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segunda-feira, 28 de julho de 2014

O palácio do último Imperador



Split, a morada de Dioclesano, um dos últimos Imperadores da Roma Ocidental.
Filho de escravos, nascido em Salona, na Croácia Adriática, chegou a Roma através de grandes feitos militares
Visionário, foi o primeiro que se reformou em vida e planeou-a, construindo por antecipação o palácio em Split.
Sentado no seu palácio, viu de longe o Império a desmoronar-se, implodindo pelo seu interior e suicidou-se seis anos depois da sua reforma voluntária.
Depois da sua morte, da queda do Império do Ocidente e da invasão de Salona pelos eslavos bárbaros, os sobreviventes refugiaram-se nas muralhas de Split.
Quatro séculos depois, o seu palácio transformou-se em cidade
Hoje vive entre ruínas, o vibrante porto de mar e uma movida muito mediterrânica

E Salona, seis quilómetros pela encosta acima é um descampado sem glória que relembra Pompeia, um vulcão chamado eslavos.


sábado, 4 de agosto de 2012

Trastevere ou a embriaguez das noites de Roma


Lambretas aceleram entre o trânsito impossível e uma multidão que não tem pressa de regressar a casa
Também não apetece porque a temperatura de corpo humano com febre ligeira serve de suave casulo para a brisa inexistente que se sobrevoa o Tibre em voo rasante
Em Trastevere a noite faz se de ruelas estreitas de uma cidade alem rio diferente com sentido e vida próprias, cheiros que denunciam existências suadas, roupas interiores expostas, sem pudor, nos estendais das traseiras mal iluminadas, tascas de bancos corridos cheias de memórias de aspeto autêntico e cheiros de comida mediterrânica
Santa Maria Trastevere, a praça e a igreja são apenas um prelúdio medieval que nos convida a embrenhar pelo bairro adentro - quanto mais recôndito o canto, melhor - porque cada esquina é um microcosmo tingido de cores próprias, existências diferentes e seres de texturas especiais
Os comedores de fogo que pululam na praça convidam-nos a experimentar o bairro
Sem sofisticação nem ruínas milenares em emersão constante, apenas vida incontida num bairro que não conheceu (nunca) imperadores e que nasceu na era das trevas (ou da penumbra, conforme as vivências)
E por isso mesmo é um local mais familiar porque os personagens podiam pertencer a uma qualquer fita de cinema do sul da europa, com uma ausência total de fantasmas adoradores de deuses pagãos
Católico, apostólico e romano
É assim Trastevere numa noite de verão abrasador nas margens do Tibre
Embrenhamo-nos com os vapores do limoncello a pairar à volta das nossas cabeças, no arraial à beira rio e as referências (turvas) ao nosso mundo - mediterrâneo e europa do sul - são reconfortantes
Num dialeto esmagadoramente italiano, incha-se o ego machista no tiro aos pratos, lê-se as cartas numa tenda de mil e uma cartomantes, bebem-se caipirinhas e mojitos, disputam-se acesos campeonatos de matraquilhos, vendem-se bugigangas dignas de uma feira.
Debruçados sobre a ilha Tiberina – regressam os vestígios de Roma antiga – atravessamos pontes para a ilha do cinema, mais referências latinas em múltiplos jardins cinema
E, de repente, apetece-me ser cinéfilo,
Lambretas aceleram entre o trânsito impossível e somos nós que não temos pressa de regressar a casa
Trastevere, ou a embriaguez da noite de Roma!

Roma em três atos - Ato III - A modernidade romana


Em pleno terceiro ciclo de vida da urbe (do Império, do País?) – terá começado com o regresso dos papas ou com o renascimento tardio?
 A nova Roma, a Roma dos dois elementos, nasce com o renascimento adiantado e integra a recuperação do elemento antigo com a sumptuosidade luxuriante do barroco
É o que consta dos relatos e o que ressalta dos passeios na cidade habitada e cosmopolita
A intrigante coexistência do (profundamente) religioso e do pagão (o culto da beleza e do corpo) nos últimos séculos, é um acontecimento pleno de êxtases e arrependimentos, revelações, equívocos e algumas sórdidas vinganças.
Mas salvo acidentes e algumas adaptações convenientes - daí as estátuas nuas sem sexo nos corredores do Vaticano – a obra dos artistas do novo renascimento da cidade é a essência da arte compreensível e completa, a modernidade anunciada que se respira nas igrejas, nas piazzas, nos lugares de culto ou exaltação pagã.
Michelangelo, Bramante e Raphael desbravaram a nova era por entre a indefinição de estilos de uma cidade que olhava, soturna para o passado, e Bernini soube render guarda aos poderosos mecenas e as suas exuberantes obras prolongam o fulgor dos mestres do Renascimento, com um toque muito (barroco) especial
Assim nasceram pedaços da nova Roma, os retalhos da vida de um turista na cidade.
No Campidoglio, no alto dos capitolinos, encrostado entre o fórum e o monumento a Vittorio Emmanuel (uma extravagância fora de época, muitos séculos depois numa nova, e fugaz, tentativa de construção imperial) …


