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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acordar em Istambul sobre o Bósforo


Acordámos em Istambul, as coordenadas exactas do encontro entre o Oriente e o Ocidente.
Tocamos na cidade silenciosa pela manhã fria que acende a urbe sem pressas, e não se ouvia o ressonar de quinze milhões de almas que sabíamos povoar este labirinto humano, que nos espreitavam por detrás das colinas, manhã cedo, penumbra vagamente fantasmagórica…
15 milhões de almas é um numero que não se usa na Europa…
Com o desembarque, a impressão tornou-se tangível: nas fronteiras do bairro europeu, os pescadores já entupiam a ponte de Gálata de anzóis e peixe frito, os cacilheiros do Oriente despejavam milhares de seres apressados que atravessavam de continente sem pestanejar, não havia guardas fronteiriços, apenas bandeiras vermelhas, decalcadas de uma lua branca, quarto minguante para ser preciso.
Uma cidade que não tem, não teve tempo, (nunca) para se definir, senão pelas dezenas de minaretes que povoam todos os horizontes imaginários, uma mancha urbana que alastra sem fim, e se lança no Bósforo à procura de tranquilidade…que jamais encontra
A imagem de uma cidade com marca é a sofreguidão de uma permanente respiração ofegante, no bazar das especiarias, nos locais de culto, na cidade medieval, em torno dos hotéis de charme, nas largas avenidas da cidade nova onde subitamente todas as mulheres usam lenço na cabeça, mudámos de cidade (não) nem mesmo de continente.
Estamos na Europa, quatro quarteirões acima do centro da cidade, do Bósforo, do europeu bairro de Beyoglu onde as mulheres se descobrem e uma noite se adivinha trepidante e cosmopolita.
Mas hoje em Istambul não ouvimos a chamada para a oração do meio-dia.
Sentimos saudades! Será uma inevitabilidade da globalização, ou uma fatalidade atribuída aos esforços de aproximação entre as culturas?


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Éfeso - uma cidade imaginável




Éfeso: E os romanos chegaram à Ásia Menor
Nas pisadas dos gregos este é um símbolo do (s) magnífico (s) Impérios (e um magnifico símbolo do Império)
Em busca da sétima maravilha do mundo antigo, o Templo Artémis que dizem, se evaporou para o Oriente, planámos sobre a cidade de mármore, dos templos e anfiteatros, uma perfeita noção de continuidade entre os gregos arquitectos e os romanos engenheiros.
Éfeso escorre para o mar imaginado, ao longo de toda uma encosta de plenitude artística e imperial.
É uma cidade soberba e absolutamente imaginável, quase vinte séculos depois do seu declínio, porque o mar recuou, antes que a ousassem arrasar.
Talvez porque o Ocidente aqui se instalou até ao século XV.
Uma cidade de duzentas e cinquenta mil almas, gregos que nunca foram verdadeiramente gregos, mas que foram os últimos a deixar de ser romanos.
Ágora, a Biblioteca de Célsius, e um anfiteatro para trinta mil pessoas, eternizaram uma dimensão que impressiona e que nos faz sempre recordar que nos encontramos numa terra de todos e de ninguém
Na cidade moderna, só os homens se pavoneiam nos cafés; também aqui o mar Egeu que secou nas margens, arrastou consigo o espírito universal e igualitário das origens do local.
Mesmo depois de Ataturk ter exilado o Sultão em S.Remo, ironia suprema, um ícone do Ocidente profundo.
Sempre a mesma indecisão basculante, dicotomia irresolúvel entre o Ocidente e Oriente próximo
Por aqui as pedras sempre serviram a cultura dominante e, por isso, tudo se arruína à passagem dos tempos.
Os banhos turcos substituíram os romanos, as mesquitas não respeitaram as igrejas que, por sua vez, haviam sonegado a história e alma da maioria dos templos.
Mas ficou o conceito de cidade. Provavelmente porque foram sobrando pedras…nem sempre a criatividade é um sinal dos tempos!
Em Izmir, debruçada sobre o mar egeu, as cinco milhões de almas turcas reclamam a herança grego romana, e as mulheres não se escondem por detrás de uma vergonha encardida.
Do cimo do convés, com a cidade a extinguir-se no seu profundo horizonte, as mensagens subliminares deste mundo nada evidente – que não corram o risco de se transformar em almas penadas – fica a recordação, impressa em pedra sem tempo, da fantástica fachada da biblioteca de Célsius, uma obra que deu luz a anos de trabalho do seu arquitecto, na cidade grega que só atingiu a sua plenitude com os seus sucessores (na prática os mesmos) romanos, agora turcos, nem persas nem ocidentais!





terça-feira, 3 de maio de 2011

Espírito Olimpico




Olímpia, a invenção de uma vontade que nunca se consumou através da democracia: a União Helénica.
Irónico mas belo!
Retórica profundamente espiritual mas pejada de alianças e traições com sinónimos persas.
Olímpia é a pomba branca de uma civilização que se esforçou demasiado para se impor a si mesma uma autonomia urbana obsessiva, quase mesquinha, baseada na retórica empolgada e nos artifícios do discurso político.
Foi preciso um macedónio impor-se aos Deuses do Olimpo para a Grécia ser Grécia
Foi necessário que o filho de um macedónio se intrometesse nos jogos olímpicos (do poder) para fazer o que a democracia nunca conseguiu.


A tirania em prol de uma causa, difícil de aceitar.
Uma lição de História mal estudada?
Mas Olímpia lembra o melhor que existe em cada um e o verdejante que envolve a chama é soberbamente inspirador.
É pena que o último Imperador Romano se tenha equivocado. Ser cristão não devia ser sinónimo de rejeição da diversidade dos Deuses, pelo menos no elogio das qualidades e do esforço humanos.
Mas foi!
E Olímpia foi arrasada.
Por esta e por outras caiu o Império Romano.
Contra senso? Ou o eterno esquecimento do bom senso dos poderosos?
Renasce Olímpia, reinventada nas lições da História!
Até breve
Alexandre, o Grande, discípulo de Aristóteles


Kamarada Kosta




Camarada Costa
És definitivamente o ícone do socialismo do século XXI europeu: qualquer que seja o preço que pagues, tens o mesmo serviço food & fun & drink &sun.
Navegamos a vinte e um nós no Adriático profundo e sentimos a brisa de Tirana, os ex-revolucionários mais esquecidos do continente.
Um socialismo diferente porém: sem noites de gala – hoje Barão Costa – um comandante latino que estilhaça flutes no brinde aos hóspedes ( “dá sorte” – apressou-se a acrescentar a mestre de cerimónias, a representante dos supersticiosos lobos marinhos de luxo)...e a hora vai avançar na direcção do Oriente!
Ou na fronteira com o Oriente – assim rezam dezenas de séculos de alianças e equívocos e algumas centenas de anos de personagens com objectivos e missões históricas.
Tenham um bom dia na Grécia, um povo (mesmo?) que nem os romanos entendiam porque é que raramente se entendiam.
Há quem assegure que foi por estes lados que nasceu a civilização ocidental.
Um verdadeiro caleidoscópio em torno de um só mar!
Uma verdadeira lição de História do futuro?
E o Kamarada Kosta zarpa impassível perante tantos símbolos. É uma máquina precisa, que não precisa de sentir.
Mare Nostrum Costa Atlântica em pleno Mediterrâneo (quase) Oriental, longitude democracia e latitude anarquia, um ponto preciso no mapa das nossas referências: Grécia




Abraços
Sócrates