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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

S. Pedro (Perro) de Atacama – o deserto das estrelas


S. Pedro, uma terra de mochileiros, tão diferentes entre eles, mas tão vivos e presentes.
Alguns são apenas revivalistas da mochila, sedentos absolutos do conforto e do bem-estar, no centro de uma verdadeira aventura, remotas latitudes, exóticas referências!
Como Calafate, Cahuita e Canoa Quebrada, icons (presentes, passados, futuros?) dos viajantes solidá(tá)rios, um regresso às origens ou a expiação colectiva das suas inquietações burguesas ou solidões profundas.
Na praça da igreja, um largo do coreto tão recôndito como familiar, a aldeia reinventada no sopé dos andes, passeia-se ao fim da tarde e prepara-se o cinema ao ar livre.
Cine Paradiso na noite fresca de S. Pedro.
Caracoles ao anoitecer é o centro da diversidade, onde se reúnem os contadores de histórias do mundo inteiro à volta de um braseiro, os viajantes são assim, mesclam experiências e são apenas pescadores de sensações com uma contextualização pouco precisa.
Chegam e partem dos cumes e dos vales; uma aventura em ambiente controlado!
Impossível de definir um padrão, uma origem, porque não há uma fronteira social entre os autóctones e os forasteiros.
Apenas na fisionomia andina…alguns!
Sente-se ainda no ar os cheiros e as sensações de uma última fronteira.
A Bolívia é já ali ao lado, por detrás do Licancabur, 45 quilómetros de encosta íngreme, uma estrada que se adivinha esburacada sem controlo de fronteira. Ninguém quer ir para lá! – Dizem eles
Argentina, um pouco mais a sul, Paraguai, em entreposto para chegar ao Brasil!
A música andina entope a rua, construída de sal e areia, intermitentemente iluminada por candeeiros amarelos, homenagem às cores do deserto, um suave contraste com o barro das cercas, das paredes e dos pátios, heranças de influências múltiplas:
Andes, deserto e colonização espanhola.
A noite é curta no deserto e a Via láctea é o lençol iluminado (a nuvem?) que nos fecha os olhos!
Géisers e fumarolas a 4,300 metros.
Acordados desde as quatro da manhã, tivemos saudades das furnas dos Açores.
A actividade geotérmica estava dormente, porque a temperatura do ar era demasiado alta…diziam eles!
3º Graus é muito calor – dizem eles
Uns fumitos e uma aguazita a espirrar.
Não ousamos troçar da natureza no seu estado puro, mas aquele banho matinal nas águas quentes (e sabe-se lá mais o quê) das termas de margens lamacentas sofre de tendências depressivas, multidão de cabeças espetadas no vapor e flutuando sobre as sombras da água, no limite da indecisão entre o riso e o choro.



Os fatos de banho ancien regime deviam ser proibidos, porque interferem com a vida selvagem!
Agora entendemos porque é que o pico que circunda o vale geotérmico se chama choro do avô!
Pobre avô!
A descida pelas encostas, montanhas abaixo, tão deserto, riachos cheios de verde, pontes que não existem.





Uma aldeia recôndita, sem nome que deixe recordação ou lembrança!
Uma fotografia do lama bebé órfão que bebia biberão custou 1000 pesos.
Afinal o lama não era órfão, mas a igreja era linda!
O intervalo da aventura do dia, chama-se sopa de beterraba fria, de frente para o Licancadur, sala de almoço no Tierra Atacama, arquitectura minimalista, sem traves mestras, só vidro, paisagem e vulcão.
O mais famoso dos vulcões.
O vale da Muerte (que devia ser Marte se não fosse um equívoco linguístico) é o princípio da última experiência de deserto.
A primeira verdadeira experiência do deserto no seu estado natural: absoluto inóspito.
Gargantas profundas esculpidas pelas águas, gelo, vento, lava e sedimentos, montanhas esculpidas de areia e sal, encostas arenosas que escorregam só de olhar, formas bizarras esculpidas no ar e na terra…
O Vale da Lua!