(Porque é fascinante alimentar a ideia de que a cidade se (re) constrói permanentemente sobre ela própria, por camadas de História…)
Nas fontes da Navonna, entre o bairro judeu, o panteão – obra mágica de céu à vista, de dia e à noite – um rio que se confunde com as origens de Roma, e na vizinhança das sedes do poder…


Em S. Pedro, não somos surpreendidos por um toque de barroco demasiado especial que confunde os sentidos com os compromissos apostólicos e artísticos a basílica centro do catolicismo ocidental …), desbravado muito mais tarde por avenidas “mussolinicas”…


Pela Via Sistina adentro até Trinitá del Monte, escadarias abaixo em direção à Piazza di Spagna, navegando na Fontana dela Barcaccia pelos mares de luxo da Via Babuino até ao Popolo (igreja, praça e a porta da cidade), uma praça quase perfeita de formas geométricas e de simetrias cheias de significados misteriosos…


E os locais de culto sucedem-se, independentemente das hordas de turistas acidentais, ruidosos e, por (muitas) vezes incapazes de entender o sentido mais espiritual das obras e das crenças de um povo.
Sim, porque as referências são quase impossíveis de abarcar num roteiro, numa visão panorâmica, ou numa superficial visita com tempo contado, porque Roma não se esgota numa unidade de tempo / dia.
Mas os heróis do terceiro ciclo têm uma vantagem preciosa: não experimentaram a decadência e a derrota, viveram numa Europa de bárbaros domesticados (ou convertidos)
Foi só criar nos espaços vagos
Por isso os génios da arte andam à solta na citá!

domingo, 29 de julho de 2012

Roma em três atos - Ato II - Via Appia Antica e o triunfo de uma Nova Ordem


Nas bermas da grande estrada do Império conspiravam os cristãos nos túneis suburbanos da grande Roma.
Nas catacumbas de S. Calisto, construídas em camadas, não apenas como um repositório de defuntos, mas como um templo vivo da nova fé, sentem-se os primórdios de uma nova era, feita de simplicidade, uma devota militância num mundo e numa nova crença, despojada e plena de aspirações, igualitária e cristã
Nas catacumbas sente-se o peso histórico da ascensão de uma nova ordem (como em nenhum outro lado em Roma) que, tal como o frio subterrâneo, arrepia quem sente!
Ao lado, a Via Appia Antica, simboliza o êxodo dos antigos senhores e relembra-nos com é ténue a linha de fronteira entre dois mundos.
Soberba a incapacidade de prever (e aceitar) os ventos de mudança que deslocam o império para leste, lançam a antiga capital no caos e no retorno às trevas, que a ascensão do papado ressuscita, (ressurreição de fénix) lentamente ao longo de séculos de uma transição, feita de alianças improváveis, em direção ao renascimento e à modernidade.
Ciclo de vida em mil anos de uma história desordenada, uma idade média que viveu muitos anos nos escombros da Antiguidade e que utiliza os restos do Império, sem critério nem pudor, para a construção dos novos templos de um deus só!


É uma descoberta sensorial única que nos confunde à vista desarmada e nos obriga a escavar fundo, ao lado dos novos arquitetos seguidistas que, para além de tudo o resto, contribuíram para a preservação de alguma da grandeza da antiguidade imperial.
É o verdadeiro ato II da atual Roma turística: identificar, edifício a edifício, as sobre (justa) posições de épocas, de estilos e de necessidades construídas, de forma intencional (ou não), na longa idade média romana.
Longa vida para os novos messias do império que prosperam desde os túneis da lama à cripta da basílica de constantino e de pedro.
O ato II ½ (portanto entre o II e o III) é uma demonstração de que a natureza humana não se altera significativamente com a mudança de ordem prevalecente e de que, tudo em Roma, acaba por desembocar no vaticano profundo
Trata-se da adoração celestial das relíquias terrenas, acumuladas pela nova ordem romana e ocidental ao longo de séculos missionários.
Mais do que uma fé, os museus do vaticano, são uma demonstração de poder, uma acumulação insaciável de relíquias de todas as civilizações imperiais defuntas, repositório de tudo o que foi escavada nas inúmeras terras de Roma.
Enquanto cambaleava entre multidões em fila cerrada, pelas maiores exposições de esculturas (definitivamente pagãs e absolutamente bélicas) egípcias e romanas do mundo, repetia que nem um tonto; fé ou demonstração do novo poder romano que só a unificação italiana confinou aos territórios do vaticano?
Não é fé com certeza!

Roma em três atos - Ato I - O triunfo dos feios, porcos e maus / A decadência do Império


Esmagados pelas pedras e pelo calor.
O calor absurdo evapora as poeiras milenares que povoam as ruínas e faz desvanecer o azul do céu e, apesar das multidões fumegantes e famintas de triunfos e vestígios dos Imperadores, dos guerreiros, dos gladiadores, o cortejo triunfal deu lugar ao caminho das pedras no Fórum Imperial e nas antecâmaras deste estádio da antiguidade.
O esqueleto do Coliseu clama por justiça (sim, dois mil anos de pé, apesar dos saques bárbaros e dos aproveitamentos católicos) porque a barbárie e a violência não diminuem a virtualidade da engenharia romana.


