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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Canal Beagle – As baías dos índios anfíbios






A lua cheia enche a noite de um rasto de luz amarela que persegue o Via Australis noite dentro, rodeado de margens estreitas e picos escarpados.
São onze da noite, mas o crepúsculo persiste no canal Beagle, um lago espelhado, despovoado dos índios extintos, reino das aves marinhas e lobos solitários.
Darwin ganhou fama nestas paragens, três séculos depois dos descobridores, chegariam as primeiras tentativas de colonização, de aplicação prática da imberbe e imprecisa teoria da evolução das espécies.
E os índios Ayamanas, foram as cobaias de um biólogo cura, que sonhava com os mundos longínquos, mas que abominava o contacto físico com o primitivo e o selvagem.
A ciência como (poderoso) exercício da mente.
A baía de Uluaia é um retiro da natureza em estado puro, águas frias e verde deslumbrante, bosques pejados de vegetação Patagónica, uma encosta íngreme que se preenche de cascatas e plantas com frutos amargos e (dizem eles) afrodisíacos (a legião italiana uiva de emoção), caminhos lamacentos e paisagens deslumbrantes.


Tínhamos chegado ao ponto de encontro de culturas, o marco do encontro entre Darwin e os índios selvagens, primitivos e anfíbios.


Mas Darwin equivocou-se; o vocabulário dos Ayamanas tinha mais de 40.000 palavras.
Dormiam nos barcos, saltavam de terra em terra e descansavam em cabanas construídas por folhas de árvores e revestidas por peles de lobos-marinhos!
Uma visão profunda e sofisticada do mundo, a ecologia no estado mais puro, viviam com o que tinham em completa harmonia com o meio ambiente.
Por isso acabaram exterminados pelas doenças dos povos que se encontravam no topo da cadeia de evolução.
Ironia científica?
Manuela, a bióloga da expedição dixit!
Tínhamos recuado dos mares tormentosos, das forças de uma terra em nascimento, para uma acalmia pôs parto…
O final da cordilheira chilena dos Andes, revelava ao longo um glaciar seco e os cumes gelados, marcava a fronteira entre a terra e o mar, ou revelava-nos o regresso a terra dos auspiciosos navegadores de mares infinitos.


Regresso ao finito, ao explicável e ao alcançável.
Três mil metros de altura, ilhas que salpicam o mar interior, um silêncio esmagador no topo da colina, a natureza que nos penetra em todos os sentidos, e nos fere o nosso racional civilizacional.
Os castores destruíam as árvores – foram importados do Canadá e esqueceram-se dos predadores – e construíam barragens na castoreira, atrevidos e descarados estes bichos roedores que nadam nas nossas barbas e roem árvores para se entreterem (?!)


Um equívoco humano?
O conforto civilizacional (sobre a forma de semi-rígido) recolheu-nos a bordo, e a noite caiu com um manto de lua sobre o barco, as pequenas ondas de um mar interior e o sono profundo de quem vive emoções profundas sem vacilar!
De manhã, já na vizinhança do mar da Tranquilidade (diziam os navegadores), Oceano Pacífico por perto (sentia-se o cheiro, o frio e a diferença), os lobos-marinhos acordavam-nos com a mania da perseguição, saltavam atrás do Via Australis e chamavam a baleia que, ao longe, expirava água, espuma (ou apenas miragem?)

E o Estreito de Magalhães (português ou mal compreendido?) aproxima-se sem pressa!

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