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sábado, 2 de janeiro de 2016

Yellow Submarine



Hoje não havia surfistas na praia, apesar das ondas.
Hoje os tristes invadiram a praia.
Tristes, apenas pela ideia do passeio.
Promenade de um Sábado com sabor a Domingo.
Havia ondas mas não havia pranchas.
Nem sequer gaivotas, apesar das ameaças de tempestade.
A resposta veio dos céus:
São os Homens, meu Senhor, são os Homens
Da irreverência e da aventura, resta o submarino amarelo!



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A tribo do surf desceu à praia do Baleal



Os fatos pendurados nas varandas revelam que o campeonato do mundo de surf esgotou as camas com vista para o areal
Os ninjas forrados de preto passeiam as pranchas debaixo do braço, no parque de estacionamento, no alcatrão e no areal, ziguezagueando como pequenos tubarões em terra firme (sim, há tubarões pretos na costa), precipitando-se no mar moderadamente ondulado, tímido e retraído pela impetuosidade da horda e pelo entusiasmo redentor de centenas de seguidores do Deus das ondas.
Atrás das dunas, a ausência de vestiário justifica cenas de nudismo informal e descontraído, porque os fatos estão molhados e os automóveis dão uma falsa sensação de proteção perante olhares fortuitos, mas involuntários.
Entre o preto e o cor de pele há resquícios de flower power na frente ocidental, esfolados na Ford Transit de matrícula britânica que desperta dos buracos de ferrugem, portas abertas de correr, e a certeza de que conheceu os Beatles, ainda novos, e muitos anos pela estrada fora.
Mas à medida que rolamos no asfalto abrasivo em direção à ilha – que tecnicamente é uma península – torna-se evidente que esta multidão, em forma de fauna, é muito mais difícil de definir do que se imaginava.
No estacionamento pejado de caravanas século vinte, a roupa estendida é apenas mais um obstáculo para as centenas pranchas que entopem as escadas do areal, e que se impacientam perante uma legião de voyeurs, esses manequins de revista social e roupas de marcas sonantes e cheiro a maresia.
Estes seguidores sem prancha, tal como os campeões, exibem-se perante fotógrafos, televisões e multidões.
Ao meu lado, por detrás dos vidros protetores de um veículo familiar e moderno, uma morena consulta o iPAD com um jeito profissional e não sorri nos segundos que cruzaram os nossos olhares e embrenha-se num casulo de quem não está à espera de ninguém. Eu apostava que ela é namorada de surfista do século vinte e um, cabelo escorrido, fato novo e prancha a brilhar, nada o género dos dois que se atravessam à frente da grelha do meu automóvel de luxo (afinal de contas qual é o teu papel?), ressequidos e desgrenhados de tanto mar, areia e chuveiro de praia sem champô nem amaciador.
Espero um cheiro de profunda maresia tomada ao vento, mas o cheiro a frango assado é a única memória que o meu olfato guarda do momento em que abri a porta do veículo.
Animais de vocação universal, mais apreciados quando assados do que quando vivos, relembram-nos que dificilmente há peixe neste mar infestado de pranchas e tubarões pretos, apesar das esforçadas tentativas dos esporádicos pescadores de cana, que vão petrificando nas rochas salientes e desajeitadas nas baías do Baleal.
Mas no mar cheira a vento, maresia e imensidão em tarde de maré vazia, que se estende para norte até o horizonte se fechar em persianas de neblina, impossíveis de perfurar sem camaras de alto zoom.
Os pescadores de linha estarão afinal à pesca de surfistas?
A travessia para a ilha sobre uma passadeira de cimento, areal a ocidente e a oriente, é a melhor aproximação possível ao monte St. Michel nacional, com um infundado receio de que as marés nos persigam e varram o areal, os automóveis, os mirones e os surfistas.



Em dia de campeonato mundial de surf não há ondas nem marés indomáveis, mas o ambiente na falsa ilha mantém o glamour bretão de um qualquer início de século vinte, especialmente porque a estalagem, a casa das marés, é um nome tendencioso, porque desperta memórias cinéfilas, um casal de estrangeiros com os pés descalços e calças de bainhas arregaçadas debruçadas na esplanada com vista para a muralha arruinada e para as ermidas que evocam as reminiscências piscatórias locais (antes da invasão dos tubarões pretos de pés descalços).
Insistimos em transgredir pelo sentido proibido atravessado nas traseiras da ilha e o risco compensou.
Pássaros, ondas a sério e uma visão única de uma das últimas fronteiras do Império: Berlengas e o seu farol civilizacional, umas milhas a Ocidente do mar, revelam-nos que ainda somos uma potência marítima, bem para além dos limites e das amarras da mãe-terra.
Enquanto me lambuzava com o vento batido sobre as ondas, com o repentino orgulho nacionalista e atlântico e com uma vista sobre o horizonte recortado na rocha, nas verdadeiras ilhas para estômagos fortes, apercebo-me que se aproxima, saído de um quintal, de uma marquise de casa térrea e alugada, um suíço continental de brinco na orelha, chapéu de coco verde na cabeça, calções aos quadrados e prancha rosa choque.
Indiferente à paisagem e às nossas arrebatadoras vocações!

Malditos! 


sábado, 23 de março de 2013

Surf In L.E.Ç.A


 
O inverno é psicológico, esta é a filosofia de surfista! Nada no ambiente envolvente nos remete para um qualquer spot famoso; sol, calor, biquínis ou mesmo ondas torneadas
Absolutamente nada me faria pensar nas dezenas de golfinhos humanos das cristas geladas do mar de Leça que espreitavam por cima de uma espuma cinzenta, um mar que se adivinha baço e opaco como o Inverno que se encrespa nas ondas de principiante lamacento.


O desolador areal amarelado e abandonado à agreste nortada de um tempo impio, contrasta com a agitação marítima, confusa e sem nitidez, escura como o mar de breu.
Deserto e Oceano, atravessar o deserto para atingir o mar.
Com os pés afundados nas pegadas frescas da areia solitária, faço contas de cabeça e procuro os mais rebuscados simbolismos na indómita profecia bíblica.
As duas facetas, dia e noite do mesmo fim de tarde
Sem purgatório, diretamente da areia para as trevas, a escolha dos donos das pranchas é inequívoca
As muralhas do porto impedem que as ondas fujam para o abrigo sereno.
Se calhar é por isso que há surfistas em Leça!
De volta à terra firme, sem areias movediças nem rochas, as luzes do farol indicam-nos um caminho mais seco e seguro!