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sábado, 10 de novembro de 2012

Machu Picchu – Os três níveis da vida






Se deus quiser, amanhã de manhã os relâmpagos e a chuva já se deitaram e o sol intihuapa vai estar lindo e brilhante”
No santuário, entregam-se oferendas e fazem-se sacrifícios ao Huaiana Picchu, para que a bonança se sobreponha à tempestade, os relâmpagos sucumbam ao arco-íris…
Um festim medonho, pernas de cordeiro em forma de guisado, abundantemente regado a vinho tinto chileno cor de sangue e pisco sour para os sacerdotes celebrarem a mãe natureza.
Às seis horas da manhã do dia seguinte, o céu estava azul sobre as montanhas da cidade perdida e línguas de névoa (o espírito do cordeiro) invadiam docemente as ruínas…
Silêncio profundo no manto verde e montanhoso, um puma que não tem pressa de acordar, uma sonolenta vida terrena, concluímos nós.
Na precoce manhã, a vida subterrânea serpenteia o vale lá em baixo, um inquieto rápido sobre a forma de serpente, e, qualquer que seja o angulo, ela cerca-nos sem descanso.
Os milhares de pássaros andinos, não são deus na terra ou condor no ar, mas agitam-se incessantemente entre as ruínas de pedra, seus ninhos celestiais.
Machu Picchu é a terra dos pássaros, prova indiscutível que esta é uma terra de deuses.
O puma imaginado na pedra não reage, nem na temperada manhã, nem após o repovoamento do lugar, umas horas depois.
Este não é pois, definitivamente um lugar terreno.
Também Bihram teve dificuldade em reconhecer este local como uma terra de homens, tais as dificuldades em achá-lo, em alcança-lo, em domá-lo, em entendê-lo…
Aí, as serpentes da selva e o serpentear do rio fizeram-no pensar que não haveria vida para além dos símbolos da morte inca, apenas vida subterrânea, incompreendido pelos nativos e fustigado pelas chuvas torrenciais.
Não há pois, aparentemente, estágios de vida intermédios na cidade perdida!
Às nove da manhã, uma mulher de hispanidade ambígua chorava copiosamente diante da visão arrebatadora da cidade redescoberta e soltava lágrimas, tão abundantes e inquietas quanto os rápidos do rio urubamba, para o telemóvel gasto pelo tempo e pela espera:
“Estou muito emocionada. Já cheguei, graças a ti!”
Não entendemos mas parecia profundo, uma espécie de desfibrilhador emocional.
Cinco horas depois do nosso primeiro olhar, com os nossos olhos pejados de uma paisagem suprema, olhámos por detrás do ombro esquerdo, numa lógica de despedida emocionada e silenciosa (havia malta jovem sentada em posição yoga e estados avançados de transe).
E, de repente, pareceu-me (não, tenho a certeza) que, na encosta por detrás das ruinas, o desenho do puma – símbolo da vida terrena - e puma animal, agitou-se de forma súbita, exibiu a sua enérgica posição de fera ao ataque…e ter-se-ia lançado sobre a multidão extasiada…se não fosse apenas uma interpretação pouco plausível, nem uma lenda sequer, e de pedra
Afinal, mesmo que tardiamente reconhecida, machu picchu revelou-se um sagrado lugar terreno.
Prova de puma!
Invulgar, extraordinária, mas terrena.
Abandonei as ruínas da sagrada cidade perdida, convencido que entre mim e o puma poderia ter nascido uma linda amizade!
Se ele tivesse renascido da lenda como um ser real.
Seria?
Num local como este, os meus olhos e o meu cérebro são incapazes de destrinçar (falta de discernimento total) entre o que acontece e aquilo que nós pensamos que está a acontecer.
Cinco horas em Machu Picchu, muito melhor que qualquer realidade!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Rail to Machu Picchu


