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domingo, 6 de dezembro de 2009

Chove em Copacana

Chove em Copacabana


Copiosa entranha-se nos vultos que alisam o areal em desportos inconfundíveis na cidade Praia, nos corpos sobreviventes das nuvens densas, uma humidade tropical que os invade, eles desportistas, nós mirones!
A cidade submerge-nos em ondas sem pátria com a leveza de uma alma aguadeira…
O ruído incessante da urbe desvanece-se com a chuva que escorre do céu lamacento, das encostas dos morros que embrulham os vestígios de postal ilustrado.
Mas o dilúvio também afunda a magia; sim, a magia não desperta com a chuva dos Deuses.
Nem no Posto 6 de Ipanema, nem no boteco do Calçadão, não há vudu resistente, nem princesas de tanga, essas esperam o Sol para lhes realçar o culto do corpo.
A Metrópole perde a razão com a água que não vem do mar, esse ente que interage com a urbanidade letárgica.
A água do céu é um chuveiro que entope as avenidas de uma cidade carente, não há sombrinhas que te segurem, Cidade Maravilha que os teus poetas cantavam como sua, tolhidos pelo Sol que não vem esta semana!
Por isso os poetas e trovadores refugiam-se nas caves, no inacessível…
O táxi amarelo submerge-nos nas águas revoltas do bairro boémio, quisemos abrir a escotilha do submarino, mas o marinheiro chaffeur atracou-nos no Rio Scenarium, não fomos na enxurrada porque não havia morro, ali tão perto!
E afinal existem poetas no Rio, enclausurados no armazém da Lapa, segurem-se nas velharias embutidas de memórias, os sete anões e as pernas que apenas vestem ligas de renda, um elevador sem garçon, telefones e telefonias, uma vespa que jurava ter levitado a garota de Ipanema.
Pura magia!
A chuva todos os fins de noite dizia basta…a cidade era um deserto sem semáforos vermelhos, um downtown irreal com vultos imersos nas fachadas das torres de escritórios, federais à vista armada, mas jogava-se na baixa do Flamengo, sem Luar, banhados de luz artificial, garçons que vingavam noites de trabalho com madrugadas de bola até de manhã.
Em Copacabana não parava o jogging no Calçadão, não há horas no Rio para abarcar tanta diversidade.
Às quatro da manhã pensava se o submarino amarelo teria submergido, lá para os lados da Lapa.
Não há respostas. A urbe esquece!
Será assim com Sol?
O novo táxi amarelo enxuga os rolos de água da calçada, mas não resmunga: é neto de Cinfães do Douro, sonha com o paraíso que é Portugal, diz que há-de vir!
Tudo é indecifrável, sobretudo os sonhos!
As grandes urbes são fontes inesgotáveis de glamour e movimento…mas não resistem às imagens em câmara lenta de um interior bucólico!
Hoje, foi mais um dia de chuva em Copacabana!
Dezembro 2006

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