresentaram, pela primeira vez, os servos enquanto personagens totalmente humanas.
E apesar das disputas entre os defensores do passado e do futuro, cujas únicos pontos comuns eram a oposição ao presente russo e o apoio à abolição da servidão, a maioria dos russos instruídos concordavam com a necessidade de censura e tinham orgulho em saber que a Rússia era a maior potência terrestre do mundo.
E, apesar de desconcertante aos olhos de um visitante ocidental, é fascinante ver a história pintada com os olhos da originalidade russa, aquela que se revelou na sua versão mais épica sempre que surgiu como reação a longos períodos de fascínio pelo esplendor ocidental.
Uma herança que povoou as memórias / tragédias do século vinte, uma sequência de pinceladas que confronta os exilados e as suas influências ocidentais temperadas pela nostalgia das estepes geladas e os que ficaram e conviveram com a história da maneira que quiserem ou puderam.
Visual, muito visual, como conhecer Lenine sem descontextualizar o conceito de guerra total, como reconstruir um regime através de símbolos, mas sobretudo retratos pungentes da vida quotidiana de um povo que insiste um sobreviver à imensidão do seu espaço exterior e, nas últimas salas, os retratos instrospetivos dos sentimentos de perda e desilusão e o desmoronamento da simbologia do século passado.
O novo Tretaykov revela-nos múltiplas visões da essência da história e de um povo, com tanta nitidez que custa a crer que, neste país, os instruídos professam, por defeito, o culto da censura.
Censura dura, mas flexível
Só os russos entendem, mas o resultado é épico, estes diálogos do século podem ser mesmo empolgantes















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