Há três anos que os
nativos irónicos comparavam abusivamente L. a um novo “barbudo malcheiroso”
qual Pizarro, voando de mercados em mercados, vendendo consumo ao crescimento
económico, pelo menos isso ele sabia fazer, porque havia vendido consumo
durante anos a fio a um povo que comprava sem crescer.
Para além do incómodo
gerado pela generalizada perceção da grande Ibéria, havia esta diferença não
subtil e muito profunda, que marca a diferença dos povos: comerciante mas não conquistador,
sem necessidade de converter os nativos à fé católica ou roubar a prata das
minas.
L. estava longe de
imaginar, tantos anos depois da opressora escola primária da professora Helena
e do Hino Nacional cantado sem convicção nem especial amor à pátria, que se
voltaria a confrontar com as contingências do Tratado de Tordesilhas.
“ A principal razão
pela qual o Brasil é um país uno e esta unicidade não existe nos restantes
países de língua espanhola, é porque todos os membros da elite brasileira estudaram
e graduaram-se na mesma universidade “ – referia entusiasticamente o reitor da
Universidade de Coimbra em todas as cerimónias públicas.
As razões da História
iam-se alinhando cronologicamente, à medida que L. crescia e se transformava
num Homem de calças coçadas e espírito libertário.
Por esta fase, o mundo
já não chegava pelo correio, através de panfletos turísticos zelosamente
pedidos por carta, numa letra irregular de adolescência avançada, sempre
acompanhados de elogios bajuladores a todas as repúblicas ou monarquias,
algumas tão obscuras, quanto o seu relevo no mapa-mundo, religiosamente colado
nas paredes do quarto, mas que evoluíam no seu ranking de admiração em função
do tamanho do envelope de resposta.
Avançáramos sem
hesitação pela década da televisão a cores e L. tinha tudo para ser errante
como o vento que assola a costa ocidental atlântica no inverno do norte,
incapaz de se prender a uma existência vulgar e convencional.
Tão longe deste
Pacífico, obscurecido por um anoitecer precoce a caminho do aeroporto, num mar
que se deixa atravessar por um canal sem vento, construído no meio da sufocante
humidade tropical, dos mosquitos e sacrifícios humanos, uma tentativa sobre
outra, até resultar.
A natureza é obstinada
em defender o que é sagrado e ligar dois mares com diferentes altitudes e
histórias, que só se haviam ligado no extremo sul, entre tempestades e fiordes,
não obedece de todo às leis da mãe natureza.
Daí o enorme
sacrifício humano!
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