Dizem que é o lugar mais seco do mundo. Dizem!
Sublime a não cor, a forma da lua nas rochas, um arrepio na cordilheira dorsal …
Nossa ou do deserto?
Inesquecível a versão Atacamenha da Lua.
Começam a juntar-se os adoradores do Sol Poente, dançarinos da areia e do monte, adivinham-se os pés descalços e as plantas alucinogénicas, capazes de tatuar (sem possibilidade de remoção) as cores do Sol a despedir-se das montanhas, dos vales …
…oásis, vulcões, lagos salgados e…areia!
Pôr-do-Sol no deserto!
Andes pintado de tons laranja que mudam a cada momento, a cada ângulo.
Oásis de S.Pedro deita-se no planalto e o deserto capricha em formas e cores, amarelo, laranja e tons desconhecidos, porque não os há noutros lugares.
Deserto é vida!
Deserto é extremo!
Inenarrável a despedida do Imperador dos elementos!
Causará danos irreparáveis nas partes mais sensíveis do cérebro?


Atacama – o deserto das estrelas


O céu que cega os sentidos, é a primeira sensação do deserto.
Via Láctea, as Três-Marias…
Os camiões sulcam o deserto que se pressente na escuridão, e pressentem-se as maiores minas de cobre do mundo.
A chegada à cordilheira dos Andes é visível a quilómetros, pelos vultos luminosos que se confundem com as estrelas dos alucinantes monstros do asfalto…
E a distância entre os portos do Pacífico e as grandes metrópoles do interior Atlântico, torneando as cordilheiras, afrontando os cumes dos vulcões extintos
Bolívia, Paraguai, Peru e Argentina, refazendo as áridas rotas de Pedro de Valdívia.
São as novas fronteiras que se cruzam no Atacama!
O deserto em movimento, dominado pelos faróis da estrada e pelas estrelas do céu.
Depois, vem o silêncio; o deserto longe da estrada.
E no fecho da trilogia dos sentidos, o cheiro: a seco, perfumado e (particularidade deste deserto) a vento, 2,200 metros de altitude ventosa e resfriada.

De manhã, nasce um outro deserto.
Quente, vermelho, os vulcões que assomam do cimo das fronteiras, imensidão que se vê, as distâncias que não se entendem.
Tão perto (que parece), tão longe (que é).
Miragem indiscutível
Acordar com o vulcão Licancabur aos pés da cama!
Inactivo, mas com 6,000 metros de imponência, num absoluto contraste ente a terra de cor indecisa e o céu de um azul que não é cor de mortais!
O oásis dilui-se progressivamente no asfalto intermitente, nos muros altos que bordejam as árvores frondosas, os rios subterrâneos, primeiro, substituídos por arbustos, depois por umas penugens secas, tão inóspitas quanto o horizonte, por fim pedras e areia cinzenta.
Oásis, deserto, bosque inacabado, oásis Toconao.
Tudo o que se imagina num oásis: uma igreja – missionários que não se detinham na sua missão evangelizadora, pela ausência de crentes – pó que se entranha na vegetação que ousou nascer, um repositório de todo o lixo que o deserto rejeitou, uma luta que se vislumbra entre a civilização e as forças da natureza.
Um lama no curral e uma cabra que se passeia no banco de jardim, patas atadas por precaução de quem as conhece.





Mas tem gente; brinquedos esquecidos no quintal da senhora de idade, um tear que se prepara para trabalhar e a velhota da loja dos souvenirs, também dona do lama, da cabra e provavelmente das crianças que abandonaram o quintal, em defesa da sobrevivência do negócio.
É um cenário de purgatório geográfico e humano.
Antes do deserto que não tardou a afirmar-se como dono do planalto.


Salar de Atacama: uma imensidão de caprichos da natureza (ou o fascínio pela obra da criação e transformação do mundo), o terceiro maior lago salgado do mundo, o coração do deserto nas alturas, afinal o deserto tem vida
Flamingos, os donos dos pequenos lagos do Salar
A subida para as lagoas altiplanas, faz-se de medo das alturas e de transição de estado…o deserto que se perde nos cumes da cordilheira continental, simplesmente Andes!
4200 metros de altitude, lagoas de azul impossível, que competem com o céu e os vulcões.
Dizem que há alguns milhões de anos, a actividade de todos estes vulcões, correspondia a um terramoto de 40º…
Muita animação nos primórdios do mundo.
E ficaram duas lagoas…o vento assopra-nos os sentidos, um bando de vicunhas desce a encosta até ao lago, para matar a sede, um vulcão extinto de 5900 metros de altura vigia a vida animal do lago, do vale e das encostas sobranceiras.

Afinal, parece que o grande explorador dos interiores inóspitos, Pedro de Valdívia, passou apenas no vale e não conheceu este cenário do nosso mundo.
Pena para ele, e uma sede mortífera para os seus comandados que se perderam e reencontraram nos recantos mais secos deste planalto de Atacama.
Um problema de definição de fronteiras?