Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta silêncio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta silêncio. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sombras de um Inverno Nórdico



(ou não há tarde nas paisagens do Norte)
A Escandinávia rural embala-nos à volta do roast beef e do arenque (o arenque é invenção minha, porque não visão - estereotipada - completa do universo nórdico sem o salmão e o arenque)
São algumas (uma, duas talvez) horas da tarde e desde a manhã que persiste a mesma sensação de eterno pôr-do-sol atrás das nuvens, numa constância de cinzentos meio-toms, um amarelo sol que rompe esporadicamente o ameaçador carregado sobrolho celeste.
Silêncio, cavalos, sombras e reflexos no lago quase gelado, numa província em estado semi sólido, pequenos interlúdios da imensa planície branca.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Espaços imensos – as vias rápidas do silêncio


Largos corredores de paisagem aberta que se alterna entre o castanho e o verde, em tons que escorrem pelas encostas onduladas do planalto transmontano, quebrado por laivos de escarpas agrestes e inevitavelmente desnudadas, árvores sozinhas no cume de todos os montes sem folhas como se adivinhassem que o inverno vai voltar e terminar o seu trabalho.
Estamos definitivamente em Trás-os-Montes, em plenas vias rápidas do silêncio, que cercam, cruzam e embalam este pedaço de país verdadeiramente diferente (absolutamente igual)
Esta é uma perspetiva externa (a nossa), porque temos a sensação que regressámos a passado que desconhecemos, seria o Portugal profundo se não estivéssemos tão perto da fronteira com Espanha.
Numa perspetiva interna diria que a globalização não resolve os problemas essenciais dos transmontanos “esta chuva é uma bênção” porque as barragens, as inúmeras minas de metais diversos e os complexos agro industriais, nada parece ter resolvido os problemas deste povo, tudo o que produzimos foi para consumo dos outros (mensagem panfletária que nunca sairia da boca de um transmontano)
Até o centro comercial é um insucesso, votado ao ostracismo deprimente de uma moda que não terá pegado, (aquele visual bolorento pressente-se, mal as portas de vidro se abrem, neste decadente santuário do consumo que foi afundado pela depressão, a vitória do cimento sobre o vidro), vencido pelo comércio de rua que expõem a roupa e o calçado na rua, na calçada – verdadeira montra viva por debaixo dos olhos e à mão – perto do cliente, em horários de gente
Deglutido / digerido pela autenticidade transmontana, pode ser que a modernidade aqui venha a ter um sabor autêntico.


Não sei se as pessoas são felizes na autenticidade, mas há toque absolutamente único para lá do Marão, que se afirma na paisagem e nas gentes, que já perceberam que a vida começa neles mesmo e pode terminar em quem os ajuda – mesmo que sejam espanhóis!
Não sei no que pensa a juventude transmontana, pouco visível e exuberante, fico na dúvida se a modernidade, a autenticidade, a tradição, a auto-suficiência e a juventude se compatibilizam num mundo global do século 21
Em Bragança, em Miranda ou Mogadouro, em Vimieiro e Montesinho ou nas dispersas aldeias que se atravessam nas vias rápidas do silêncio, desertas em luto Pascal ou desertificação irreversível (?)
Afinal de contas Bragança é a única capital de distrito que (ainda) não tem autoestrada

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Atacama – o deserto das estrelas


O céu que cega os sentidos, é a primeira sensação do deserto.
Via Láctea, as Três-Marias…
Os camiões sulcam o deserto que se pressente na escuridão, e pressentem-se as maiores minas de cobre do mundo.
A chegada à cordilheira dos Andes é visível a quilómetros, pelos vultos luminosos que se confundem com as estrelas dos alucinantes monstros do asfalto…
E a distância entre os portos do Pacífico e as grandes metrópoles do interior Atlântico, torneando as cordilheiras, afrontando os cumes dos vulcões extintos
Bolívia, Paraguai, Peru e Argentina, refazendo as áridas rotas de Pedro de Valdívia.
São as novas fronteiras que se cruzam no Atacama!
O deserto em movimento, dominado pelos faróis da estrada e pelas estrelas do céu.
Depois, vem o silêncio; o deserto longe da estrada.
E no fecho da trilogia dos sentidos, o cheiro: a seco, perfumado e (particularidade deste deserto) a vento, 2,200 metros de altitude ventosa e resfriada.

De manhã, nasce um outro deserto.
Quente, vermelho, os vulcões que assomam do cimo das fronteiras, imensidão que se vê, as distâncias que não se entendem.
Tão perto (que parece), tão longe (que é).
Miragem indiscutível
Acordar com o vulcão Licancabur aos pés da cama!
Inactivo, mas com 6,000 metros de imponência, num absoluto contraste ente a terra de cor indecisa e o céu de um azul que não é cor de mortais!
O oásis dilui-se progressivamente no asfalto intermitente, nos muros altos que bordejam as árvores frondosas, os rios subterrâneos, primeiro, substituídos por arbustos, depois por umas penugens secas, tão inóspitas quanto o horizonte, por fim pedras e areia cinzenta.
Oásis, deserto, bosque inacabado, oásis Toconao.
Tudo o que se imagina num oásis: uma igreja – missionários que não se detinham na sua missão evangelizadora, pela ausência de crentes – pó que se entranha na vegetação que ousou nascer, um repositório de todo o lixo que o deserto rejeitou, uma luta que se vislumbra entre a civilização e as forças da natureza.
Um lama no curral e uma cabra que se passeia no banco de jardim, patas atadas por precaução de quem as conhece.





Mas tem gente; brinquedos esquecidos no quintal da senhora de idade, um tear que se prepara para trabalhar e a velhota da loja dos souvenirs, também dona do lama, da cabra e provavelmente das crianças que abandonaram o quintal, em defesa da sobrevivência do negócio.
É um cenário de purgatório geográfico e humano.
Antes do deserto que não tardou a afirmar-se como dono do planalto.


Salar de Atacama: uma imensidão de caprichos da natureza (ou o fascínio pela obra da criação e transformação do mundo), o terceiro maior lago salgado do mundo, o coração do deserto nas alturas, afinal o deserto tem vida
Flamingos, os donos dos pequenos lagos do Salar
A subida para as lagoas altiplanas, faz-se de medo das alturas e de transição de estado…o deserto que se perde nos cumes da cordilheira continental, simplesmente Andes!
4200 metros de altitude, lagoas de azul impossível, que competem com o céu e os vulcões.
Dizem que há alguns milhões de anos, a actividade de todos estes vulcões, correspondia a um terramoto de 40º…
Muita animação nos primórdios do mundo.
E ficaram duas lagoas…o vento assopra-nos os sentidos, um bando de vicunhas desce a encosta até ao lago, para matar a sede, um vulcão extinto de 5900 metros de altura vigia a vida animal do lago, do vale e das encostas sobranceiras.

Afinal, parece que o grande explorador dos interiores inóspitos, Pedro de Valdívia, passou apenas no vale e não conheceu este cenário do nosso mundo.
Pena para ele, e uma sede mortífera para os seus comandados que se perderam e reencontraram nos recantos mais secos deste planalto de Atacama.
Um problema de definição de fronteiras?