Vistadomme desce o vale estreito a um ritmo descontrolado de mais de 20 km/h.
E o vale estreita e aproximamo-nos das paredes de uma vegetação mais densa, adivinha-se a selva amazónica por detrás dos picos, para onde o rio urubamba se despenha, ora alargando ora encolhendo, conforme o espaço que a montanha lhe concede.
Os rápidos não desarmam, uma ansiedade irreprimível de chegar ao grande rio Amazonas.
Vistadomme desce ao ritmo da música espiritual andina e persegue a corrente do rio, sem êxito.
Na última curva do rio, águas calientes espreme-se no fundo de um entroncamento de desfiladeiros, como uma terra de múltiplas fronteiras: a selva amazónica, a cidade perdida nos cumes inacessíveis e o caminho de fuga de um dos últimos “ultimo” inca em direção a villacamba nos seus exílios lunares, enquanto o seu mundo de bronze se desmoronava a sul e a norte, a leste e a oeste e nascia um mundo de um só deus…


A linha férrea semiabandonada que trespassa o vale e o povoado entre pizzerias, lojas de souvenirs e hostels de mochileiros, submergindo a estrada inexistente, que já se afundara no vale sagrado recorda-nos que, depois de águas calientes só resistem os bravos do pelotão!
Bom, consideremos que esta é uma visão fantasiosa, mas reconfortante.
Enquanto habituo a minha visão à baixa altitude (afinal de contas estamos a pouco mais de 2,000 metros) e à agitação multidireccional (porque vem de todos os lados, culturas e latitudes) despejada em rápidos de seres humanos à procura de um momento de comunhão sobrenatural com a mãe natureza, invadem-me perigosas alucinações.
Vindo da selva, escapa-se primeiro um rasto de fumo a sobrevoar os telhados de zinco (uma gata nos telhados de zinco?), depois a aparição de um longo e ruidoso comboio a abarrotar de madeiras preciosas, culturas tropicais, indígenas e metais preciosos, que invade o fundo da rua dos souvenirs, e se aproxima velozmente da nossa visão grande angular…
E ninguém parece estranhar…
Um fantasma (será a sua transparência, sinónimo de imortalidade?), de manco inca pulverizado de ouro, chapéus altos e tecidos garridos, puxa do apito, impassível mas obstinado, rio acima em direção ao vale sagrado.


Começou a subida alucinante para a cidade perdida!

sábado, 3 de novembro de 2012

Ollantaytambo, o templo do Sol


Aqui, envolvido pelos terraços de Moray, circulo perfeito de terraços agrícolas, laboratório agronómico inventor de espécies, percursores da batata e da agricultura biológica…
Aqui, sobre a encosta de Maras, onde os pacientes incas esperaram que o sal brotasse das entranhas da montanha e o tratavam como o sal de mar (as) …
Aqui, debruçado sobre o rio sagrado, enquanto o divino sol se despede do vale, por detrás do ocidente, para lá de Machu Picchu…

Aqui, na encosta do templo sagrado de Ollantaytambo, onde me imagino sentado no trono do inca a venerar o sol que nasce na montanha a leste, e o Deus de todos os deuses esculpido na pedra…
Aqui, na varanda do quarto do hotel rio sagrado, embalado pela música da corrente do rio, pelos pássaros que enfeitam os mantos de escuridão que nos invade, e pelo eco do apito do comboio que regressa de Machu Picchu a Cusco…
Aqui, converto-me sem condições ao ciclo da religião inca:
Uiracochan – imagem do criador do céu e da terra
O Sol e a Lua
A manhã e a tarde
O verão e o inverno
O raio e as nuvens
A chuva e o granizo
A terra e o mar
O rio e as árvores
O puma
O homem e a mulher
Deus de todas as coisas
A alimentação do povo
….
Com algumas pequenas imprecisões de teor andino!
Cientistas e agrónomos, arquitetos e sacerdotes cheios de penas coloridas, observadores e planeadores sem referências de civilizações vizinhas, um povo normalmente obediente, de tanto agradarem aos elementos sagrados da natureza se esqueceram que nem todos os estranhos barbudos que não tomavam banho todos os dias, eram deuses enviados à terra…
E tramaram-se!
Mas foi uma pena.