Apesar do elevado teor sanguinário deste local – a areia absorvia o sangue na arena – consta que não se mataram cristãos por aqui (afinal já havia mitos urbanos na Antiguidade).
Mas as setenta e cinco mil almas que aqui se sentavam, desfrutavam de atividades lúdicas de teor selvático elevado, devidamente ratificadas por todos os poderes imperiais.
Alienação das massas?
Quando já não havia gladiadores ou escravos e o Império já tomara o veneno que liquidaria de vez a cidade, os restos de poder organizavam combates entre animais selvagens, tendo conduzido à quase extinção de algumas espécies – é o que se diz!
Manter as massas entretidas com sangue, mesmo que as novas crenças dispensem o sacrifício humano!
As reproduções virtuais da cidade imperial revelam um estádio avassalador
Encostamos os ouvidos aos arcos, aos templos e ao fórum procurando escutar murmúrios (que sejam) de triunfos e glórias, de uma cidade vibrante de um milhão de almas que conheciam os segredos da água, mas só ouvimos cigarras e uma lengalenga de contadores de histórias a multidões ofegantes e crédulas, mas com uma grande dificuldade em compreender o todo!
Uma forma diferente de sentir a fábula!
Perguntamos à nossa alma dual (a inteligência racional) como se deu a ascensão e a queda do império mais óbvio do mundo.
Cento e cinquenta anos, foi o tempo suficiente para transformar o reino do céu na terra, num campo de pasto para vacas e menos de vinte mil almas residentes.
590 D.C.,
A superioridade rendida às trevas e à barbárie dos básicos do Norte.
Nem sempre triunfam os mais fortes
A única resposta da alma dual que refrescava as interrogações sem pudor numa fonte de água gelada, assombrada pelo Templo de Rómulo.


Roma em três atos – Como qualquer outra simplificação grosseira


Decidimos formatar a Roma turística numa cidade a três atos – A decadência do Império, a ascensão do poder católico e o esplendor renascentista e e da contra reforma.
Porque é fascinante alimentar a ideia de que a cidade se (re) constrói permanentemente sobre ela própria, por camadas de História, reaproveitando os materiais, as técnicas de construção, o significado mitológico/religioso ou pagão do espaço arquitetónico ocupado.
Consta que Miguel (o Ângelo) se perdia por entre as basílicas e os templos romanos em ruínas a estudar os prodígios arquitetónicos (e de engenharia, sem dicotomias nem pontas soltas) dos primeiros romanos e, mesmo na decadência, relançou as bases do modernismo (vide ato III)
Nascido na moderna Florença, emigrado para a velha e ruína romana.
 (A atribulada história dos pós império impede-nos de narrar o verdadeiro e definitivo primeiro ato – A expansão do Império - a não ser pela imaginação dos historiadores, e pelas tecnológicas reconstruções em maquetes de 3D)


(A falta de tempo – Roma é uma cidade que se devora – impede-nos de conceber um quarto ato “ A unificação italiana e o século vinte e a Roma contemporânea”, sobretudo porque resumir a Roma contemporânea ao mais que visível – seja qual for o prisma, o itinerário ou a visão panorâmica – “mausoléu” a Vitorio Emanuel seria descriminar positivamente o Benito)
(Sem ofensa)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A ira de Nero (e outros equívocos históricos)


Um povo deve cansar-se de fadiga a sério.
Nero teria ordenado que pegassem fogo a este enxame de invasores barulhentos e multiculturais que devassam os tesouros do Império (eles e as máquinas fotográficas que banalizam os tesouros, revolta (tardia) dos povos romanizados.
Estação ferroviária de Santa Maria Novella, cinco da tarde!
Abre-se um corredor, um intermezzo de silêncio e conforto entre a agitação e o ruído que enxameia a arte e a história.
A experiência ferroviária é um mommentum: Florença vs. Roma em hora e meia, uma linha nova que se esconde da paisagem em (tantos) túneis que fazem doer os ouvidos e tira-nos todas as referências geográficas (Toscânia, umbria, quem se interessa ou quem sabe?)
Absolutamente novo e inesperado. Não era esta a memória confusa e extenuante que tinha dos morosos combates ferroviários italianos por um lugar sentado.
Hoje importa chegar sem tremores e sem demoras. Uma espécie de combavião!
Provavelmente se o génio Miguel (Ângelo) tivesse sido contemporâneo destas modernidades, não teria demorado tantos anos para fugir de Florença para Roma! Ou apenas mais uma possível causa para o deficit galopante de um Estado descuidado, que todos, em Itália, preferem que não atrapalhe?
Roma ao fim da tarde, e as gaivotas sobrevoam o Quirinale.
Felizmente o Presidente não deve estar porque é Domingo e porque as gaivotas têm o mau hábito de arrancar os olhos aos moribundos.
Gaivotas a trinta quilômetros do mar, tempestade certa!
Em Trevi, uma multidão nunca vista abafava a fonte e evaporava-lhe a água só com o respirar
Vamos daqui embora antes que chegue o (tal) Nero.