Fora do centro, a cidade é uma
aldeia a acordar.
Por detrás das alamedas pejadas
de árvores, o nevoeiro desvanece-se gradualmente por entre os blocos de bairros
encardidos e populares, a forma como a cidade formatou as populações rurais que
a invadiram, décadas atrás de décadas
Às 10 horas no bairro da manhã, a
aldeia cobre a cidade de um manto de roupas estendidas nas varandas
enferrujadas da propriedade camarária, e a rua transforma-se numa oficina
improvisada, na vespa de caixa fechada estacionada na erva que cresce nos
espaços vazios, um velho de camisola interior de manga cavada que manipula
ferramentas e vende serviços rápidos, as couves que crescem como cogumelos na
berma das ruas e veredas e os muros de pedra que sobrevivem aos novos blocos de
apartamento que circundam a aldeia, bem no centro da cidade.
Um junkie alienado ronda a montra
do supermercado sem destino próprio, permanece apátrida na fronteira da aldeia
como um deslocado permanente, uma mente aldeã que procurou descer à cidade, e caiu.
Às 10 horas no bairro da manhã, a
aldeia expatriada vive em torno da igreja e do cerimonial aos mortos, numa
agitação social apenas comparável ao mercado da fruta.
No cemitério do bairro não há
ervas daninhas e os canteiros floridos cobrem a pedra numa palete de cores
vivas, num cerimonial permanente de homenagem e lembrança.
Como na aldeia da sua origem
comum!
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